Curiosidades

De chuva de diamantes a megafuracões, os extremos do clima em outros planetas

Em Vênus, por exemplo, a temperatura pode chegar a 460º C e tem neve feita de restos de basalto e geada de metais vaporizados

08/09/2019
De chuva de diamantes a megafuracões, os extremos do clima em outros planetas
Podemos reclamar do clima, mas no espaço as condições podem ser extremas Foto: NASA/Getty Pictures / BBC News Brasil
Muitas vezes reclamamos do clima, principalmente quando eventos extremos se tornam cada vez mais comuns aqui na Terra.   E se passássemos nossas férias lutando com ventos que chegam a 8.000 km/h ou temperaturas quentes o suficiente para derreter o chumbo?  

O clima, bom ou ruim, é um elemento permanente em nosso planeta - mas lá fora, nas profundezas do espaço, pode ser ainda mais intenso. Aqui estão alguns exemplos:

[caption id="attachment_3235" align="aligncenter" width="940"] Temperaturas extremamente quentes ou congelantes em outros planetas podem tornar a vida insuportável
Foto: Getty Images / BBC News Brasil[/caption]

Vênus infernal

Vamos começar perto de casa, com nosso vizinho Vênus, o lugar mais inóspito do sistema solar.

 

Basicamente, Vênus é um buraco apocalíptico. Lar de uma atmosfera densa, composta principalmente de dióxido de carbono, a pressão atmosférica em Vênus é 90 vezes maior que a da Terra.

 

Essa atmosfera retém grande parte da radiação solar, o que significa que as temperaturas em Vênus podem chegar a 460° C - você seria esmagado e fervido em segundos se colocasse os pés ali.

[caption id="attachment_3236" align="aligncenter" width="940"] Netuno congela nuvens de metano e os ventos mais violentos do sistema solar
Foto: Getty Images / BBC News Brasil[/caption]

Mas se isso não parecer doloroso o suficiente, a chuva em Vênus é composta de ácido sulfúrico extremamente corrosivo, que queimaria gravemente a pele ou o traje espacial de qualquer viajante interestelar, caso chegasse à superfície.

 

Devido às temperaturas extremas do planeta, essa chuva evapora antes de tocar o solo.

 

Ainda mais bizarro: há "neve" em Vênus. Não é do tipo com a qual você poderia fazer guerra de bolas de neve: esse material é composto dos restos de basalto e geada de metais vaporizados por sua atmosfera.

 

Netuno turbulento

Por outro lado, temos os planetas gigantes de gás, Urano e Netuno.

[caption id="attachment_3237" align="aligncenter" width="940"] O HD189733b, eclipsado por sua estrela, é candidato a ter o clima mais extremo conhecido em qualquer planeta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil[/caption]

Este último, nosso planeta mais distante, abriga nuvens congeladas de metano e os ventos mais violentos do sistema solar.

 

Por causa da topografia do planeta, que é bastante plana, não há nada para diminuir a velocidade desses ventos supersônicos de metano, que podem atingir velocidades de até 2.400 km/ h.

 

Além de poder ouvir a barreira do som quebrando, uma visita aqui também incluiria chuva de diamantes, graças ao carbono na atmosfera sendo comprimido.

[caption id="attachment_3238" align="aligncenter" width="940"] Existem planetas semelhantes em tamanho e massa à Terra que orbitam estrelas menores de "anã vermelha"
Foto: Getty Images / BBC News Brasil[/caption]

Mas você não precisaria se preocupar em ser atingido por uma pedra caindo, pois já teria sido congelado instantaneamente - a temperatura média é de -200° C.

 

Planetas fora do sistema solar

Os exoplanetas estão localizados fora do nosso sistema solar e orbitam em torno de um sol.

 

Tom Louden, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Warwick, no Reino Unido, é uma espécie de meteorologista intergaláctico. Seu trabalho é descobrir quais são as condições atmosféricas em outros planetas.

 

Sua especialidade são exoplanetas, particularmente um batizado de HD 189733b.

 

Este mundo azul profundo a 63 anos-luz de distância é um bom candidato para hospedar o clima mais extremo conhecido em outro planeta.

 

Pode parecer bonito, mas suas condições climáticas são cataclismaticamente terríveis.

 

Com ventos de 8.000 km/ h (os mais fortes registrados na Terra têm pouco mais de 400 km/ h), também é 20 vezes mais próximo do sol do que nós, com temperatura atmosférica de 1.600 ° C - a mesma de lava derretida.

 

"As rochas do nosso planeta seriam vaporizadas em líquido ou gás aqui", diz Louden. E também chove vidro derretido. Lateralmente.

 

Há algum lugar habitável por aí?

Louden diz que existem planetas semelhantes em tamanho e massa à Terra que orbita estrelas anãs M menores, ou "anã vermelha".

 

Essas são as estrelas mais comuns da Via Láctea, mas se escondem nas sombras, muito escuras para serem vistas a olho nu da Terra.

 

Se esses planetas são habitáveis ou não é outra questão.

 

Muitos desses exoplanetas estão de fato na "zona Cachinhos Dourados", que não é nem muito próxima nem muito longe do Sol. Infelizmente, é provável que muitos também estejam "ordenadamente travados" em sua estrela.

[caption id="attachment_3239" align="aligncenter" width="940"] Modelos de computador mostram fortes ventos com força semelhante à de um furacão, movendo-se de um lado para o outro em exoplanetas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil[/caption]

Isso significa que eles sempre têm o mesmo lado voltado para o objeto em que estão orbitando - assim como o mesmo lado da Lua sempre é virado para a Terra.

 

Por esse motivo, você terá um lado com luz do dia permanente e o outro, noite perpétua.

 

"Quando você cria modelos de computador, há ventos fortes se movendo do dia para o lado escuro", diz Louden.

 

"Isso é uma consequência do efeito de travamento das marés. Um lado do planeta fica muito mais quente que o outro, então ventos fortes são uma conseqüência quando o planeta tenta redistribuir o calor", diz ele.

 

"Qualquer água líquida do lado do dia evapora em nuvens, que são sopradas para o lado noturno, onde congelam e nevam. Você tem um lado que é deserto e outro que é ártico."

 

Mas Louden diz que essas são apenas previsões de modelos e outros especialistas estão mais otimistas sobre a vida em exoplanetas que sofrem influência da maré.

 

Ingo Waldmann, professor de planetas extrasolares da UCL, disse à BBC News que, se existir uma atmosfera espessa o suficiente, a circulação do dia para a noite deve ser suficiente para impedir que a noite fique totalmente congelada.

 

Outros modelos sugerem que a água que evapora no ponto mais quente do dia se condensará em nuvens e formará uma cobertura permanente de nuvens no lado do dia.

 

Essas nuvens poderiam refletir o suficiente da radiação da estrela de volta ao espaço para diminuir a temperatura do planeta e tornar habitáveis partes do dia.

 

Então, até encontrarmos condições habitáveis fora do planeta Terra, realmente não haverá lugar como nosso lar.