Economia e Negócios

Inflação: BC cita alta de commodities e crise hídrica para descumprimento da meta

IPCA fechou o ano de 2021 a 10,06%, superando o teto estabelecido de 3,75%

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 11/01/2022
Inflação: BC cita alta de commodities e crise hídrica para descumprimento da meta
Foto: Amanda Perobelli
Banco Central enviou uma carta, nesta terça-feira (11), ao Conselho Monetário Nacional (CMN) após a divulgação de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação do país, encerrou 2021 a 10,06%, resultado bem acima do teto da meta de 3,75%. Assinada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelo procurador-geral do BC, Cristiano Cozer, o documento elenca a pressão sobre o preço das commodities, a bandeira de energia elétrica de escassez hídrica e os gargalos nas cadeias produtivas globais como os principais responsáveis para a inflação ter encerrado o ano passado em dois dígitos. “As pressões sobre os preços de commodities e nas cadeias produtivas globais refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens e impulsionada por políticas expansionistas”, diz o texto. “De fato, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, acrescentou a entidade. Campos Neto também apontou os principais “vilões” para a inflação ter encerrado 2021 tão acima do estipulado. O presidente do BC mostrou que os preços de gasolina, gás de botijão e energia elétrica residencial subiram 47,49%, 36,99% e 21,21%, respectivamente. Somados, eles representam 3,72 pontos percentuais da inflação de 10,06%. O preço do etanol subiu 62,24%, acima dos demais combustíveis, refletindo também a quebra na safra de cana-de-açúcar. Esse aumento contribuiu 0,41 ponto percentual para a variação do IPCA. Abaixo dos combustíveis, os componentes que mais alavancaram a inflação foram os bens industriais (e 2,75 p.p.) e de alimentação no domicílio (1,25 p.p.), e a alta dos preços de serviços de 4,75%, que contribuíram 1,72 p.p. para o índice negativo. “O principal fator para o desvio de 6,31 p.p. da inflação em relação à meta adveio da inflação importada, com contribuição de 4,38 p.p., cerca de 69% do desvio”, afirmou Campos Neto. Segundo o comunicado, a crise nas cadeias produtivas globais tiveram forte impacto na inflação mundial, e não somente na que assola o Brasil. “As cadeias produtivas globais apresentaram importantes gargalos ao longo de 2021, como esgotamentos de estoques de insumos, escassez de semicondutores e aumentos de prazos de entrega e de preços dos fretes internacionais”, diz a carta. “Pelo lado da demanda, as mudanças significativas no padrão de consumo causaram aumento da procura por bens industriais. Ao mesmo tempo, a oferta não reagiu tempestivamente em ritmo suficiente para atender à nova demanda”, acrescenta. Atualmente, a Taxa Selic está a 9,25% ao ano, após elevações progressivas do Copom para frear a inflação em 2022. As projeções para este ano rondam a casa dos 5%, com pequenas variações para cima ou para baixo, mas ainda superior à meta de 2022 do governo, de 3,5%, e rondando o teto, de 5%. Vale ressaltar que o CMN, órgão ao qual a carta do BC foi endereçada, é quem define as metas de inflação e tem como chefe o ministro da Economia, Paulo Guedes. O conselho é composto ainda pelo presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto) e pelo secretário Especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Pedro Colnago Junior.