Economia e Negócios
PIB cresce 0,1% no 3º tri: o que explica a variação e o que esperar de 2024
Apesar de ser uma pequena variação, o resultado superou expectativas dos analistas, que era de uma queda média de 0,2% nessa base de comparação.
A economia brasileira subiu 0,1% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores, informou nesta terça-feira (5/12) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de ser uma pequena variação, o resultado superou expectativas dos analistas, que era de uma queda média de 0,2% nessa base de comparação.
Ao contrário do esperado, trata-se da terceira taxa positiva consecutiva e deixa o PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) no maior patamar da série histórica.
De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,2%, na comparação com mesmo período do ano passado.
O resultado trimestral é explicado, segundo o IBGE, pelo avanço registrado na indústria e em serviços (0,6% para ambos), no lado da oferta.
Ao mesmo tempo, a agropecuária caiu 3,3% – segundo os dados revisados, foi a primeira queda da atividade após cinco trimestres com taxas positivas. O setor tinha sido o motor do crescimento acima da média no começo do ano, registrando uma alta de mais de 20% de janeiro a março.
Na ponta da demanda, houve queda de 2,5% nos investimentos em relação ao segundo trimestre, e alta no consumo das famílias (1,1%) e do governo (0,5%).
'Forte crescimento chegou ao fim'
Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, embora o resultado do PIB tenha vindo melhor que o esperado, "não acho que seja algo a se celebrar".
"Basicamente estamos vendo uma desaceleração da economia", ela diz à BBC.
Veronese destaca, entre os pontos positivos do resultado do trimestre, o consumo das famílias, com aumento superior a 1%. "Pode ser reflexo dos programas de transferência de renda, do aumento do Bolsa Família, mas também mostra um mercado de trabalho aquecido, com desemprego baixo".
Outro ponto positivo, diz ela, é o setor de serviços, que está em patamar recorde, acima do nível pré-pandemia.
Já entre os pontos negativos, ela cita a desaceleração na agropecuária e a quarta queda consecutiva na formação bruta de capital fixo - indicador que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos.
Para 2024, Veronese prevê um crescimento do PIB próximo de 1,5%.
Segundo análise de William Jackson, economista-chefe de Mercados Emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, apesar do avanço de 01%, "o panorama geral é que o forte crescimento observado no primeiro semestre do ano chegou ao fim".
A consultoria, que previa uma retração de 0,5% no trimestre, diz que "é difícil prever o que acontecerá no quarto trimestre, dada a volatilidade da produção no setor agrícola".
"Pensamos que a economia está entrando numa fase de crescimento mais fraco – mais semelhante às taxas de crescimento registradas nos anos anteriores à pandemia, de 1,0 a 1,5%", diz a análise.
O economista André Perfeito, que foi economista-chefe da Necton Investimentos, o resultado surpreendeu principalmente "pelo comportamento melhor que o esperado para serviços e indústria" — setores com grande peso no valor do PIB.
Ele diz que o resultado do agro "nem dá para ser considerado uma queda de fato", já que "na comparação anual o setor sobe robustos 8,77%".
Perfeito também chama atenção para "o resultado positivo do setor externo, que ajudou nas contas nacionais". Ele cita o recuo de 2,14% nas importações no trimestre, e avanço de 3,95% nas exportações.
"Na comparação anual, as importações caem 6,14%, enquanto as exportações sobem 9,99%", afirma.
"O resultado benigno do PIB reitera nosso cenário de alta de 3% (pelo menos) este ano e de 2% o ano que vem", afirma Perfeito sobre suas expectativas.
Taxa de juros
"A dissipação do choque positivo na agricultura e o arrefecimento da demanda interna explicam em grande parte o enfraquecimento do PIB neste semestre", analisou a XP em relatório na manhã desta terça-feira, antes da divulgação do resultado.
"Esse cenário reforça o espaço para o Banco Central continuar cortando as taxas de juros nos próximos meses", seguiu a XP na avaliação.
O banco de investimentos previa uma queda de 0,2% frente ao trimestre anterior (1,8% de alta ano contra ano).
Desde agosto, o BC começou uma redução da taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual em cada uma de suas reuniões, até chegar aos atuais 12,25%. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está marcada para os dias 12 e 13 de dezembro.
Desde o trimestre anterior, os analistas já se perguntavam: o melhor momento da economia brasileira sob Lula ficou para trás? O motivo é que a maioria das análises prevê um PIB menos vigoroso para 2024 do que o de 2023.
Na mais recente edição do Boletim Focus do Banco Central, os economistas e instituições ouvidas esperam uma alta de 1,5% do PIB em 2024, contra 2,84% em 2023.