Mundo
75 anos após a bomba de Hiroshima, a ameaça nuclear ressurge em um novo tabuleiro geopolítico
Enquanto Trump e Putin desmantelam a rede de tratados de controle de armas nucleares, o surgimento de novas potências como a China desenha um cenário mais instável para o planeta
Passo a passo, o sistema de segurança criado no período final da Guerra Fria por Washington e Moscou está se desintegrando. O fim, no ano passado, do histórico Tratado de Controle de Armas Nucleares de Alcance Intermediário (INF), assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, foi o início de uma nova era. Hoje, Washington e Moscou não limitam mais o armazenamento, teste ou implantação de mísseis terrestres de alcance intermediário ( entre 500 e 5,5 mil quilômetros).
Washington também decidiu abandonar o Tratado de Céus Abertos, que permitia voos de inspeção para fomentar a confiança entre os países. E o presidente Trump ainda indicou que não renovará o Novo START, o último grande tratado de controle de armas nucleares entre Washington e Moscou, a menos que a China também aceite se vincular às limitações impostas pelo acordo. Sem ele, não haverá tratado algum que controle os dois maiores arsenais nucleares do mundo. O acordo expira em fevereiro, pouco depois da posse do ganhador das presidenciais americanas marcadas para novembro.
[caption id="attachment_24550" align="alignnone" width="300"] ATOMIC BOMB HIROSHIMAA photographer in front of the remains of the Urakami (St. Mary's) Cathedral in Motoomachi, Nagasaki. The atomic bomb that fell on Nagasaki on August 9, 1945 detonated in Urakami only 500 m (1,640 ft) from the cathedral, completely destroying it. As the Feast of the Assumption of Mary (August 15) was near, well attended mass was held. The resultant collapse and heat-wave cindered and buried all those present in the Cathedral. Hiroshima, Japan.
October 1945
ATOMBOMBE HIROSHIMA
Ein Fotograf vor den Resten der Urakami (Marien-) Kathedrale in Motoomachi, Nagasaki. Die Atombombe, die am 9. August 1945 über Nagasaki abgeworfen wurde, detonierte in Urakami, nur 500m von der Kathedrale entfernt und zerstörte sie völlig. Da das Fest von Mariä Himmelfahrt nahe war (15. August), wurde gerade ein gut besuchte Messe gelesen. Der Einsturz des Gebäudes und die Hitzewelle verwandelte alle Anwesenden in Asche und begrub sie. Hiroshima, Japan.
Oktober 1945[/caption]
Trump fez da assinatura de um acordo nuclear com a Rússia e a China uma prioridade, mas Pequim até agora rejeitou os convites para participar do debate. A responsabilidade dos Estados Unidos de liderar o controle e a eliminação progressiva de armas nucleares, como primeiro e único país a tê-las usado, baseou a política nuclear de Washington desde o início. Durante mais de 60 anos, presidentes de ambos os partidos, de Eisenhower a Obama, tentaram reduzir o arsenal de armas nucleares e as possibilidades de serem utilizadas. Mas o presidente Trump, como em tantas outras áreas, rejeitou os vínculos históricos. Apenas dois meses atrás, Marshall Billingslea, o principal negociador norte-americano para acordos de controle armamentista, confirmou que a Administração estudou a realização do primeiro teste nuclear desde 1992. “A possibilidade de a Administração Trump retomar os testes de armas nucleares é tão temerária quanto perigosa”, disse Joe Biden, adversário democrata de Trump.
A evaporação destes tratados, combinada com o surgimento de novas potências nucleares como a China, desenha um cenário mais instável e com menos limites, no qual as novas armas tecnológicas desempenham um papel destacado. Robôs assassinos, mísseis hipersônicos e armas cibernéticas se juntam à corrida, como evidenciou o preciso ataque norte-americano com um drone que matou o general iraniano Qasem Soleimani em Bagdá nos primeiros dias deste ano.
Putin já anunciou novas armas hipersônicas, que viajam a pelo menos cinco vezes a velocidade do som, muito mais difíceis de rastrear e interceptar. Moscou garante que seu sistema estratégico Avangard, que descreve como uma de suas “armas invencíveis” e que é composto por um foguete balístico intercontinental equipado com ogivas que podem ser manobradas em planos verticais e horizontais e mudar de rumo “já está em serviço”. A Rússia afirma que pode voar em 15 minutos para o território norte-americano. Além disso, garante que já estão quase prontos seus mísseis de cruzeiro hipersônicos antitanque Zirkon, que podem ser implantados em navios de superfície, atualmente na fase final de testes, de acordo com o Ministério da Defesa. Assim como seu drone nuclear submarino Poseidon, projetado para ser transportado por submarinos, embora especialistas ocidentais tenham questionado o quão avançado está o desenvolvimento desse tipo de armas.
Também os EUA, China, Índia, Japão e outros países estão desenvolvendo mísseis hipersônicos. E a corrida armamentista tem um novo campo de batalha: o espaço, onde as duas históricas potências se acusam mutuamente de testar armas.