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Conflito entre Israel e palestinos: violência na Cisjordânia agrava tensão na crise
A escalada do conflito entre palestinos e israelenses chegou à Cisjordânia cinco dias após o início de uma onda de violência na região
A escalada do conflito entre palestinos e israelenses chegou à Cisjordânia cinco dias após o início de uma onda de violência na região.
O que começou na segunda (10) como uma série de tumultos contra o despejo de famílias palestinas de um bairro de Jerusalém Oriental evoluiu para um confronto entre grupos palestinos na Faixa de Gaza e as forças de defesa israelenses, se espalhou para dentro do território israelense, com violência entre civis de ambos os lados, e atingiu a Cisjordânia.
Jovens palestinos entraram em confronto com militares israelenses em diferentes cidades na Cisjordânia, que assistiu a protestos violentos nesta sexta.
Os palestinos atiraram coquetéis molotov, enquanto as forças de defesa de Israel usaram gás lacrimogêneo, balas de borracha e reais.
Poucas vezes nos últimos anos viu-se uma situação como a atual, em que a violência está espalhada por praticamente todo o território simultaneamente, diz o correspondente para assuntos de diplomacia da BBC, Paul Adams. O quadro é o mais grave pelo menos desde 2014.
Os palestinos estão há décadas territorialmente divididos. Uma parte está na Faixa de Gaza, na costa do Mediterrâneo, e outra está na Cisjordânia, na fronteira com a Jordânia. A geografia atual da região é resultado de anos de conflito, em que Israel passou a anexar áreas previstas para o Estado palestino conforme o plano de partilha feito pela ONU em 1947.
Com o tempo, Gaza e Cisjordânia foram se distanciando em termos políticos e administrativos. A primeira é hoje governada pelo grupo islâmico Hamas, enquanto a segunda é liderada pelo partido laico Fatah.
Desde o início da semana, o Hamas vem lançando mísseis em direção ao território israelense em resposta ao despejo de famílias palestinas de Jerusalém oriental. As forças de defesa de Israel, por sua vez, têm bombardeado edifícios usados pelo Hamas.
Há mortes de civis de ambos os lados. O número de vítimas entre os palestinos, contudo, é significativamente maior, já que Israel dispõe de um robusto arsenal militar, que inclui um sistema de defesa aéreo antimísseis batizado de Iron Dome ("cúpula de ferro").
Até esta sexta, 10 palestinos haviam morrido na Cisjordânia e centenas estavam feridos. 122 morreram em Gaza e 8 em Israel.
A violência não deve arrefecer nos próximos dias, como afirmou em entrevista à BBC Mark Regev, conselheiro do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu
"Nós não queríamos esse conflito, mas agora que ele começou precisa acabar com um período sustentado de calma, que só será alcançado quando Israel derrubar o Hamas, sua estrutura militar, comando e controle, sua rede de comunicação, seu arsenal."
A analista política Nour Odeh, por sua vez, que já foi porta-voz da Autoridade Palestina, afirmou que é preciso considerar o contexto mais amplo.
"Não podemos apenas dizer que o Hamas precisa parar de atirar foguetes. Temos que fazer as perguntas difíceis. Até quando Israel vai continuar a manter Gaza sob sítio?", diz ela, referindo-se ao bloqueio econômico e comercial colocado por Israel desde que o Hamas assumiu o poder, em 2007.
Com o controle minucioso da entrada de produtos agrícolas, materiais de construção e medicamentos, organizações como a Anistia Internacional já classificaram a situação em Gaza como uma crise humanitária.
O estopim
A nova onda de violência na região eclodiu a partir da ameaça de despejo de famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, que fica fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém.
A área em que hoje vivem as famílias é reivindicada por grupos de colonos judeus em tribunais israelenses.
Há décadas israelenses têm ocupado áreas habitadas por palestinos por meio de assentamentos, tanto em Jerusalém Oriental quanto na Cisjordânia. Só nesta última, são cerca de 430 mil colonos israelenses distribuídos entre 132 assentamentos.
Essas colônias são consideradas ilegais pela lei internacional. Em pelo menos seis ocasiões desde 1979 o Conselho de Segurança da ONU reafirmou que elas são "uma violação flagrante da legislação internacional". A última delas foi em 2016 - o documento oficial também menciona Jerusalém Oriental.
Já Israel defende as iniciativas argumentando que se trata de uma estratégia de defesa de sua integridade, e não de uma tentativa de tomada da soberania palestina.
Esse é um dos pontos mais contenciosos das negociações de paz na região e ajuda a explicar porque o atual conflito era inevitável, segundo o editor da BBC para o Oriente Médio, Jeremy Bowen.
O fato de o conflito ter desaparecido das manchetes internacionais nos últimos anos, diz ele, não significa que tenha acabado. É uma ferida aberta no coração do Oriente Médio, que gera ódio e ressentimento que atravessa não apenas os anos, mas gerações.