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Putin se declara vencedor na Rússia: por que seu novo mandato nunca esteve ameaçado
Os resultados oficiais ainda são escassos, mas a pesquisa de boca de urna projetou uma vitória com enorme folga, 87% dos votos - o que não é nenhuma surpresa
O presidente Vladimir Putin se declarou vencedor das eleições presidenciais na Rússia neste domingo (17) e afirmou que seu quinto mandato fará o país mais forte durante discurso em seu centro de campanha em Moscou.
Os resultados oficiais ainda são escassos, mas a pesquisa de boca de urna projetou uma vitória com enorme folga, 87% dos votos - o que não é nenhuma surpresa.
Desde o anúncio de sua candidatura, o Kremlin garantiu que Putin não tivesse nenhum adversário com chances de derrotá-lo, por isso era certo que ele garantiria um novo mandato por uma vitória esmagadora.
Aos 71 anos, Putin já governou a Rússia por mais tempo do que qualquer governante desde o ditador soviético Josef Stalin, que passou quase 31 anos no poder.
Ele é efetivamente presidente da Rússia desde 2000, além de ter passado quatro anos como primeiro-ministro devido ao limite de dois mandatos imposto pela Constituição russa.
Desde então, mudou as regras para ter caminho livre para concorrer novamente em 2024, “voltando a zero” seus mandatos anteriores. Isso significa que ele também poderá concorrer a outro mandato de seis anos em 2030, quando completará 78 anos.
A votação ocorreu nos 11 fusos horários da Rússia e se encerrou às 20h do horário local (15h do horário de Brasília) no ponto mais ocidental do país, no enclave de Kaliningrado.
Houve também eleição na Crimeia, que a Rússia anexou ilegalmente em 2014, e nas regiões ucranianas ocupadas na guerra iniciada em 2022: Zaporizhzhia, Kherson, Donetsk e Luhansk.
Há relatos de que as autoridades detiveram mais de 74 pessoas em 17 cidades da Rússia por ações de protesto relacionadas com as eleições presidenciais.
Esse número veio do grupo de direitos humanos OVD-Info, que anteriormente afirmou que mais de 50 pessoas tinham sido presas.
A BBC não conseguiu verificar essa informação e não está claro o que motivou as detenções e se elas estão ou não diretamente relacionadas com os protestos do contra Putin.
A estimada alta participação nas eleições e o alto apoio ao presidente devem ser usados por Putin, segundo dos analistas, para agregar legitimidade às suas decisões relativas à guerra contra a Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
A guerra custou a vida de dezenas, se não centenas de milhares de soldados russos.
Outras centenas de milhares de russos, principalmente jovens, educados e de classe média, deixaram o país nos últimos 24 meses, seja porque não concordavam com a guerra ou porque não queriam ser recrutados para o combate.
Mesmo tendo sido excluída da campanha, a guerra é um componente-chave das narrativas midiáticas da Rússia de Putin, cujo embate não é só contra a Ucrânia, mas contra o Ocidente.
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Logo após o discurso da vitória, Putin respondeu a algumas perguntas de jornalistas, inclusive ocidentais.
Ele falou sobre Alexei Navalny, que foi um dos mais importantes opositores de seu governo na última década.
Navalny morreu repentinamente no mês passado em uma colônia penal no Círculo Ártico, com líderes ocidentais e sua família culpando o governo russo pelo ocorrido.
Putin se disse favorável a um suposto acordo que teria sido negociado antes da morte de Navalny: o opositor seria libertado em troca de um prisioneiro russo atualmente na Alemanha.
Comentando sobre o acordo proposto pela primeira vez e aparentemente confirmando sua existência, o presidente russo disse que a única condição seria que Navalny nunca poderia retornar à Rússia.
Vladimir Putin também foi questionado por um jornalista da rede americana de TV NBC, em inglês, sobre Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal detido pela Rússia, bem como pelo político opositor russo Boris Nadezhdin, que foi impedido de concorrer nas eleições.
"Senhor presidente, é isso que o senhor chama de democracia?"
"Isso é a vida", respondeu Putin.
Sobre Nadezhdin, Putin disse que ele não participou da campanha eleitoral devido a um "trabalho insatisfatório" feito por ele antes das eleições, acrescentando que, pelo que ele entende, o opositor não teve votos suficientes para participar da eleição.
Putin então passou a comentar sobre sobre Navalny, mas não se referiu ao jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich.
Gershkovich foi preso no ano passado sob acusações de espionagem, na primeira vez em que Moscou acusou um jornalista dos EUA de espionagem desde a era soviética. Sua detenção foi prorrogada pela quarta vez em janeiro e o final do mês fará um ano desde que ele foi detido pela primeira vez.
Campanha coreografada
Foi numa grande cerimônia de entrega de prêmios militares, em dezembro de 2023, que Vladimir Putin, disse ao público russo que se candidataria novamente à presidência.
"Agora é o momento de tomar decisões. Vou concorrer ao cargo de presidente da Federação Russa", declarou no evento promovido pelo Kremlin.
O líder da Rússia há 24 anos acabara de entregar honras aos soldados que participaram na “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia. Ele conversava com um pequeno grupo quando o comandante de uma unidade pró-Rússia na região ocupada de Donetsk, na Ucrânia, se aproximou dele.
"Precisamos de você, a Rússia precisa de você!", declarou o tenente-coronel Artyom Zhoga, pedindo que Putin concorresse nas próximas eleições presidenciais. Todos expressaram seu apoio.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, descreveu mais tarde a decisão de concorrer como “absolutamente espontânea”. Mas o Kremlin raramente deixa a sua coreografia ao acaso.
Em vez disso, imediatamente a sua bem lubrificada máquina de comunicação social entrou em ação. Em todos os canais estatais, Putin foi promovido como um líder nacional que se manteve acima de quaisquer potenciais rivais.
“O apoio ao presidente transcende o apoio partidário”, relatou um correspondente no noticiário da TV estatal no fim daquela semana. “Vladimir Putin é o candidato do povo!”