Mundo

Biden ordena análise independente de atentado contra Trump; o que se sabe até agora

O presidente Joe Biden condenou a tentativa de assassinato. Ele apelou que todos os americanos denunciem essa violência

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 14/07/2024
Biden ordena análise independente de atentado contra Trump; o que se sabe até agora
Trump é atingido na orelha por um tiro durante comício na Pensilvânia | REUTERS/Brendan McDermid

Donald Trump agradeceu seus apoiadores pelos seus “pensamentos e orações” no seu segundo comentário público desde o atentado que sofreu no sábado (13/7) em um comício na Pensilvânia.

“Foi somente Deus quem impediu que o impensável acontecesse. Não teremos medo, mas em vez disso permaneceremos resilientes em nossa fé e desafiaremos a maldade”, escreveu o ex-presidente em um post no Truth Social.

“Rezamos pela recuperação daqueles que foram feridos e guardamos nos nossos corações a memória do cidadão que foi tão horrivelmente morto”, disse ele, acrescentando que agora é mais importante do que nunca “que estejamos unidos”.


“Eu realmente amo nosso país e amo todos vocês, e estou ansioso para falar com nossa grande nação esta semana em Wisconsin.”

Trump foi atendido em um hospital após a tentativa de assassinato e está bem, segundo um comunicado do Partido Republicano. O ex-presidente está de volta em sua casa em Nova Jersey.

Em vídeos divulgados nas últimas horas, é possível ouvir uma série de disparos enquanto ele discursava no evento na Pensilvânia, o que provocou pânico na multidão.

Trump foi ao chão antes de se levantar novamente e erguer o punho para a multidão com o rosto ensanguentado.

Trump disse que levou um tiro que rasgou a parte superior da orelha direita.

Uma testemunha disse à BBC que viu um homem com uma arma rastejando em um telhado antes de os tiros serem disparados e que tentou alertar a polícia.

O FBI, o serviço de inteligência dos EUA, identificou o atirador como Thomas Matthew Crooks, de 20 anos — ele foi baleado e morto pelo agentes americanos.

Além do atirador, uma pessoa morreu no comício e outras duas ficaram gravemente feridas. As vítimas, cujas identidades permanecem desconhecidas, foram levadas ao Hospital Geral Allegheny após o tiroteio de sábado.

O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, confirmou que o homem que foi morto enquanto estava no comício de sábado é o bombeiro Corey Comperatore, de 50 anos.

Segundo Shapiro, Comperatore foi baleado ao "mergulhar em sua família" para protegê-los do ataque.

O presidente Joe Biden condenou a tentativa de assassinato. Ele apelou que todos os americanos denunciem essa violência "doentia".

Em sua breve coletiva de imprensa neste domingo (14/7), Biden deu três atualizações. A primeira delas é a de que Trump recebeu uma “elevação no nível de segurança” e receberia “todos os recursos disponíveis” para garantir sua proteção.

Biden diz que as medidas de segurança em Wisconsin, onde a Convenção Republicana será realizada a partir de segunda-feira, serão reforçadas.

“Ordenei ao chefe do Serviço Secreto que revisse todas as medidas de segurança”, diz ele.

Por último, Biden diz que ordenou uma revisão independente para apurar o que aconteceu no comício de Trump.

“Compartilharemos os resultados dessa revisão independente com o povo americano”, afirma ele, acrescentando que “devemos unir-nos como uma nação”.

Imagem ilustra distância entre atirador e Trump

Trump diz estar bem e agradece aos agentes de segurança

Um comunicado publicado pelo Comitê Nacional Republicano (RNC) garantiu que Trump "está bem" e agradecido pela ação dos agentes de segurança.

A nota ainda diz que ele pretende estar de volta aos eventos públicos em breve — mais precisamente em Milwaukee, onde ocorrerá a convenção que deverá defini-lo como o candidato do partido às eleições presidenciais de 2024.

'"Como candidato do nosso partido, [ele] continuará a compartilhar sua visão para fazer a América grande novamente [em alusão ao slogan principal de Trump Make America Great Again]", diz a declaração da campanha de Trump e do RNC.

Anteriormente, Trump postou uma declaração no Truth Social, uma rede social que ele ajudou a fundar.

O político agradeceu aos agentes da lei e ao serviço secreto pela "resposta rápida".

"Mais importante ainda, quero apresentar as minhas condolências à família da pessoa que estava no comício e que foi morta, e também à família das outras pessoas que ficaram feridas. É incrível que esse ato possa ocorrer no nosso país", escreveu.

A filha de Donald Trump, Ivanka Trump, postou no X (o antigo Twitter) que reconhece "o amor e as orações" pelo pai e pelas outras vítimas da "violência sem sentido".

"Estou grata ao serviço secreto e a todos os outros agentes da lei pelas ações rápidas e decisivas."

Já Donald Trump Jr compartilhou uma imagem no X de seu pai sendo escoltado para fora do comício na Pensilvânia com o punho no ar e o sangue escorrendo pelo rosto.

Ao lado da imagem está a legenda: "Ele nunca vai parar de lutar para salvar a América."

Trump sendo levado por agentes do serviço secreto americano

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,Trump diz que sentiu a bala "rasgando a pele" ao ser atingido por disparo em comício

A reação de Joe Biden

O presidente Joe Biden divulgou um comunicado, em que expressa preocupação com a "doentia" tentativa de assassinato e diz estar "grato" por saber que Donald Trump está seguro.

"Fui informado sobre o tiroteio no comício de Donald Trump na Pensilvânia. Estou grato por saber que ele está seguro e bem", disse ele.

"Estou rezando por ele e sua família e por todos aqueles que estiveram no comício, enquanto aguardamos mais informações. Estamos gratos ao serviço secreto por tê-lo colocado em segurança."

"Não há lugar para este tipo de violência na América. Devemos nos unir como uma nação para condená-la."

A vice-presidente Kamala Harris também divulgou um comunicado, em que diz estar "aliviada" por Trump não ter ficado gravemente ferido.

"Estamos orando por ele, sua família e todos aqueles que foram feridos e afetados por este tiroteio sem sentido."

Há confirmações de que o presidente Biden conversou diretamente com Trump após o ataque.

Biden

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,Biden ligou para Trump após o ataque

O que se sabe sobre o suposto atirador?

O homem que fez os disparos no comício de Trump foi identificado pelo FBI como Thomas Matthew Crooks.

Sabe-se que ele tinha 20 anos, trabalhava na cozinha de uma casa de repouso, e era de Bethel Park, na Pensilvânia. A cidade fica a 70 km de Butler, o local onde ocorreu a tentativa de assassinato.

Crooks se formou na Bethel Park High em 2022.

As autoridades acreditam que a arma usada para atirar em Donald Trump foi comprada pelo pai de Thomas Crook, informou a agência de notícias Associated Press.

Testemunhas oculares da tentativa de assassinato disseram que viram um homem com um fuzil, que se posicionou em um telhado a menos de 200 metros do ex-presidente.

Esta versão dos acontecimentos pode ser confirmada pelos vídeos que surgiram desde o tiroteio.

Uma dessas filmagens, feita ao sul de um armazém com paredes bege, mostra o que parece ser o corpo sem vida do atirador.

A CBS, parceira da BBC nos Estados Unidos, conversou com um oficial que confirmou que “dispositivos suspeitos” foram encontrados no veículo de Thomas Crooks. Por isso, técnicos de explosivos foram chamados ao local.

O carro foi encontrado perto do comício na cidade de Butler, na Pensilvânia.

O Pentágono confirmou que ele não tinha quaisquer ligações militares.

“Confirmamos com cada um dos ramos do serviço militar que não há afiliação ao serviço militar para o suspeito com esse nome ou data de nascimento em qualquer ramo, componente ativo ou de reserva em seus respectivos bancos de dados”, disse o porta-voz do Pentágono, major-general Patrick S Ryder.

O atirador foi morto a tiros por agentes do serviço secreto. O FBI ainda acrescentou que a investigação segue "ativa e contínua".

Thomas era um jovem branco, de óculos de grau, cabelos lisos e escuros, está sorrindo e vestindo uma caiseta cinza com a bandeira dos Estados Unidos.

CRÉDITO,CBS

Legenda da foto,Thomas Crooks, que atirou contra Trump, no anuário do Ensino Médio

A que distância estava o suposto atirador de Donald Trump?

O agressor abriu fogo com “um fuzil estilo AR-15”, relata a CBS News.

Os serviços de segurança afirmam que um AR-15 foi recuperado do local. No entanto, o FBI diz que não foi possível determinar imediatamente que tipo de arma de fogo o atirador usou ou quantos tiros foram disparados.

Uma imagem feita por um fotógrafo do New York Times, mostra o que parece ser uma bala em pleno voo, passando direto pela cabeça de Trump.

Então, o que sabemos sobre a arma usada no ataque, os danos que pode causar e quão perto Donald Trump esteve da morte?

O AR-15 esteve envolvido em vários tiroteios em massa.

Geralmente dispara um cartucho de 5,56 mm, o padrão da a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), embora possa ser convertido para disparar outros calibres. O AR-15 seria facilmente capaz de matar a essa distância, como evidenciado por uma morte (pelo menos) na multidão.

Segundo o analista de segurança Justin Crump, para que os fuzis de assalto causem o dano máximo “a energia do tiro tem que se dissipar, o que exige uma parada brusca”.

É a transferência de energia, e não apenas o deslocamento físico causado pela bala, que torna os fuzis de assalto tão devastadores.

O fato de a bala ter passado pela orelha de Trump significa que a energia potencial devastadora contida na bala não foi transferida.

No entanto, não deve deixar de causar consequências, de acordo com Crump. “A onda de choque que passou pelo tímpano não terá sido tranquila e pode deixar uma cicatriz”, diz ele.

Se a bala tivesse sido apenas um centímetro para a direita, ou se a cabeça do ex-presidente estivesse num ângulo ligeiramente diferente, toda aquela energia cinética teria sido transferida para ele, com consequências devastadoras.

O que aconteceu durante e após o ataque a Trump?

Donald Trump discursava num evento de campanha em Butler quando um homem armado tentou assassinar o ex-presidente.

A seguir, você confere um resumo de como tudo aconteceu. Todos os eventos horários estão no horário local:

  • 17h00: Horário em que o discurso de Trump estava programado para começar;
  • 18h03: Ele sobe ao palco ao som da música God Bless the USA, de Lee Hazelwood;
  • 18:11: Apenas alguns minutos após o início do discurso, começam os tiros;
  • 18h12: Agentes do serviço secreto cercam Trump antes que ele seja levado para fora do palco. É possível ver que ele tem sangue no rosto;
  • 18h14: A comitiva de Trump deixa o comício;
  • 18h42: O serviço secreto emite um comunicado, confirmando que Trump está seguro e que há uma investigação ativa sobre o incidente;
  • 19h03: A campanha de Trump diz que ele está "bem";
  • 19h45: A polícia confirma que o suspeito está morto, junto com um membro da audiência;
  • 20h13: Biden condena o ataque e diz que está tentando falar com Trump por telefone o mais rápido possível
  • 20h42: Trump compartilha o primeiro relato do que aconteceu. Ele diz que uma bala perfurou a parte superior da sua orelha direita.