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Chamas rápidas e mortais: entenda as causas de incêndio histórico em Los Angeles
Região enfrenta temporada seca, temperaturas acima da média e ventos intensos que fizeram com que chamas tomassem dimensões históricas
Los Angeles está vivendo o pior incêndio de sua história. Mais de cem mil pessoas tiveram que deixar suas casas e cinco pessoas morreram em meio às chamas. O país está no inverno e não é comum que incêndios aconteçam nesta época do ano, mas o clima impulsionou as chamas, tornando-as rápidas e mortais.
Segundo especialistas, o incêndio histórico em meio ao inverno é consequência de extremos do clima, provocado pelas mudanças climáticas. Alguns dos fatores são:
- ➡️ A região passa por uma temporada de seca, com chuvas abaixo da média;
- ➡️ Isso, após uma temporada de chuvas entre 2022 e 2023, impulsionou o aumento da vegetação na região, gerando mais material para ser queimado no contexto atual;
- ➡️ Quase todo o sudoeste americano, incluindo a maior parte da Califórnia, tem registrado temperaturas acima da média nos últimos meses.
Bombeiros combatem o fogo no parque de casas pré-fabricadas Palisades Bowl em Pacific Palisades, Los Angeles — Foto: Ringo Chiu/Reuters
Essa configuração ainda conta com um fator adicional: os ventos de Santa Ana — ventos secos que removem a umidade da vegetação e facilitam o início dos incêndios. De acordo com as autoridades locais, eles chegam a uma velocidade de 160km/h.
O incêndio já é considerado o pior da história de Los Angeles. O governo da Califórnia declarou estado de emergência. Ao todo, 1.900 imóveis foram destruídos, e outros 13.000 foram afetados pelas chamas. Bombeiros atuam no local 24 horas por dia para tentar conter o fogo.
Imagens de satélite mostram que as chamas deixam um denso corredor de fumaça na região. (Veja abaixo)
Imagens de satélite mostram dispersão da fumaça — Foto: Imagem: Reuters
Ainda não se sabe como o fogo começou, mas especialistas explicam que, nessas condições, pequenos focos podem ter transformado o fogo em algo incontrolável. Em Carr, também na Califórnia, em meio à seca, em 2018, o pneu de um trailer estourou, gerando faíscas que resultaram em um incêndio devastador na região.
"A região teve um grande volume de chuva anteriormente que promoveu um crescimento das plantas muito rápido. Só que a seca veio logo em seguida e transformou toda a vegetação em combustível", explica Pedro Camarinha, PhD em mudanças climáticas e pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), no Brasil.
Condições para o fogo
A região da Califórnia vem sendo alvo de incêndios de grandes proporções nos últimos anos, mas raras vezes eles ocorreram no inverno. Segundo o governo americano, apenas seis incêndios florestais queimaram mais de 5 km² em janeiro na Califórnia desde 1984. As chamas que consomem cidades na região hoje já atingiram mais que o dobro dessa área.
🔥 De acordo com os meteorologistas, o incêndio de grandes proporções fora de época está relacionado às condições climáticas enfrentadas pela região.
Antes das chamas, a região passou por dois invernos com chuvas intensas que deixaram cidades alagadas e isoladas entre 2022 e 2023. O excesso de chuva modificou a paisagem na região, aumentando a vegetação.
Na sequência, a Califórnia viveu uma extrema seca, que começou em 2024 e avançou rapidamente. Pesquisas recentes apontam que as mudanças climáticas estão tornando os outonos e invernos na região cada vez mais secos.
Esse cenário fez com que a vegetação que existia ressecasse, ficando vulnerável às chamas.
Somado a isso, a região está mais quente do que deveria, com temperaturas máximas acima da média para essa época do ano há três meses. (Veja o mapa abaixo)
Mapa mostra temperaturas acima da média na região da Califórnia — Foto: Arte/g1
O vento torna difícil conter as chamas
Com esse cenário, a região tornou-se vulnerável ao fogo. Os primeiros registros de incêndio em Los Angeles ocorreram na terça-feira (7) e, em poucas horas, o fogo já havia se tornado de grandes proporções.
Segundo especialistas, a vegetação seca funciona como combustível para as chamas, sendo impulsionadas pelos ventos de Santa Ana, caracterizados por correntes de ar quente e seco.
Durante esse evento, os níveis de umidade geralmente caem para porcentagens mínimas, o que piora o cenário já seco da região. Com isso, a vegetação — viva e morta — se torna ainda mais suscetível ao fogo.
Incêndio em Los Angeles — Foto: Ringo Chiu/Reuters
Esse tipo de vento pode superar os 100 km/h. Com essa intensidade, mesmo pequenos focos de incêndio se espalham rapidamente.
O serviço meteorológico local informou que ao longo do incêndio, os ventos chegaram a 160 km/h.
Meteorologistas explicam que os piores ventos podem ter acabado, mas o perigo de incêndio continua, pois outra rodada de ventos fortes deve aumentar ainda nesta quinta-feira (9).
"Os ventos intensos aumentam a velocidade de propagação e acaba que ela é muito mais rápida do que a capacidade de conter o fogo", explica Pedro Camarinha, especialista em desastres.
O pesquisador ainda reforça que o que está ocorrendo é um alerta para a urgência em olhar para as vulnerabilidades das regiões às mudanças climáticas. Ele explica que é preciso investir em sistemas que possam acompanhar a região, alertar e agir no combate às chamas de forma mais rápida.
Incêndios na região oeste dos EUA vem aumentando ao longo dos anos
Uma pesquisa financiada pela agência espacial americana (Nasa) e publicada em 2018 analisou o volume de incêndios na região oeste dos Estados Unidos, incluindo a Califórnia, ao longo de mais de 60 anos.
Os pesquisadores observaram que o número de incêndios vem aumentando nos últimos anos. A análise mostra que mais de 60% das ocorrências foram registradas a partir dos anos 2000. (Veja o gráfico abaixo)
Dados mostram evolução de ocorrências de incêndios na região oeste, onde está a Califórnia — Foto: Arte/g1
Os pesquisadores apontam que a área queimada vem aumentando, indicando que os incêndios têm ganhado proporções cada vez maiores ao longo do tempo. Nenhum mega incêndio foi registrado antes de 1970, de acordo com a pesquisa. A análise deles é de que isso está ligado às mudanças climáticas.
O pesquisador Pedro Camarinha reforça que, com essa evolução, há outro risco: o volume populacional. A Califórnia é um dos estados mais populosos nos Estados Unidos e tem cada vez mais pessoas morando próximas à regiões de vegetação, o que gera um risco de ignição e aumenta o nível de vulnerabilidade, já que em um grande incêndio um número maior de pessoas pode ser atingida.