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Novo papa é Robert Prevost e se chamará Leão 14: quais desafios o esperam

Nascido em Chicago, Prevost é considerado um reformista e trabalhou por muitos anos como missionário no Peru antes de ser nomeado arcebispo naquele país

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 08/05/2025
Novo papa é Robert Prevost e se chamará Leão 14: quais desafios o esperam
Nascido em Chicago, Prevost é considerado um reformista e trabalhou por muitos anos como missionário | Yara Nardi/Reuters

O americano Robert Prevost, 69, foi escolhido nesta quinta-feira (8/5) para ser o novo papa e comandar a Igreja Católica. Seu nome escolhido foi Leão 14.

Nascido em Chicago, Prevost é considerado um reformista e trabalhou por muitos anos como missionário no Peru antes de ser nomeado arcebispo naquele país.

O novo papa não é visto apenas como um americano, mas também como alguém que presidiu a Pontifícia Comissão para a América Latina.

Seu período como arcebispo no Peru também foi marcado por acusações de acobertamento de casos de abuso sexual, o que foi negado por sua diocese.

Há dois anos, o papa Francisco escolheu Prevost para substituir Marc Ouellet como prefeito do Dicastério para os Bispos do Vaticano, confiando a ele a responsabilidade de selecionar a próxima geração de bispos.

A escolha do novo papa ocorreu no segundo dia de Conclave, quando a fumaça branca saindo da chaminé da Basílica de São Pedro, sinalizando que os cardeais entraram em consenso sobre o novo líder da Igreja, pôde ser vista.

Mas quais os desafios que o novo líder enfrentará no comando da Igreja Católica?

Conquistar fiéis

O primeiro desafio diz respeito a conquistar e preservar fiéis.

O Vaticano ressalta que o número de católicos no mundo tem crescido de modo relativamente consistente, e que, em 2023, o mundo todo tinha 1,4 bilhões de fiéis, um crescimento de 1,15% em relação ao ano anterior.

Mas em muitos países, a Igreja Católica tem perdido espaço, seja para o secularismo, seja para outras fés.

O Brasil é um grande exemplo disso. O país com a maior população católica do mundo tende, segundo algumas projeções, a se tornar de maioria evangélica nas próximas décadas.

A proporção de católicos, que no ano 2000 era de 74%, caiu para 65% dez anos mais tarde, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse contingente se incluem os chamados católicos não praticantes, que se declaram católicos mas não costumam frequentar a igreja.

Enquanto isso, a proporção de evangélicos mais do que dobrou entre 1990 e 2010, passando de 9% para 22,2%, segundo o IBGE.

Os dados do Censo mais recente ainda estão sendo consolidados pelo IBGE, mas tudo indica que essa tendência não mudou.

Fora do Brasil, o cenário é parecido. Nos Estados Unidos, por exemplo, o cristianismo em geral enfrentou anos de declínio - tanto o protestantismo quanto o catolicismo.

A população adulta cristã americana passou de 78% da população em 2007, para 62% em 2023, segundo o Pew Rsearch Center.

Já o número de americanos que se declaram sem afiliação religiosa quase dobrou ao longo de 15 anos, passando de 16% em 2007, para 29% em 2023.

Hoje, o maior crescimento do catolicismo se dá na África Subsaariana, mas também disputando terreno com denominações evangélicas e com o islamismo.

Muitos analistas e líderes religiosos com quem a gente conversou dizem que a Igreja Católica tem tido dificuldade em se conectar com as pessoas. Outros opinam que, em alguns lugares, a igreja se tornou muito elitista: virou um espaço de classe média, em que a população mais pobre não se sente bem-vinda.

E tem também quem ache que, no caso do Brasil, a população simplesmente escolheu abraçar um cristianismo mais conservador representado pelas igrejas evangélicas.

O vaticanista Filipe Domingues avalia que o cenário atual é parte de um problema global ainda maior: uma crise de confiança em todas as grandes instituições, a Santa Sé entre elas.

Falta de padres

Na esteira das dificuldades para conquistar fiéis, existe outro grande desafio: o de formar novos padres.

No mundo inteiro, o Vaticano calcula haver quase 407 mil padres. São sete mil a menos do que havia em 2017. Os maiores declínios ocorrem na Europa e nas Américas.

No Brasil, um estudo de 2018 calculou que seriam necessários mais 20 mil sacerdotes para atender todas as comunidades católicas no país.

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que a formação de padres, nos seminários, não dá conta dos desafios da vida moderna – algo pouco animador para jovens padres.

Para além da formação, existem debates vistos como complexos: como o de ordenar homens casados ou não celibatários, ou mesmo mulheres. Propostas que encontram resistência entre boa parte da Igreja.

Rumos da igreja

As disputas entre progressistas e tradicionalistas no catolicismo é outro desafio que o novo papa enfrentará.

Francisco, ao longo do seu pontificado, discursou em favor dos marginalizados e de uma igreja mais inclusiva, inclusive para pessoas divorciadas ou homossexuais, chegando a dizer que "criminalizar pessoas de tendências homossexuais é uma injustiça".

Falas desse tipo tiveram muito impacto, embora a homossexualidade continue sendo vista oficialmente como um pecado no catolicismo.

Muitos reformistas aplaudiram os discursos do papa – e acham que Francisco deveria ter feito mais.

Mas críticos conservadores se dizem preocupados com o respeito às tradições da igreja. Alguns chegaram a chamar Francisco de comunista. E essa disputa certamente continuará na Santa Sé e nas comunidades católicas.

Abusos sexuais

Permanece muito latente na igreja o legado de décadas de encobrimento de casos de abusos sexuais por clérigos.

Alguns números dão a dimensão do horror: na França, houve 216 mil denúncias de abusos sexuais ocorridos entre 1950 e 2000. Na Irlanda, foram 15 mil denúncias de casos ocorridos entre 1970 e 1990.

Nos Estados Unidos, foram mais ou menos 11 mil denúncias. Havia, em 2020, 2 mil sacerdotes vivos acusados de abusos sexuais.

No Brasil, centenas de casos foram revelados por investigações jornalísticas. Em 2019, a Arquidiocese da Paraíba foi condenada a pagar uma indenização de 12 milhões de reais por exploração sexual de crianças, mas a multa acabou sendo anulada.

Durante o seu papado, Francisco se encontrou com vítimas pelo mundo para pedir desculpas, embora, inicialmente, ele tenha sido acusado de lentidão ao lidar com esse tema tão grave.

Depois, implementou regras internas para incentivar que denúncias fossem reveladas. E incentivou que os casos fossem levados à Justiça comum.

Mas muitas vítimas alegam que permanece vigente a cultura de silêncio e deferência, dentro da igreja, que teria permitido que tais abusos ocorressem. É mais uma crise que está bem longe de um desfecho.