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Irã e Israel já foram 'amigos' e se ajudaram no passado; saiba por que a relação implodiu
Atuais rivais, potências do Oriente Médio já tiveram relação de proximidade e inclusive de cooperação: Israel treinou as Forças Armadas do Irã, que forneceram petróleo ao governo israelense

É difícil acreditar, mas Irã e Israel, que vêm trocando ataques desde a madrugada desta sexta-feira (13), já foram aliados. E bem próximos.
As duas grandes potências do Oriente Médio protagonizam hoje uma das principais rivalidades no mundo, mas já até se apoiaram mutuamente: Israel ajudou a estruturar as Forças Armadas do Irã, enquanto o governo de Teerã foi um dos primeiros, em todo o mundo, a reconhecer o Estado israelense logo após sua criação, em 1948.
O fator-chave para a mudança drástica na relação foi a Revolução de 1979 do Irã, quando o país passou a ser governado por uma república islâmica.
Antes, o Irã era regido por uma monarquia, também chamada de regime dos xás, aliada dos Estados Unidos na região. O Estado de Israel, criado em 1948, passou a considerar também Teerã um aliado diante dos países árabes da região. O governo iraniano, então aliado dos EUA, respondeu à parceria e forneceu petróleo aos israelenses, ajudando a impulsionar a economia local.
Em troca do apoio de Teerã, Israel deu expertise técnica em diversas áreas, com a agricultura, e treinou as Forças Armadas iranianas que hoje combate e ajudou até com a inteligência — hoje, o Irã tem um dos complexo sistema de poder, repleto de líderes militares.
Esse apoio interessava aos xás iranianos porque sua maior oposição era justamente o aiatolá Khomeini, liderança da comunidade muçulmana do Irã.
O Irã abrigava a segunda maior comunidade judaica fora de Israel. Embora após a Revolução Islâmica um grande número de judeus tenha deixado o país, mais de 20 mil ainda vivem no Irã.
E foi essa oposição que, na esteira de protestos por corrupção e tirania do então regime, derrubou a monarquia iraniana em 1979 e instaurou a República Islâmica do Irã.
Amizade desfeita
A partir daí, o governo iraniano, liderado pelo aiatolá, passou a se aliar com países da região e desfez todos os tratados e parcerias com Israel. Com as forças militares bem estruturadas, o Irã começou também a apoiar militar e financeiramente grupos armados que atuavam contra Israel, caso do Hamas, do Hezbollah e dos Houthis.
A relação então se rompeu definitivamente, e os dois países se tornaram inimigos praticamente irreconciliáveis. Um grande exemplo disse é que, mesmo tendo reconhecido o Estado israelense em sua formação, o Irã nega hoje o próprio direito de Israel existir.
O aiatolá Khomeini também começou a relativizar o genocídio de judeus e questionar até a existência do Holocausto. Depois de ele morrer, a postura foi seguida por seu substituto, o aiatolá Ali Khamenei, atual líder supremo do Irã — o posto mais alto do poder no país, acima do presidente.
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Israel x Irã: entenda o conflito — Foto: Editoria de arte do g1
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Aos poucos, o regime iraniano também foi adotando e divulgando a retórica anti-Israel, principalmente para se posicionar como um novo aliado e uma das potências da região. Históricamente, o governo do Irã, xiita, disputa o posto de nação mais influente do Oriente Médio com a Arábia Saudita, cujo governo é sunita e mais próximo dos Estados Unidos.
Em 1982, na primeira guerra de Israel no Líbano, homens da Guarda Revolucionária Iraniana — a força militar do Irã que serve ao líder supremo —, foram enviados a Beirute, a capital libanesa, para apoiar e treinar milícias locais que atuavam contra Israel. Uma delas, o Hezbollah, acabou virando o braço do Irã no Líbano.
Depois, veio o apoio ao Hamas, na Faixa de Gaza, e até a ao ex-ditador sírio Bashar Al-Asad, outro forte rival de Israel.
Israel retrucou na retórica e na perseguição a ogivas nucleares do Irã.
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, chegou a comparar a República Islâmica do Irã à Alemanha nazista e, desde o início dos anos 2000, vem investigando e fazendo ataques pontuais a instalações nucleares em território iraniano.
Rivalidade defasada
Marcelo Lins: Israel aproveitou momento enfraquecido do Irã
Mas especialistas acham que a rivalidade, que em um momento teve sentido, hoje só prejudica as duas nações.
"O Irã precisa rever sua relação com Israel, porque ela está defasada", disse à rede alemã Deustche Welle a filha do ex-presidente iraniano Ali Rafsanjani, Faezeh Hashemi Rafsanjani, também ex-deputado do Parlamento Europeu.
O cientista político iraniano Sadegh Zibakalam, crítico do governo, acha que a postura do governo iraniano isolou Teerã internacionalmente.
Apesar das análises, a rivalidade entre ambos se acirrou ainda mais após o início da guerra entre Israel e o Hamas.
A guerra começou após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel e mataram cerca de 1.200 pessoas e levaram cerca de 250 reféns israelenses para o território palestino. Cerca de 100 reféns ainda estão em cativeiro.
O conflito deixou pelo menos 55 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.