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Netanyahu pressiona por plano de tomar controle total de Gaza, mas ideia divide lideranças de Israel
Em declarações antes de uma reunião do gabinete de segurança israelense nesta quinta-feira (7/8), Netanyahu foi questionado pelo veículo se Israel faria isso

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse à emissora americana Fox News que pretende assumir o controle total da Faixa de Gaza.
Em declarações antes de uma reunião do gabinete de segurança israelense nesta quinta-feira (7/8), Netanyahu foi questionado pelo veículo se Israel faria isso.
Em resposta, Netanyahu afirmou: "Pretendemos, para garantir nossa segurança, remover o Hamas de lá, permitir que a população se livre de Gaza e passá-la para um governo civil — que não seja o Hamas e nem alguém que defenda a destruição de Israel".
"Queremos nos libertar e libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas", acrescentou.
As declarações de Netanyahu ocorrem após o fracasso de negociações indiretas entre Israel e o Hamas sobre um cessar-fogo e um acordo para a tomada de reféns — e após os grupos armados palestinos divulgarem vídeos de dois reféns israelenses parecendo fracos e desnutridos.
À Fox News, Netanyahu também disse que Israel "não quer manter" o controle sobre o território.
"Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governar Gaza. Não queremos estar lá como uma autoridade governante", falou.
Israel já controla hoje cerca de 75% do território, mas ainda não operou na Cidade de Gaza e nos campos no centro da Faixa, onde vivem cerca de um milhão de palestinos.
Segundo as Nações Unidas (ONU), 87% do território de Gaza já está em zonas militarizadas ou sob ordens de evacuação.

Até agora, os militares israelenses evitaram algumas regiões, especialmente partes do centro, sob a suposição de que há reféns vivos mantidos nesses locais.
Já era esperado que Netanyahu pressionasse seu gabinete de segurança a aprovar um plano para assumir o controle de Gaza na reunião desta tarde.
A mídia israelense vem noticiando há vários dias que o primeiro-ministro busca apoio para um plano para expandir a operação militar em Gaza e reocupar todo o território.
Isso gerou temores de que uma nova escalada militar coloque em risco os palestinos que vivem em Gaza e foram empurrados para áreas cada vez menores desde o início da guerra, há quase dois anos.
Em um comunicado divulgado após a entrevista de Netanyahu, o Hamas declarou que o primeiro-ministro está "planejando continuar sua política de genocídio e deslocamento ao cometer mais crimes" contra o povo palestino.
O grupo armado palestino declarou que as ações do premiê israelense "representam uma reversão clara do curso das negociações e revelam claramente os verdadeiros motivos por trás de sua retirada da rodada final".
Segundo o grupo, a proposta de Netanyahu mostra que ele está disposto a "sacrificar" os reféns israelenses restantes em Gaza para atender a "seus interesses pessoais".

Crédito,Getty
Enquanto isso, as famílias dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza e líderes militares israelenses temem que o aumento das operações militares coloque em risco cerca de 20 reféns israelenses vivos.
Nesta quinta, familiares dos reféns fizerem protesto com fotos e cartazes em frente ao escritório de Netanyahu, em Jerusalém.
O jornal israelense Ma'ariv relatou nesta manhã que a "avaliação predominante é que a maioria e possivelmente todos os reféns vivos [irão] morrer" durante qualquer ofensiva expandida, mortos pelos seus captores ou acidentalmente por soldados israelenses".
Há relatos de que líderes militares também se opõem à reocupação.
As divergências entre as lideranças militar e política de Israel ganharam as manchetes nos últimos dias, com o chefe do Estado-Maior do Exército, Tenente-General Eyal Zamir, se opondo publicamente aos planos de Netanyahu.
Zamir teria dito a Netanyahu, em uma reunião tensa no início desta semana, que isso era "equivalente a cair em uma armadilha". Ainda assim, a expectativa no momento é de que a proposta seja aprovada pelo gabinete de segurança.
Também há oposição ao plano da ocupação total de Gaza entre os críticos do premiê.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, afirmou que a proposta de Netanyahu é uma proposta para "outra guerra" e "mais reféns mortos".
Ele acrescenta em uma publicação no X que isso custará "dezenas de bilhões de shekels dos contribuintes".
Muitos dos aliados próximos de Israel também condenariam tal medida, enquanto pressionam pelo fim da guerra diante do agravamento da crise humanitária em Gaza.
Mas, mesmo com a negativa de Netanyahu de que queira anexar o território, o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee, afirmou que cabe ao governo israelense decidir se deseja ou não anexar a Faixa de Gaza.
Falando à CBS News, parceira da BBC nos EUA, Huckabee declarou que não é função dos EUA "dizer a eles o que devem ou não fazer".
"Certamente, se eles pedirem sabedoria, orientação, conselhos, tenho certeza de que o presidente (Trump) os ofereceria. Mas, em última instância, é uma decisão que os israelenses — e somente os israelenses — podem tomar."
Ele acrescentou que a população de Gaza "não deve ser forçada a sair".