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França se junta a 'onda' de reconhecimento do Estado palestino e formaliza medida

Discursando na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York, o presidente Emmanuel Macron disse que "chegou a hora da paz" e que "nada justifica a guerra em curso em Gaza"

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 22/09/2025
França se junta a 'onda' de reconhecimento do Estado palestino e formaliza medida
'Devemos fazer tudo ao nosso alcance para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados', defendeu o presidente francês em Nova York | EPA

França reconheceu formalmente o Estado Palestino nesta segunda-feira (22), tornando-se o mais recente de um grupo de países a tomar essa medida.

Discursando na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York, o presidente Emmanuel Macron disse que "chegou a hora da paz" e que "nada justifica a guerra em curso em Gaza".

França e Arábia Saudita conduziram uma cúpula de um dia na Assembleia Geral da ONU focada em planos para uma solução de dois Estados (plano de paz entre palestinos e Israel, no qual um Estado palestino seria criado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como capital).

Alemanha, Itália e EUA, países do G7, não compareceram.

Macron afirmou que Bélgica, Luxemburgo, Malta, Andorra e San Marino também reconheceriam o Estado Palestino — após o Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal anunciarem o reconhecimento no domingo (21).

A pressão internacional está aumentando sobre Israel devido à crise humanitária em Gaza e à construção de assentamentos na Cisjordânia.

Israel defendeu que o reconhecimento recompensaria o Hamas pelo ataque do grupo armado palestino ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 feitas reféns.

Desde então, mais de 65.000 palestinos foram mortos por Israel, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

As forças israelenses estão atualmente realizando uma ofensiva terrestre com o objetivo de tomar o controle da Cidade de Gaza, onde viviam um milhão de pessoas e onde a fome foi confirmada no mês passado.

O líder francês disse na conferência que havia chegado a hora de parar a guerra e libertar os reféns israelenses mantidos pelo Hamas. Ele alertou para o "perigo de guerras sem fim" e disse que "o direito deve sempre prevalecer sobre a força".

A comunidade internacional falhou em construir uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, disse ele, acrescentando:"Devemos fazer tudo ao nosso alcance para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados."

O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al Saud, também se dirigiu à ONU, em nome do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Ele defendeu que a solução de dois Estados seria a única maneira de alcançar a paz duradoura na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, referiu-se à situação em Gaza como "moral, legal e politicamente intolerável" e afirmou que a solução de dois Estados é o "único caminho crível" para a paz entre israelenses e palestinos.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas — que foi impedido de comparecer pessoalmente à Assembleia Geral da ONU após os EUA revogarem seu visto e os de outras autoridades palestinas —, discursou na cúpula através de videoconferência.

Ele pediu um cessar-fogo permanente e disse que o Hamas não poderia ter papel algum no governo de Gaza, solicitando que o grupo "entregasse suas armas" à Autoridade Palestina (AP).

"O que queremos é um Estado unificado sem armas", disse ele.

Abbas também condenou o ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023 e se dirigiu aos israelenses, dizendo: "Nosso futuro e o de vocês dependem da paz. Chega de violência e guerra."

Crianças e adultos caminham sobre destroços em meio a fumaça

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Israel tem bombardeado a Cidade de Gaza enquanto suas forças avançam cada vez mais para dentro da cidade

Macron afirmou que a França está pronta para contribuir com uma "missão de estabilização" em Gaza e pediu uma gestão de transição que supervisionaria o desmantelamento do Hamas, envolvendo a AP.

Ele declarou que a França só abriria uma embaixada em um Estado palestino quando todos os reféns mantidos pelo Hamas fossem libertados e um cessar-fogo fosse negociado e confirmado.

O embaixador de Israel na ONU, Danny Dannon, falou com repórteres pouco antes do anúncio de Macron.

Dannon disse que uma solução de dois Estados foi "descartada" após o ataque de 7 de outubro e chamou as negociações desta semana na ONU de "farsa".

Ele também se recusou a descartar a possibilidade de Israel anexar a Cisjordânia ocupada.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu insistiu que não haverá um Estado palestino a oeste do Rio Jordão, e o presidente Isaac Herzog disse que reconhecer isso só "encorajaria as forças das trevas".

Antes do anúncio de Macron, as bandeiras palestina e israelense foram hasteadas na Torre Eiffel, ícone da capital francesa, na noite de domingo.

Várias prefeituras na França também hastearam bandeiras palestinas na segunda-feira, apesar da ordem do governo aos prefeitos locais para manter a neutralidade.

Protestos pró-palestinos também ocorreram em cerca de 80 cidades em toda a Itália, onde o governo de Giorgia Meloni afirmou recentemente que poderia ser "contraproducente" reconhecer um Estado que não existe.

Na Alemanha, o governo afirmou que a criação de um Estado palestino não está em debate no momento, e o ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, explicou, ao partir para Nova York: "Para a Alemanha, o reconhecimento de um Estado palestino acontece principalmente no final do processo. Mas esse processo deve começar agora".