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María Corina Machado à BBC: Somos gratos pelo que Trump está fazendo pela paz, liberdade e democracia

Machado tentou de tudo em sua luta contra o governo, primeiro de Hugo Chávez e agora de Maduro

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 11/10/2025
María Corina Machado à BBC: Somos gratos pelo que Trump está fazendo pela paz, liberdade e democracia
Maria Corina Machado lidera oposição na Venezuela | Getty Imagens

Quando a oposição ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela parecia novamente abatida e sem possibilidades de provocar uma mudança, o prêmio Nobel da Paz concedido à sua líder, María Corina Machado, renova as esperanças.

O Comitê Norueguês do Nobel escolheu na sexta-feira (10/10) Machado "por seu incansável trabalho na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".

Machado tentou de tudo em sua luta contra o governo, primeiro de Hugo Chávez e agora de Maduro.

Participou de eleições e fez chamados à abstenção, sentou-se em mesas de negociações que fracassaram e fez convocações para que as pessoas saíssem às ruas.

Como líder da oposição nas eleições de 28 de julho de 2024, ela organizou uma estrutura que permitiu a publicação das atas eleitorais que mostravam a vitória da oposição sobre Maduro, declarado vencedor pelo órgão eleitoral sem que os resultados fossem divulgados.

Passado mais de um ano desde as eleições e com Machado na clandestinidade, a pressão sobre Maduro agora vem dos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump, próximo a Machado, endureceu a mensagem contra o governante venezuelano, a quem considera chefe de um cartel de drogas.

Nesta entrevista ao BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Machado analisa o que pode acontecer agora após a concessão do Nobel.

BBC Mundo - María Corina Machado, prêmio Nobel da Paz de 2025. Você é a segunda mulher latino-americana e a primeira venezuelana a alcançar este reconhecimento. O que sentiu quando anunciaram a notícia?

Maria Corina Machado - Bom, eu acho que sinto o mesmo que estou sentindo agora. Ainda não consigo acreditar. Não tive oportunidade de processar tudo.

Mas, ao mesmo tempo, sinto que o povo da Venezuela mereceu este reconhecimento.

Milhões e milhões de venezuelanos que deram tudo. Arriscaram suas vidas, suas famílias, seus bens, tudo.

Esta é uma injeção de energia, de ânimo, de força para concretizar a última etapa desta luta, que é a libertação da Venezuela e a construção de uma nação com pilares democráticos e éticos muito sólidos.

BBC Mundo - Apesar desta grande notícia que está rodando o mundo, na Venezuela o ambiente não é de festa. O que você sente por não poder celebrar este prêmio nas ruas com seus apoiadores e por a própria oposição não poder comemorá-lo por medo?

Corina Machado - Mas é muito festivo dentro dos lares, e isso é algo muito poderoso que está acontecendo na Venezuela.

Entendemos que, diante deste regime de terror, é preciso buscar mecanismos de ação, mas protegidos.

Isso nos levou a inovar de várias formas: nos organizando, nos comunicando e nos protegendo uns aos outros.

O que aconteceu nestas últimas horas na Venezuela é extraordinário. As pessoas sabem, e me dizem, que este é um prêmio para todos os venezuelanos.

Eu vou além: diria que é para todos aqueles cidadãos do mundo que contribuíram para que a voz da Venezuela e a força deste enorme movimento que construímos continuassem crescendo, e para que realmente estejamos à beira da liberdade.

BBC Mundo - O governo tem permanecido em silêncio desde sexta-feira. Você recebeu algum tipo de mensagem ou comunicação do governo?

Corina Machado - Obviamente, eles não se comunicam comigo. Obviamente, eles entendem que o que aconteceu é a legitimação de todo este movimento que conseguiu uma vitória esmagadora em 28 de julho de 2024.

Isso confirma que Nicolás Maduro está absolutamente isolado.

Até mesmo seus antigos aliados e os governos que o apoiavam o deixaram sozinho.

Outdoor em Caracas acusa Machado e outros opositores a Maduro de buscar sanções contra Venezuela.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Outdoor em Caracas acusa Machado e outros opositores a Maduro de buscar sanções contra Venezuela.

BBC Mundo - A Venezuela mudou muito desde que você fundou o movimento Vente Venezuela em 2012, quando Hugo Chávez ainda estava no poder. Como evoluiu sua luta?

Corina Machado - A Venezuela mudou muito em diversos aspectos.

Sem dúvida, a parte mais evidente e pública para a comunidade internacional é a destruição não apenas da nossa economia, mas também dos nossos recursos naturais.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela caiu 80% em uma década. Isso não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.

Outro dano terrível foi às instituições. Hoje, na Venezuela, ninguém se atreve a falar — nem ativistas de direitos humanos, nem juízes, nem jornalistas, nem sacerdotes.

As pessoas são presas apenas por denunciarem a inflação, o aumento dos preços ou a falta de alimentos. E, se não conseguem prender a pessoa, prendem sua família.

Esse é o nível de depravação que vimos se instalar progressivamente no país, mas, ao mesmo tempo, essa força tem crescido e nos unido.

Em 2023, iniciamos, de olho nas primárias, um processo de reencontro dos venezuelanos.

O movimento foi capaz de realizar primárias contra a vontade do regime, sem seus recursos nem o órgão eleitoral.

Depois, conseguimos construir uma plataforma cidadã inédita no mundo, com mais de um milhão de cidadãos, que se transformou nessa força que, apesar de toda a repressão, hoje coloca o regime contra a parede.

Além disso, mudou enormemente a posição da comunidade internacional, que compreendeu que não estamos enfrentando uma ditadura convencional, mas sim uma estrutura criminosa que transformou a Venezuela em um santuário para operações de todos os inimigos do Ocidente.

Irã, Rússia, Hezbollah, Hamas, os cartéis, as guerrilhas.

Eles operam livremente na Venezuela e, a partir daqui, desestabilizam a região. Agora o mundo entende que, por se tratar de uma estrutura criminosa, é preciso tratá-la como tal, aplicando a lei e a ordem internacional.

Portanto, estamos em um momento único e sem precedentes.

O regime está mais fraco do que nunca, e a sociedade venezuelana mais unida, esperançosa e organizada do que nunca.

Maria Corina Machado em videochamada

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Nobel da Paz entregou prêmio a Machado por sua defesa dos direitos democráticos

BBC Mundo - Que autocrítica você faz neste momento?

Corina Machado- Claro que cometemos muitos erros. É preciso aprender com eles e assumi-los com humildade.

Sinto que o maior erro foi subestimar a crueldade e a falta de escrúpulos do regime de Chávez e, depois, do de Maduro.

Regimes que sistematicamente provocam o confronto entre cidadãos, que buscam expulsar um terço da população e fazer com que a sociedade passe fome, incluindo as crianças. Nossas crianças não frequentam a escola pública.

Na Venezuela, a escola pública funciona apenas dois dias por semana, porque os professores praticamente não recebem salário.

Subestimamos um regime que buscou destruir a sociedade para se apoderar da riqueza do território venezuelano com fins criminosos.

BBC Mundo - Você protestou, participou de eleições e chamou à abstenção. Pode-se dizer que experimentou todos os caminhos. Qual é o próximo passo? Qual será a próxima etapa para a oposição venezuelana?

Corina Machado - De fato, percorremos todos esses caminhos. Estivemos nas ruas, protestamos, dispararam contra nós, nos perseguiram, torturaram, assassinaram.

Fomos a eleições e roubaram-nas, mas, além disso, demonstramos nossa vitória e, sem dúvida, participamos de dezenas de supostos diálogos, nos quais o regime descumpriu os compromissos que havia assumido uma vez após outra.

O próximo passo é o que estamos dando agora.

Finalmente entendemos que isso precisa ser uma coordenação de forças internas e externas.

Quando se enfrenta uma estrutura criminosa, que no fim se sustenta pelos fluxos de dinheiro provenientes de suas atividades criminosas, é preciso cortar esses fluxos. É preciso ter uma sociedade organizada.

Hoje somos dezenas e dezenas de milhares de cidadãos comunicados subterraneamente, na clandestinidade, e precisamos que a comunidade internacional dê passos firmes para que os fluxos de dinheiro que o regime usa para corrupção e repressão deixem de chegar.

Isso, finalmente, é o que está acontecendo agora.

Machado segura bandeira venezuelana

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Antes e depois das aleições de 2024, Machado participou de protestos pelo país

BBC Mundo - O chavismo acusou os EUA de planejar uma invasão. Recentemente, foi publicada uma pesquisa que afirma que, diante de uma eventual ação militar para "tirar Maduro", 44% dos entrevistados disseram que sairiam às ruas para apoiar a ação, enquanto 7% sairiam para rejeitá-la. O que você pensa desses resultados e qual é a sua posição a respeito?

Corina Machado - A Venezuela já vive uma invasão, absolutamente. De agentes cubanos, iranianos, chineses, russos, de terroristas islâmicos e cartéis de drogas que assumiram o controle de boa parte do nosso território, deixando rastros de sangue, destruição, dor e fome.

Por isso existe essa reação: aqui trata-se de uma libertação.

Em primeiro lugar, os venezuelanos já deram um mandato para mudança de regime. Isso é muito importante, e o mundo sabe disso e reconheceu.

Maduro é claramente um criminoso.

Ele é o chefe de uma estrutura criminosa, é um ilegítimo que se apega ao poder pela força, aplicando terrorismo de Estado — como já afirmou a própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos — e cometendo crimes contra a humanidade, como apontou a missão de apuração de fatos das Nações Unidas.

Portanto, o país e a sociedade anseiam por liberdade para poder avançar em uma transição ordenada.

É claro que sabemos que precisamos de apoio externo.

Com o terror existente na Venezuela, o fato de quase 50% da população dizer que deseja apoio significa que, na realidade, é quase 90%, porque as pessoas têm medo de falar, mesmo em uma pesquisa.

BBC Mundo - Então a senhora apoiaria uma invasão como última instância?

Corina Machado - Quem está falando aqui sobre invasão? Repito: a invasão já existe.

A invasão já existe. O que precisamos é de uma libertação. E, para isso, precisamos de posições firmes, como a que houve ontem no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde o Reino Unido manteve uma posição firme de liderança, como já fez em outros conflitos no mundo, como no Oriente Médio e na Ucrânia, e que agora assume em relação à Venezuela.

Disseram que a única maneira de resolver o conflito na Venezuela é uma transição ordenada que respeite a soberania popular expressa em 28 de julho.

Isso é exatamente o que vamos fazer e o que vai acontecer.

Agora depende de Maduro.

Maduro precisa entender que lhe foi oferecido um processo de negociação e que, se aceitá-lo, as coisas lhe sairão muito melhor. Mas ele sairá do poder, seja qual for sua decisão.

Nicolás Maduro

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Governo Maduro não se pronunciou sobre prêmio a Corina

BBC Mundo - Você é aliada de Trump, mas Trump está ordenando ataques a barcos nos quais venezuelanos morreram e está acabando com o programa TPS, que protege milhares de venezuelanos nos Estados Unidos do governo de Maduro. Não há aí uma contradição? Alguns criticam que você mantém uma postura que não busca contrariar Trump; você acha que não é compatível ter uma boa relação com Trump e criticar os ataques nos quais venezuelanos morrem?

Corina Machado - Há apenas uma explicação: nós vamos libertar a Venezuela e oferecer proteção a todos os venezuelanos dentro do país.

Nove milhões de venezuelanos tiveram que fugir por culpa direta de Nicolás Maduro, que assassina, empobrece e persegue.

Aqui, o responsável pelo que está acontecendo se chama Nicolás Maduro e seu entorno, que nos declararam uma guerra aos venezuelanos, guerra esta que nós não queríamos.

Como você bem disse, tentei todos os mecanismos pacíficos, cívicos e constitucionais.

O responsável pelo que ocorre é Maduro, que dirige pessoalmente um cartel de drogas.

Uma coisa importante que quero dizer é que o caso da Venezuela é diferente do de outros países.

Há muitos países no mundo onde cartéis de drogas e grupos criminosos infiltraram órgãos do poder público.

No caso da Venezuela, um cartel de drogas tomou posse de todos os órgãos do Estado e usa isso para subjugar, perseguir, torturar e assassinar a população indefesa, além de desestabilizar a região.

Transformaram a Venezuela no hub do crime organizado mundial, um país que está no coração das Américas.

Então, quem é o responsável para que outros países ajam em defesa de sua segurança nacional?

O responsável é Nicolás Maduro.

BBC Mundo - O que você diria aos opositores que não querem que os Estados Unidos invadam ou ataquem a Venezuela?

Corina Machado - Só existem duas posições. Ou você está com o povo da Venezuela, que ordenou uma transição para a democracia, ou está com um cartel e com o crime que Maduro representa.

Aí estão as duas posições: com o povo da Venezuela, acompanhado pelos Estados Unidos e pela maioria das nações da América Latina, Caribe e Europa.

São pouquíssimos os casos que permaneceram em silêncio diante da escalada criminosa de Nicolás Maduro.

Portanto, não vou especular sobre as motivações de algumas pessoas na Venezuela que se alinham à narrativa do regime. Cada uma terá suas razões.

Mas isso eu digo: a história vai julgar, assim como hoje está julgando o povo venezuelano.

Imagem mostra  barco pegando fogo

Crédito,TRUTH SOCIAL/Reuters

Legenda da foto,Governo Trump tem atacado barcos no Caribe que estariam levando drogas da Venezuela

BBC Mundo - Em 2017, Trump já havia dito que todas as opções estavam sobre a mesa e nada aconteceu. Por que desta vez é diferente?

Corina Machado - Eu acredito que estamos vivendo, como disse antes, um momento sem precedentes na história da Venezuela.

Nunca a sociedade esteve tão unida, tão organizada. Temos uma liderança legítima. Temos a oposição absolutamente articulada e unida, e uma sociedade coesa.

Eu te pergunto: em que outro país do mundo você encontra 90% da sociedade sem diferenças religiosas, raciais, regionais, econômicas ou ideológicas? Todos queremos a mesma coisa.

Isso é algo que nunca havíamos alcançado em nosso país e me custa ver outro caso semelhante no mundo hoje.

Em segundo lugar, o regime está mais fraco do que nunca. Não apenas há evidentes fissuras internas: eles se traem, se delatam, se temem uns aos outros porque sabem que o tempo acabou.

E, evidentemente, todos os crimes que Nicolás Maduro cometeu ao longo desses anos, e seu entorno, criaram um dossiê monumental, que não apenas os Estados Unidos, mas também países europeus e latino-americanos possuem. E é o momento de tornar tudo isso público.

Se há algo que eu pedi aos governos democráticos, é que apliquem a lei.

Precisamos que as informações que têm sobre os crimes, sobre os laranjas que viabilizaram o saque à Venezuela, sejam tornadas públicas, e que o sistema financeiro daqueles países que acolheram esses capitais de sangue, os torne públicos e os retire do regime, para que evidentemente não possam continuar sendo usados para repressão, perseguição e terror.

E acredito que estamos nos movendo nessa direção, e é por isso que sou tão otimista e estou tão convencida de que a liberdade para a Venezuela está muito próxima.

BBC Mundo - Você conversou com o presidente Trump na sexta-feira. O que pode nos contar sobre essa conversa?

Corina Machado - Sim, ontem tivemos uma conversa. Foi uma boa conversa. Pude expressar a ele nossa gratidão e o quanto o povo venezuelano está agradecido pelo que ele está fazendo, não apenas nas Américas, mas em todo o mundo, pela paz, liberdade e democracia.

Fiquei muito feliz por termos tido a oportunidade de falar.

Maria Corina Machado e Edmundo González, candidato presidencial en 2024.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Maria Corina Machado e Edmundo González, candidato presidencial en 2024.

BBC Mundo - Você acredita que a solução da Venezuela já está nas mãos de outros?

Corina Machado - Jamais pensamos isso, porque seria evadir nossa responsabilidade. Se algo aprendemos, nós venezuelanos, é a corresponsabilidade.

Isso não depende de alguns líderes internacionais ou nacionais. Depende de todos.

A chave aqui está no povo, que, paradoxalmente, é a variável que sempre fica fora de todos as análises feitas sobre a Venezuela nos últimos anos.

Aqueles que diziam que era impossível realizar primárias cidadãs sem o envolvimento do regime, os que diziam que era impossível organizar e mobilizar a população para derrotar Maduro em condições absolutamente fraudulentas nas eleições, os que agora nos dizem que é impossível uma transição ordenada porque viria o caos — essa é a última narrativa do regime. O caos são eles.

Que outro caos poderia haver na Venezuela, em um país onde a população não tem o que comer, não pode ir à escola, não tem remédios nos hospitais?

Portanto, essa tese de que a Venezuela mergulharia no caos é absolutamente falsa, porque a chave está no povo, que vai acompanhar o processo de transição.

É claro que será muito difícil, duro, delicado e complexo. Eles destruíram tudo.

Nós não sabemos quais são as reservas da Venezuela. Não sabemos qual é o orçamento do país. Não sabemos quanto a PDVSA (a estatal petrolífera) produz, nem quanto é o gasto público. Não sabemos nada.

Não sabemos o que ocorre dentro da PDVSA, nem na Corte Suprema. Nada. Tudo é obscuro. Uma verdadeira caixa preta, cheia de corrupção, crime e máfia.

Então, claro que será um grande desafio, mas asseguro a vocês que haverá uma transição ordenada e pacífica, que é o que o povo determinou e que o povo vai garantir.

BBC Mundo - Que mensagem você envia a Maduro hoje?

Corina Machado - Pela paz na Venezuela, vá embora agora mesmo. E pelo seu próprio bem, porque com ou sem negociação, Maduro vai sair do poder muito em breve.

BBC Mundo - E qual é a mensagem que você envia aos venezuelanos que ainda o seguem?

Corina Machado - Eu sei que mesmo entre aqueles venezuelanos que estão sendo ameaçados — porque são funcionários públicos, porque lhes disseram que perderiam uma cesta básica se não comparecessem às convocatórias absurdas do regime, ou entre aqueles que estão sendo espionados e perseguidos pelas forças armadas, militares, policiais e tribunais — também existe esse desejo de viver com dignidade e liberdade.

São venezuelanos que chegam em casa e encontram suas geladeiras vazias, cujos filhos os questionam, que não podem olhar suas mães nos olhos, e que sabem que aqui não há futuro.

Enquanto isso, nós estamos de braços abertos dizendo: "vamos reencontrar este país, como já reencontramos 90% dele". Restam poucos. Esta vitória da Venezuela será histórica, não apenas para nós. Eu acredito que será histórica para a humanidade, porque é um povo que enfrentou as armas mais violentas e cruéis e decidiu se organizar, resistir e avançar civicamente, acreditando em nossa força e em nossas ideias.

E sinto que, hoje mais do que nunca, este movimento e esta força que emerge vão transcender nossas fronteiras. Isso não vai ficar apenas na Venezuela. Quando Maduro cair, veremos como o regime cubano vai cair, como o regime da Nicarágua vai cair, e teremos toda a América livre da tirania, das ditaduras e do narcoterrorismo.