Opinião
Campanha, fake news, judiciário e informação
O ano é 2022. No transporte coletivo que usa todos os dias no mesmo horário, José está vidrado em seu smartphone, vendo as redes sociais, quando um ‘post’ lhe chama atenção com uma foto e chamada muito forte: “candidato a governador desiste da disputa por conta de futura operação da Polícia Federal vazada”. Neste exato momento, José, crítico do candidato em questão, compartilha o conteúdo em sua rede de mensagens instantâneas e nas suas redes sociais com um simples texto abaixo: “A verdade sempre vem à tona”.
Neste instante surge um problema. O então candidato a governador não desistiu de nada. Não há planejada nenhuma operação da Polícia Federal e não há vazamento de informações de dentro da entidade. Somado a tudo isso, surge um fato político: uma ‘Fake News’ que deverá ser combatida ou ignorada pela assessoria do candidato e que, dependendo do volume, da quantidade de compartilhamento e engajamento, pode causar danos a campanha eleitoral do candidato e à sua honra.
Agora veremos como desenrola toda essa questão da ‘Fake News’ nas equipes de comunicação, jurídica e de mobilização. A comunicação analisa o ‘post’ tais como a arte feita e o texto redigido, o analista de mídia social busca acompanhar o tamanho da repercussão nas redes do candidato e dos seus seguidores, para mensurar o impacto e decidir se deve tomar alguma providência ou deixar cair no mar do esquecimento.
Mas, até a hora do almoço, entre uma garfada e outra, o ‘post’ que o José compartilhou estava viralizou. Acontece que não há verdade alguma no ‘post’ e a ‘Fake News’ sobre a campanha, e honra do candidato vai se deteriorando rapidamente, na velocidade da luz e em grandes proporções. Neste momento, é acionada, também, a equipe jurídica e de mobilização.
Em posse do conteúdo, buscam os meios legais para tirar o ‘post’ de circulação e impedir que ganhe mais engajamento e, com isso, visibilidade. Mas eles esbarram em alguns pontos delicados, tais como: o convívio com a mentira no mundo político é muito mais uma questão ética do que da Justiça. E só repercute no judiciário suas consequências, levando a uma nova questão: quem será o arbitro da verdade?
Enquanto a equipe de mobilização tenta manter o grupo de apoiadores unidos, alertando para ‘Fake News’ que está circulando atacando a honra e a imagem do candidato, alertados que a mentira está no conteúdo e não na forma. E, dessa forma, é preciso preparar respostas e argumentos que alertem a todos que o ‘post’ em circulação é uma grande mentira, com argumentos e informações precisas. E se estiver brecha, já atribuindo a responsabilidade por deplorável manobra a algum adversário.
Mas enquanto todas as equipes da campanha estavam se organizando e trabalhando a ‘Fake News’, a mentira estava ganhando corpo e correndo de celular em celular, às vezes vindo de aplicativos e contatos diferentes. E nesse mundo digital e conectado, não se combate a mentira e se restabelece a verdade com a mesma velocidade.
E enquanto se trabalha pra levar a verdade, pedindo que a Polícia Federal desminta que há investigação em curso e vazamento de informações, o candidato se prepara para gravar um vídeo assegurando que não desistiu da candidatura. Redatores escrevem o texto, mandam aos advogados e, depois do parecer jurídico, enviam-no para diretores de arte e social media, para produzirem o ‘post’ e publicarem no horário de maior engajamento.
O material logo é distribuído, também, para os apoiadores. Enfim, enquanto tudo isso é feito, todas essas pessoas envolvidas trabalham; em algum porão escuro, uma pessoa, com um celular e utilizando-se da conta de alguém que teve os dados vazados, tem em mãos mais duas ‘Fake News’ para os próximos dois dias.
É uma luta inglória. É como enxugar gelo. Tratamos nesse suposto caso de um candidato ao governo que tinha uma boa estrutura contemplando vários profissionais em suas fileiras. Agora, e se fosse uma campanha para deputado, vereador ou prefeito sem uma grande estrutura? Qual seria o tamanho do prejuízo democrático causado por uma ‘Fake News’? E qual a melhor forma de combater essa praga?
A única forma é com educação e informação, já que os artífices das ‘Fake News’ usam sempre a ignorância, a falta de conhecimento e a preguiça para fazer valer suas estratégias, fazendo das pessoas massas de manobra. Mas esse remédio não tem efeito imediato. É preciso que o poder público invista mais e mais em educação e informação, para que as pessoas ao terem contato com conteúdo falso possam pesquisar, comprovar a falsidade da informação e deixar o ‘post’ morar nas suas mensagens não lidas ou ‘posts’ sem engajamento. Já que a verdade nos libertará, é preciso educação e conhecimento para chegar à verdade.
Luiz Antônio Pereira é Produtor Executivo e Diretor Audiovisual