Até alguns meses atrás, os jornais e os sites em Mato Grosso, em sua maioria, tinham um caráter quase partidário em não reportar crimes e ‘esquemas’ no ‘seio’ do Tribunal de Contas de Mato Grosso(TCE).
É verdade que, nos orgãos de imprensa, o tom faccioso diluía-se em coberturas afinadas com os interesses dos conselheiros afastados do TCE: Antônio Joaquim, Valter Albano, Waldir Teis, Sérgio Ricardo e José Carlos Novelli, e tudo isso em troca de míseros pagamentos mensais.
Assim, não foi nenhuma surpresa quando a imprensa cuiabana ficou preocupada em não perder o ‘bonde’ da história e mostrou as ações nefastas, corruptivas e nada republicanas dos cinco conselheiros afastados e que foram divulgados pela Polícia Federal, na Operação Malebolge, Ministério Público Federal e Estadual, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux e ainda pelos ministros do Superior Tribunal de Justiça(STJ).
A descoberta da corrupção no TCE de Mato Grosso exigia astúcia e duplicidade. E para desenrolar isso, em 2015, os jornalistas Pedro Ribeiro, do Jornal e Site Página 12 e Laerte Lannes, do Jornal e Site O Mato Grosso publicaram uma série de reportagens sobre escândalos recentes dos conselheiros.
Eles chegaram até a serem presos, em uma ‘armação’ espúria protagonizada pelo conselheiro Antônio Joaquim e pelo seu advogado, José Rosa. Agora, com o passar dos tempos, a história mostra que os dois jornalistas estavam certos sobre a corrupção promovida pelos cincos conselheiros: Antônio Joaquim, Valter Albano, Waldir Teis, Sérgio Ricardo e José Carlos Novelli.
A Justiça tem reconhecido, nesse caso, a organização criminosa enraizada no Tribunal de Contas de Mato Grosso para assaltar os cofres públicos e a sua extensão, além do prédio do próprio TCE. Na época, os dois jornalistas apontavam para os riscos às liberdades individuais e de imprensa.
Assim, não foi nenhuma surpresa a revelação feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal(MPF) sobre a ‘dissimulação de patrimônio’ nas contas dos conselheiros José Carlos Novelli e Valter Albano. Os procuradores da República conjuntamente com policiais federais investigam os patrimônios dos dois.
Novelli, segundo dados da PF e do MPF, reside em um apartamento considerado de ‘luxo’, no edifício Domus Aurea em Cuiabá, e que pertence a uma terceira pessoa, João Oliveira, e que cuja renda não supera um salário mínimo. Além disso, o conselheiro fez várias transações financeiras com a Trimec Construções e Terraplanagem Ltda, que pertence ao empresário Wanderley Fachetti Torres.
De acordo com a Polícia Federal, o mesmo imóvel havia sido vendido pela Trimec, em 2004, ao conselheiro Novelli por R$ 190 mil e novamente adquirido pela Trimec em dezembro de 2011 por R$ 504 mil. Depois a empresa vendeu por 190 mil. Mais tarde adquiriu por 504 mil e revendeu para João de Oliveira por R$ 420 mil, configurando prejuízo a partir do preço adquirido.
Quanto a Albano, a PF e o MPF afirmam que o conselheiro foi sócio do Motel Las Vegas, avaliado por ele mesmo em R$ 4 milhões através de uma carta endereçada ao seu sócio na empresa, o empresário Luiz Mauro Soares da Silva.
A sociedade teria sido baixada em janeiro de 2018, ação tomada justamente por consequência na avaliação dos investigadores federais. O motel ainda funciona no bairro Santa Cruz em Cuiabá, no empreendimento de nome fantasia Las Vegas Motel, pertencente à sociedade empresarial Luiz Mauro Soares da Silva Cia Ltda.
O desenrolar das investigações da Polícia Federal, fez com que o ministro Raul Araújo, apontasse indícios suficientes para manter o afastamento dos cinco conselheiros. Mais revelações serão feita pela PF e pelo MPF no término das investigações.