Polícia

Advogado é denunciado por negligência após morte da própria mãe em Várzea Grande

Zelito Oliveira Ribeiro, curador provisório, teria abandonado cuidados essenciais da idosa L.A.R, que faleceu por pneumonia broncoaspirativa

DA REPORTAGEM 02/06/2025
Advogado é denunciado por negligência após morte da própria mãe em Várzea Grande
O advogado Zelito Oliveira Ribeiro, de 57 anos, está sendo denunciado por negligência grave e omissão de cuidados que teriam contribuído diretamente para a morte de sua própria mãe | Divulgação

O advogado Zelito Oliveira Ribeiro, de 57 anos, está sendo denunciado por negligência grave e omissão de cuidados que teriam contribuído diretamente para a morte de sua própria mãe, a senhora L.A.R, de 85 anos, ocorrida no dia 30 de maio de 2025. O denunciado deixou a mãe sem acompanhamento de profissionais de saúde (enfermeiros) e cuidadores durante cinco dias.

Na quarta-feira, 28, a idosa deu entrada na emergência do Hospital São Mateus com quadro de broncoaspiração (contéudo sólido e que foi para os pulmões). O agravamento do quadro da idosa se deu ao fato dela ficar três horas sem nenhum atendimento por parte do curador. 

A causa da morte, registrada na Declaração de Óbito número 40705181-3 emitido pelo Hospital São Mateus, em Cuiabá e pela Certidão de Óbito, foi pneumonia broncoaspirativa — condição comumente associada à ausência de alimentação adequada, o que levou a uma septicemia  e falta de acompanhamento clínico contínuo.

Zelito exercia a função de curador provisório judicial da mãe, quando esta recebeu alta hospitalar do mesmo Hospital São Mateus na quarta-feira, 23 de maio.

Segundo diversos documentos judiciais e laudos apresentados por outros filhos da idosa, ele teria falhado de forma reiterada em prestar assistência médica adequada, deixar de contratar enfermeiras, cuidadoras e profissionais de saúde e sequer garantir higiene, alimentação compatível e vigilância noturna.

Entre as irregularidades denunciadas ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, destacaram-se:
- Fornecimento de marmitas de bar ou restaurante sem supervisão nutricional ou sanitária como única forma de alimentação da idosa;

- Ausência total de cuidadora noturna, apesar do grave quadro clínico de Alzheimer em estágio terminal;

- Retirada de câmeras de monitoramento instaladas por outro filho, o que impediu a supervisão à distância da idosa;

- Imposição de restrições de visitas aos filhos, impedindo o acompanhamento familiar, inclusive no hospital quando a idosa estava internada;

- Desprezo pelas recomendações médicas, após internações em UTI por desnutrição, escaras e infecção pulmonar;

- Troca prejudicial do plano de saúde, saindo de apartamento para enfermaria coletiva, mesmo havendo saldo suficiente em conta bancária da curatelada;

- Não prestação de contas dos gastos da curatela, em violação ao artigo 84, §4º, da Lei nº 13.146/2015.


A situação se agravou após diversas internações da idosa por desnutrição grave, pneumonia, hipercalemia e escaras. Mesmo após a recomendação médica para internação e cuidados específicos, Zelito continuou mantendo-a em casa sem suporte adequado, o que, segundo os filhos, resultou em abandono assistencial e sofrimento desnecessário.

A indignação dos filhos é generalizada. Pedro Antônio Ribeiro, um dos filhos, classificou a morte da mãe como “um ato de descaso e omissão inaceitável”. Já o outro filho Ivan Antônio Ribeiro, afirmou: “É revoltante ver nossa mãe, uma mulher que dedicou a vida aos filhos, morrer por abandono. Lutamos na Justiça, fizemos denúncias, imploramos para cuidar dela. Mas o curador ignorou tudo.”

Edson Antônio Ribeiro, outro filho da idosa morta destacou o sofrimento emocional de toda a família: “É uma dor que poderia ter sido evitada. Ela foi deixada sem higiene, sem alimentação adequada, sem carinho. Ele tirou dela até o direito de ser acompanhada pelos filhos. Mas não vamos descansar enquanto ele não for responsabilizado”

Zelita Oliveira Ribeiro, filha e irmã gêmea do curador, reforçou: “É inaceitável. Minha mãe morreu sem dignidade, mesmo tendo uma família inteira pedindo para cuidar dela. A Justiça foi lenta, e agora já é tarde”.

Os familiares já tinham formalizados pedidos de remoção do curador, antes do falecimento da idosa, de prestação de contas judicial e estudam ações por dano moral, responsabilização civil e até criminal, com o apoio de advogados particulares.

A reportagem tentou contato com o advogado Zelito Oliveira Ribeiro, mas até o momento não houve retorno.

O caso também deverá ser comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), ao Ministério Público Estadual e ao Conselho Municipal do Idoso, para apuração de eventuais infrações disciplinares, éticas e cíveis.