José Geraldo Riva, o homem que por décadas comandou os maiores esquemas de desvio de dinheiro público em Mato Grosso, agora troca os tribunais e manchetes policiais por cartões-postais europeus. Condenado e delator de crimes que lesaram os cofres do estado em mais de R$ 500 milhões, o ex-deputado conseguiu na Justiça a autorização para realizar uma verdadeira eurotrip, com paradas luxuosas na Suíça e em Portugal — tudo para, oficialmente, participar da formatura da neta.

A decisão que abriu as portas do Velho Continente para Riva partiu do juiz João Francisco Campos de Almeida, do núcleo de Execuções Penais da 2ª Vara Criminal de Cuiabá. O magistrado expediu o alvará permitindo a viagem entre os dias 23 de junho e 6 de julho de 2025. No roteiro, hospedagens em hotéis de alto padrão como o Bristol e o Mercure, em Genebra, e o The Lisboans, em Lisboa.

A autorização veio acompanhada de advertências formais: Riva terá que manter os celulares ativos durante toda a viagem, apresentar relatórios com comprovantes dos eventos (incluindo a formatura) e se reapresentar ao juízo até 48 horas após o retorno.

Conhecido como o maior ficha suja do país, Riva liderou um verdadeiro consórcio da corrupção dentro da Assembleia Legislativa, usando empresas de fachada, notas frias e funcionários fantasmas para desviar cifras bilionárias.

Na tentativa de reduzir suas penas, tornou-se delator premiado, colaborando com a Justiça e entregando nomes de cúmplices em esquemas criminosos.

Agora, graças aos benefícios de sua colaboração e à morosidade em algumas execuções penais, Riva consegue circular livremente pelo mundo — e com o carimbo da legalidade.

A autorização judicial para o tour europeu do ex-deputado gerou revolta nas redes sociais e entre cidadãos que ainda sentem os efeitos da corrupção endêmica. “É um deboche com a população”, escreveu um internauta. “Riva passeando na Europa enquanto a saúde e a educação de Mato Grosso agonizam”, criticou outro.

As imagens que surgem do ex-deputado em restaurantes caros e pontos turísticos históricos contrastam com o que se esperaria de um réu confesso e colaborador da Justiça.

Em decisão paralela, a juíza Edna Ederli Coutinho também revogou a medida cautelar de retenção do passaporte de Riva, atendendo ao pedido da defesa para a participação na cerimônia da neta. A magistrada apontou que nos autos não existia decisão autônoma que impusesse restrição ao documento.

José Riva segue sendo o símbolo de um sistema onde crimes milionários podem ser convertidos em acordos e regalias, enquanto a população, vítima maior dos desvios, convive com os efeitos do colapso provocado por décadas de corrupção.