Polícia
Após tortura de aluna, governo transforma escola em cívico-militar em MT
Adolescentes envolvidas seguiam regras de facção; vítima foi espancada com cabo de vassoura e proibida de chorar durante agressão

A Escola Estadual Carlos Hugueney, em Alto Araguaia (415 km de Cuiabá), será transformada em uma unidade cívico-militar após uma aluna de 12 anos ser brutalmente espancada por colegas dentro da sala de aula. O caso ganhou repercussão nacional depois que o vídeo da agressão foi divulgado nas redes sociais nesta segunda-feira (4).
Segundo a Polícia Civil, quatro alunas — com idades entre 11 e 14 anos — agrediram a vítima com socos, tapas, chutes e até um cabo de vassoura. Ela foi forçada a ajoelhar-se, encurralada contra um muro e impedida de reagir. A ordem era clara: não podia chorar. Se chorasse, apanharia mais. A regra fazia parte de um conjunto de normas do grupo formado pelas próprias alunas, inspirado em facções criminosas.
A investigação revelou que pelo menos 20 estudantes participavam desse grupo, com estrutura própria, divisão de liderança e códigos de conduta. Uma das adolescentes já havia sido flagrada em companhia de membros de facção e com suspeita de envolvimento com o tráfico.
Diante da gravidade do caso, o secretário estadual de Educação, Allan Porto, anunciou nesta quarta-feira (6) que a escola será convertida em unidade cívico-militar. Policiais militares da reserva já estão sendo recrutados para atuar na disciplina e na administração da unidade.
“A diretora da escola concordou com a mudança. Vamos acolher as famílias e os profissionais da educação, mas também agir com firmeza. Não vamos permitir que escolas se tornem ambiente de criminalidade”, afirmou o secretário.
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A Justiça determinou a internação de três das quatro adolescentes envolvidas. Apenas a menor de 11 anos ficou isenta da medida por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que não permite internação de crianças abaixo dessa idade.
As jovens confessaram o crime e disseram já ter agredido outras colegas. A Polícia Civil encontrou vídeos das ações salvos nos celulares apreendidos. A investigação já foi concluída e encaminhada ao Ministério Público.
O delegado Marcos Paulo Batista de Oliveira classificou o grupo como um reflexo da “bandidolatria” que atrai adolescentes. “Elas imitavam organizações criminosas, com regras próprias, líder, punições e até ritual de agressão. A vítima foi espancada por ter descumprido essas normas. Uma delas era: não pode chorar durante o castigo”, explicou.