Polícia
O Biomédico da Fraude: chefe de esquema que falsificava exames, colocava vidas em risco e atuava como assessor da Câmara de Cuiabá é preso em MT
Operação apreendeu armas, munições e documentos que podem revelar contratos milionários e mortes ligadas à fraude

Igor Phelipe Gardes Ferraz, 37 anos, é acusado de comandar rede criminosa que enganou órgãos públicos, clínicas e pacientes.
Operação apreendeu armas, munições e documentos que podem revelar contratos milionários e mortes ligadas à fraude.
O biomédico Igor Phelipe Gardes Ferraz, responsável técnico e sócio-proprietário da rede de laboratórios Bioseg – Saúde e Segurança do Trabalho, foi preso preventivamente na manhã desta sexta-feira (15) pela Operação Contraprova.

Segundo a Polícia Civil, ele é o chefe de um esquema criminoso que falsificava exames laboratoriais em Cuiabá, Sinop e Sorriso, colocando em risco a vida de pacientes e causando prejuízos milionários ao poder público e à rede privada de saúde.
O golpe funcionava com precisão: amostras biológicas — incluindo testes de Covid-19, exames toxicológicos e análises para sífilis, HIV e hepatites — eram simplesmente descartadas.
Nenhuma análise era feita. Em vez disso, Igor fabricava laudos falsos que eram entregues a médicos, hospitais e pacientes como se fossem legítimos.
A Bioseg tinha contratos com órgãos públicos, como a Câmara Municipal e a Prefeitura de Cuiabá, além de prefeituras de cidades do interior, clínicas particulares, nutricionistas e convênios médicos. A estrutura dava aparência de legalidade ao que a polícia chama de “operação criminosa em escala industrial”.

A investigação já identificou casos em que a fraude pode ter custado vidas:
- Menino de 5 anos: vítima de acidente com líquido quente, teria tido todos os exames falsificados, segundo ex-funcionários. O atraso no tratamento pode ter contribuído para perda da voz, visão e, meses depois, para a morte.
- Idoso com doença grave: resultado suspeito fez médico repetir exame em outro laboratório, que comprovou a falsidade do laudo emitido pela Bioseg.
“Os fatos são gravíssimos. O biomédico detinha a confiança técnica e usava isso para manipular resultados, enganando médicos e colocando vidas em risco”, afirmou o delegado Rogério Ferreira.
A Operação Contraprova cumpriu 11 ordens judiciais, incluindo: Prisão preventiva de Igor; Busca e apreensão nas residências dos sócios e nas sedes da Bioseg; Interdição das três unidades do laboratório; mSuspensão do registro profissional de Igor e proibição de contratar com qualquer órgão público.

Durante as buscas, a polícia apreendeu armas, munições, computadores e documentos com anotações de valores que chegam a R$ 100 milhões.
Além de empresário e responsável técnico, Igor ocupava cargo comissionado como assessor parlamentar externo no gabinete do vereador Gustavo Padilha (PSB), nomeado em junho com salário de R$ 2.250. Após a prisão, foi exonerado.

A Câmara informou que rompeu os contratos com a Bioseg em maio. Já a Prefeitura de Cuiabá disse que a operação é fruto de denúncia encaminhada pelo atual Executivo e que todos os contratos da gestão anterior estão sob revisão.
Igor e os demais investigados poderão responder por estelionato, falsificação de documento particular, peculato e associação criminosa. As penas somadas podem ultrapassar 25 anos de prisão, além de multa.
“É um caso que mistura fraude, corrupção e risco à saúde pública em larga escala. E no centro de tudo está o biomédico que tinha a obrigação de garantir a segurança dos pacientes”, disse um investigador.