Polícia
Da farda à prisão: Tenente da PM pode ser expulso após tiros no trânsito
Após uma batida banal, tiros à queima-roupa, falsa denúncia de furto e um histórico de violência colocam oficial no centro de um escândalo que pode resultar na perda da farda e da patente
O caso que chocou Cuiabá neste sábado (27) ganhou contornos ainda mais graves. Preso por tentar matar um motorista de aplicativo durante uma briga de trânsito, o tenente da Polícia Militar Rennan Albuquerque de Melo, de 34 anos, agora enfrenta não apenas a Justiça comum, mas também o risco concreto de expulsão da corporação.
A prisão foi realizada por investigadores da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com apoio da corregedoria da PM e da Força Tática. O militar foi localizado em um condomínio na região do Ribeirão da Ponte, onde também foram apreendidos três aparelhos celulares, que passarão por perícia.
O episódio ocorreu na tarde de quinta-feira (19), no bairro Goiabeiras. Após uma colisão leve entre um Nissan Versa, conduzido pela vítima, e um Jetta, os motoristas iniciaram uma discussão. Segundo a investigação, o condutor do Jetta sacou uma arma de fogo e disparou diversas vezes contra o carro do motorista de aplicativo.
A vítima foi atingida por um tiro na cabeça e outro na coxa, escapando da morte por poucos centímetros. Ferido, correu pelas ruas pedindo ajuda e foi socorrido até o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), onde recebeu atendimento de emergência.
Logo após o ataque, veio o que a polícia classifica como uma tentativa de encobrir o crime. Um boletim de ocorrência foi registrado informando que o veículo usado no ataque teria sido furtado. A versão, no entanto, desmoronou rapidamente.
Imagens analisadas pela DHPP mostram o próprio tenente dirigindo o carro, parando em um posto de combustível logo depois de registrar a suposta ocorrência de furto. Para os investigadores, a manobra teve um único objetivo: afastar a autoria da tentativa de homicídio.
A arma utilizada nos disparos não foi localizada e, segundo a perícia preliminar, não pertence ao arsenal oficial da PM. Os projéteis são de calibre .380. O agravante é que Rennan estava afastado das funções e com o porte de arma suspenso desde janeiro, em razão de procedimento disciplinar anterior.
Mesmo assim, circulava armado — e usou a arma em um ataque violento no meio do trânsito.
O caso atual se soma a outros episódios graves atribuídos ao militar. Em janeiro, câmeras de segurança flagraram o tenente enforcando um adolescente de 15 anos dentro do condomínio onde mora. Em outra ocorrência, ele foi denunciado por agredir um idoso de 60 anos durante uma suposta abordagem.
Esses antecedentes agora pesam diretamente no Conselho de Justificação, procedimento interno que pode resultar na perda do posto e da patente — a punição máxima dentro da corporação.
Além de responder por tentativa de homicídio, o policial é investigado por falsa comunicação de crime, fraude processual e adulteração de sinal identificador de veículo. Ele será submetido à audiência de custódia nas próximas horas.
Em nota, a Polícia Militar de Mato Grosso confirmou que acompanha o caso e reforçou que não compactua com crimes praticados por seus integrantes.
Da farda à prisão, o episódio escancara quando uma discussão banal no trânsito se transforma em violência armada — e quando a própria corporação é chamada a decidir se o acusado permanece PM ou se tornará ex-PM.