Política
Para PF, recuo de Bolsonaro de intervenção no Rio mostrou blindagem à ingerência política
Na avaliação de integrantes da Polícia Federal (PF) ouvidos pelo blog, o recuo do presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (16) sobre o comando Superintendência Regional no Rio de Janeiro mostrou que a instituição conseguiu blindar a tentativa de ingerência política.
O blog apurou que, por muito pouco, não houve uma entrega coletiva de cargos de comando da Polícia Federal com a fala de Bolsonaro para substituir o superintendente do Rio de Janeiro pelo superintendente da PF de Manaus.
Na avaliação de um delegado experiente, esse movimento deixaria exposto um Bolsonaro junto ao seu eleitorado contrariando um discurso de campanha de não interferência política em investigações, o que causaria forte desgaste à imagem do governo. Por isso, na avaliação de integrantes da PF, aconteceu o recuo do presidente.
Integrantes da corporação já tinham manifestado preocupação com o movimento feito pelo governo para tirar do comando do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), o auditor fiscal Roberto Leonel.
Isso aconteceu depois que Leonel criticou a decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender temporariamente todas as investigações em curso no país que tenham como base dados sigilosos compartilhados pelo Coaf e pela Receita Federal sem autorização prévia da Justiça.
O pedido para suspender as investigações foi feito pela defesa de um dos filhos do presidente Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que teve movimentações bancarias atípicas identificadas pelo Coaf.
O governo avalia tirar o Coaf do Ministério da Economia e colocá-lo sob a estrutura do Banco Central, por meio de Medida Provisória.
Delegados da PF avaliam que a renovação da instituição nos últimos anos acabou criando uma espécie de proteção para intervenções políticas que eram comuns no passado recente.
Essa blindagem ficou evidente durante a gestão petista que tentou mudar o comando da PF durante as investigações da Operação Lava Jato, e também durante o governo de Michel Temer.
O ex-presidente decidiu demitir o delegado Fernando Segóvia da direção-geral da Polícia Federal após ele sinalizar o arquivamento de investigações que envolviam Temer.