Política
Número 2 da PF volta a depor, muda versão e diz que Ramagem o convidou para ocupar cargo
Este foi o segundo depoimento prestado por Sousa. No primeiro, conforme o relatório do depoimento, ele disse que "ninguém" o havia procurado sobre assumir o cargo de diretor-executivo. Mas, conforme o relatório do novo depoimento, pediu para mudar a versão. E informou que Ramagem o procurou.
Sousa prestou os depoimentos no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro interferiu na Polícia Federal. Quando anunciou a demissão do Ministério da Justiça, em 24 de abril, Sergio Moro afirmou que Bolsonaro interferiu ao tentar trocar o comando da corporação. O presidente nega.
"O depoente [Sousa] gostaria de esclarecer que foi procurado no dia 27 de abril do corrente ano pelo delegado de polícia Alexandre Ramagem, que perguntou para ele, depoente, se aceitaria ser diretor-executivo da Polícia Federal durante sua gestão; que o depoente afirmou que aceitaria", informa o relatório do depoimento.
Não consta do relatório uma explicação sobre a mudança na versão.
Diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da PF em 28 de abril.
Um dia depois, porém, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), barrou a nomeação.
Ramagem é amigo da família Bolsonaro e, para Moraes, houve desvio de finalidade na nomeação dele.
Encontro com Bolsonaro
No novo depoimento prestado à PF, Carlos Henrique de Sousa afirmou que, no segundo semestre de 2019, Alexandre Ramagem o convidou para um encontro com Bolsonaro.
Segundo o diretor-executivo da PF, Ramagem disse na ocasião que "seria importante" conhecer Bolsonaro.
Conforme Sousa, o assunto foi comunicado ao então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, que "autorizou essa audiência".
Indagado, então, por que seria interessante conhecer Bolsonaro, Carlos Henrique de Sousa respondeu que não sabia dizer.
"Perguntado se durante a audiência com o presidente Bolsonaro e o delegado Ramagem houve algum tipo de questionamento ao depoente pelo presidente da República ou pelo delegado Alexandre Ramagem, [Sousa] respondeu que não; que a reunião durou cerca de 20 a 30 minutos e que durante essa reunião escutou o presidente falar de sua trajetória como normalmente ele fala ao público; que nessa reunião o presidente Jair Bolsonaro não mencionou a investigação da Polícia Federal sobre o atentado a sua vida".
Chefia da PF no Rio de Janeiro
Carlos Henrique de Sousa também foi questionado nesta terça-feira se Bolsonaro sabia que ele havia sido indicado para o cargo de superintendente da PF no Rio. Ele respondeu que o presidente "não disse isso diretamente".
Ex-chefe da PF no Rio, Sousa assumiu o posto no ano passado após críticas de Bolsonaro ao então superintendente, Ricardo Saadi.
Segundo Sergio Moro, Bolsonaro se referiu à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro quando falou que poderia troca a "segurança" no estado durante a reunião ministerial de 22 de abril.
Bolsonaro, por sua vez, diz que se referia à segurança pessoal dele no estado, feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O Jornal Nacional mostrou no entanto que, em vez de demitir o responsável pela segurança no Rio de Janeiro, Bolsonaro promoveu o segurança.
Diretoria de Inteligência
Também prestou depoimento nesta terça-feira o delegado da PF Claudio Ferreira Gomes. Segundo ele, todos os pedidos de informação feitos pela Abin foram atendidos na gestão dele à frente da Diretoria de Inteligência da PF.
Segundo Moro, Bolsonaro costumava reclamar que não recebia relatórios de inteligência da PF.
O próprio presidente disse, em pronunciamento, que se dirigiu ao então ministro Sergio Moro e afirmou: "Moro, não tenho informações da Polícia Federal. Eu tenho que todo dia ter um relatório do que aconteceu, em especial, nas últimas 24 horas, para poder bem decidir o futuro dessa nação"."[Gomes disse] que todas as demandas apresentadas pela Abin, na condição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, SISBIN, e responsável por estabelecer as necessidades de conhecimentos específicos a serem produzidos pelos órgãos que constituem o SISBIN, [...], foram atendidas pela Diretoria de Inteligência durante a gestão do depoente [Gomes]; que não chegou ao conhecimento do depoente qualquer informação sobre eventual falha ou queda de produtividade na produção de documentos de inteligência repassados às instâncias superiores."