Política
Regina Duarte deixa a Secretaria da Cultura para assumir a Cinemateca em São Paulo
Alvo de críticas da ala olavista do Governo mesmo antes de assumir a secretaria, Duarte enfrentou dificuldades até o último momento para fechar sua equipe.
O pesquisador Aquiles Brayner, por exemplo, indicado para a diretoria do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas, foi demitido três dias após sua nomeação, devido à pressão de perfis bolsonaristas nas redes sociais. Depois, Brayner afirmou que tais grupos formam um “grande complô para derrubar qualquer ação legítima no âmbito da cultura”.
Os momentos mais marcantes da breve passagem da atriz pela pasta foram seu silêncio perante as mortes de pilares da cultura brasileira, como o cantor e compositor Moraes Moreira, o escritor Rubem Fonseca e o compositor Aldir Blanc.
Cobrada por profissionais do setor e pela imprensa, Duarte afirmou, em entrevista à CNN, no dia 7 de maio, que preferiu prestar suas condolências diretamente às famílias dos mortos —informação depois negada pelos familiares dos artistas.
A entrevista à CNN foi, quiçá, o adeus inicial à Secretaria Especial de Cultura. Durante a conversa, ela minimizou as mortes ocorridas durante a ditadura militar brasileira, chegando a rir sobre o assunto enquanto cantava a marchinha Pra Frente Brasil, símbolo da época.
A entrevista acabou tornando-se um bate-boca entre a então secretária da Cultura e os apresentadores, e Duarte encerrou a conversa ao vivo, recusando-se a responder mais perguntas.
Ida para a Cinemateca
A atriz assume agora a Cinemateca em São Paulo, instituição federal com mais de 70 anos que se dedica a preservar a produção audiovisual brasileira. O mais cotado para substituí-la na Secretaria é o ator Mário Frias, que se encontrou ontem com Bolsonaro em um almoço, que também contou com as presenças dos presidentes de Vasco e Flamengo, para discutir a volta dos jogos de futebol no país.
O que Duarte considera um “presente” mais parece um presente de grego. A Cinemateca Brasileira está mergulhada em uma crise financeira e passou a ser ocupada por militares e políticos contrários aos que dizem ser o “marxismo cultural”.
A Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), entidade que gere a Cinemateca, parou de receber os devidos recursos federais desde o vencimento do contrato de gestão em dezembro de 2019, e afirma que a Cinemateca —responsável pela gestão de mais de 250.000 rolos de filmes, além de além de um milhão de documentos que contam a História do cinema brasileiro— está sendo mantida com o dinheiro de caixa da instituição. A Acerp também afirma que os salários dos funcionários estão atrasados, situação agravada pela pandemia.
Além disso, desde setembro do ano passado, conforme noticiou o jornal Folha de S. Paulo, militares e políticos com agenda conservadora têm ocupado a Cinemateca e realizado reuniões para discutir eventos e a programação cultural da instituição. Em outubro, foi realizada uma mostra de filmes militares.
Na Cinemateca, Regina Duarte terá de conviver com Rodrigo Morais, assessor especial da Acerp e responsável por projetos. Ex-secretário-geral do PSL em São Paulo e próximo a Eduardo Bolsonaro, Morais também é admirador com as ideias de Olavo de Carvalho, principalmente a tese de que a direita deve combater a hegemonia cultural de esquerda.
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