Política

Deputado Glauber Braga e 3 alunos são detidos em desocupação na Uerj; PM usa bomba de efeito moral

Juíza determinou uso de força policial suficiente e 'necessária à desocupação completa dos prédios da Uerj'. Parlamentar do PSOL foi ao local para dar apoio aos estudantes e ajudar nas negociações com a PM, e também acabou detido; um policial ficou ferido

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 20/09/2024
Deputado Glauber Braga e 3 alunos são detidos em desocupação na Uerj; PM usa bomba de efeito moral
O deputado federal Glauber Braga, que estava no local para apoiar os alunos da Uerj, também foi detido pela PM | Reprodução TV Globo

deputado federal Glauber Braga (PSOL) e três estudantes foram detidos nesta sexta-feira (20) durante a ação de desocupação da Universidade Estadual do Rio (Uerj). Todos foram levados para a Cidade da Polícia.

Policiais militares cumpriram a decisão judicial da 13ª Vara de Fazenda Pública, que determinava a reintegração de posse com a desocupação completa dos prédios da universidade, onde desde julho estão acampados alunos que protestam contra o corte de benefícios de bolsistas (entenda).

No início da tarde, policiais do Batalhão de Choque da PM entraram na universidade e utilizaram bombas de efeito moral. A entrada dos policiais ocorreu às 13h20, pelo portão 7 da Uerj.

Segundo testemunhas, os estudantes jogaram pedras e pedaços de madeira contra os policiais, que revidaram as agressões.

Segundo a Reitoria da Uerj, um policial ficou ferido e foi levado para o hospital -- ainda não há informação sobre o estado de saúde dele. Não houve registro de estudantes feridos.

O deputado federal Glauber Braga, que estava no local para apoiar os alunos da Uerj, também foi detido pela PM — Foto: Reprodução TV Globo

O deputado federal Glauber Braga, que estava no local para apoiar os alunos da Uerj, também foi detido pela PM — Foto: Reprodução TV Globo

Manifestantes colocaram fogo em pneus na Avenida Rei Pelé (antiga Radial Oeste), uma das principais vias da Zona Norte.

Estudantes que estavam do lado de fora da universidade tentaram entrar no local para apoiar os colegas. A desocupação foi confirmada pela Polícia Militar às 15h10.

Tentativas de desocupação

Durante a semana, a juíza Luciana Losada já tinha decidido pela desocupação, mas com 24 horas de prazo para liberação da reitoria e das salas de aula.

Os alunos descumpriram a primeira decisão judicial e seguiram ocupando os prédios da universidade. Houve confrontos entre seguranças e estudantes, com portas quebradas e um aluno arrastado durante uma tentativa de invasão do campus.

Nesta sexta, houve nova decisão, que a juíza Luciana Losada autoriza o "uso de força policial suficiente e necessária à desocupação completa dos prédios da Uerj".

Uerj tem confusão durante desocupação; PM usa bomba de efeito moral — Foto: Reprodução TV Globo

Uerj tem confusão durante desocupação; PM usa bomba de efeito moral — Foto: Reprodução TV Globo

Antes do início do confronto, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, tentou dialogar e fez um apelo aos estudantes que estão na ocupação:

"Vamos continuar abertos, vamos continuar querendo conversar, mas a universidade tem que voltar a funcionar. O apelo é que eles saiam antes que a gente precise assistir ao uso de força policial."
Alunos ocupam a Uerj, no Maracanã — Foto: Reprodução TV Globo

Alunos ocupam a Uerj, no Maracanã — Foto: Reprodução TV Globo

Polícia faz ação para retirar estudantes da Uerj após Justiça determinar reintegração de posse — Foto: Reprodução TV Globo

Polícia faz ação para retirar estudantes da Uerj após Justiça determinar reintegração de posse — Foto: Reprodução TV Globo

Ocupação desde julho

A ocupação, iniciada em 26 de julho, é um protesto contra os novos critérios para a concessão da bolsa de apoio à vulnerabilidade social e o Ato Executivo de Decisão Administrativa (AEDA), de 1º de agosto.

Os estudantes, que apelidaram o AEDA de "AEDA da fome", afirmam que as mudanças prejudicaram cerca de 5 mil universitários.

A Uerj afirma que o número de alunos afetados é de cerca de 1,6 mil e que estes ainda recebem outros auxílios.

Cerca de 26 mil alunos do campus do Maracanã estão sem aulas desde 26 de julho. A decisão de desocupação é liminar. A Justiça marcou uma audiência para o dia 2 de outubro para discussão do pleito dos alunos.

Atualmente, 2,6 mil estudantes estão na categoria de vulnerabilidade social. Eles entraram na faculdade pela ampla concorrência e, durante a matrícula, comprovaram a renda e passaram pelo sistema de avaliação socioeconômica.

Esses estudantes têm direito a alguns auxílios:

  • auxílio material: para pagar despesas com livros e impressões. Deveria ser pago duas vezes ao ano, a cada semestre, no valor de R$ 1,2 mil;
  • auxílios alimentação e passagem: R$ 300 cada;
  • bolsa de apoio a vulnerabilidade social: R$ 706 por mês com duração de dois anos.

Os alunos dizem que atrasos são constantes e que o auxílio material, que deveria ter sido pago dia 5 de julho, não caiu na conta.

O corpo estudantil diz ainda que foi pego de surpresa, no meio das férias, com mudanças nos critérios de pagamento de alguns desses auxílios. As alterações começaram em 1º de agosto. Entre as principais mudanças anunciadas pela faculdade, estão:

  • corte no auxílio alimentação;
  • redução pela metade do auxílio ao material didático;
  • limitação de 1,3 mil estudantes para auxílio creche;
  • mudança no critério da bolsa de apoio a vulnerabilidade social.

Até o momento, estudantes contemplados tinham que comprovar uma renda bruta de até um salário mínimo e meio por pessoa da família. Agora, será de apenas meio salário mínimo. Segundo os alunos, mais de 5 mil vão perder o benefício por causa da redução no critério.

O que dizem os envolvidos

A Uerj, em nota, confirmou a desocupação da instituição na tarde desta sexta. A direção da universidade lamentou que a situação tenha chegado nesse ponto e afirmou que tentou negociar de forma pacífica com os estudantes.

"Na ação determinada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi concluída a desocupação do pavilhão João Lyra filho e assinada a reintegração de posse dos espaços da Uerj. Houve inicialmente a entrada dos oficiais de justiça e da comissão de direitos humanos da OAB, para empreender uma negociação. Na sequência, se deu a entrada das forças policiais no campus Maracanã da Universidade. Ao longo do procedimento, um policial se feriu e foi levado para o hospital. Entre os estudantes, não houve registro de feridos até então.

A maior parte dos grupos da ocupação se evadiu antes que os agentes pudessem identifica-los. Outros, no entanto, foram detidos e levados para registro de ocorrência, visto que se encontravam em descumprimento de decisão judicial. No caso dos grupos que deixaram o campus, há imagens de ataques violentos dos manifestantes, atirando pedras e até um rojão em direção à tropa de policiais. Já há a confirmação de que novas depredações foram feitas pelos ocupantes, para além das registradas no momento da invasão da Reitoria, no dia 26/7.

A Reitoria da UERJ lamenta profundamente que, apesar de todos os esforços de negociação - oito reuniões com entidades representativas dos estudantes, audiência de conciliação com a juíza do Tribunal de Justiça -, a situação tenha chegado a esse ponto de intransigência por parte dos grupos extremistas da ocupação."

Em nota, a PM informou que policiais militares atuaram em auxílio ao Poder Judiciário para cumprimento de uma decisão judicial na Uerj, Campus Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro.

"Até o momento, policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) e do 6ºBPM desobstruíram a Rua São Francisco Xavier, após manifestantes atearem fogo em objetos. Ocorrência em andamento. Equipes do Grupamento Aeromóvel (GAM) sobrevoam a região , que está com o policiamento reforçado", dizia a nota.

Já o deputado Glauber Braga se manifestou através de sua assessoria de imprensa.

"Ao defender os estudantes da UERJ que estavam sendo ameaçados e agredidos pela Tropa de Choque (que pela primeira vez na história entrou na UERJ!), o deputado federal Glauber Braga foi detido.

Os estudantes participavam de uma ocupação na universidade, lutando contra cortes no orçamento da política de permanência estudantil destinada a estudantes pobres.

Glauber está sendo levado junto com mais 3 estudantes nessa reintegração de posse absurda. É uma detenção ilegal, já que um deputado federal só pode ser detido em flagrante por crime inafiançável.

Assim funciona o autoritarismo e a truculência de Cláudio Castro e da reitoria da UERJ. Lutar não é crime! Abaixo o autoritarismo e a repressão!"

Também em nota, o presidente do Psol do Rio de Janeiro, Juan Leal, disse que o partido está acompanhando os estudantes desde o início da ocupação.

"Estivemos em contato com representantes da reitoria para que fossem atendidas as demandas dos alunos e assim, a retomada dos benefícios estudantis, já que a perda dessas bolsas prejudica, principalmente, aqueles estudantes que mais necessitam.

Ao mesmo tempo, condenamos de forma veementemente o uso de espetacularização e força para a resolução desta situação. Bombas, caveirão e uso de armas menos letais contra um grupo de estudantes expõe de forma grotesca e desproporcional os limites entre uma instituição democrática como a UERJ e o autoritarismo característico do estado governado por Cláudio Castro, o governador das chacinas.

Nosso bravo companheiro, deputado federal do Psol, Glauber Braga, estava no local para a proteção e a defesa dos estudantes contra a iminente violência deflagrada. Ao cumprir seu papel enquanto representante do povo fluminense, foi detido e encaminhado a uma delegacia. Estamos nos deslocando para a mesma e em breve teremos mais informações", dizia a nota assinada por Juan.