Política

Os motivos citados por Eduardo Bolsonaro para ficar nos EUA, sem cargo

Eduardo não é oficialmente investigado nem foi denunciado ou indiciado em nenhum processo judicial até o momento

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 18/03/2025
Os motivos citados por Eduardo Bolsonaro para ficar nos EUA, sem cargo
Eduardo Bolsonaro anuncia em vídeo que pretende ficar nos Estados Unidos | YOUTUBE

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou em um vídeo publicado em suas redes sociais nesta terça-feira (18/3) ter tomado "a decisão mais difícil de sua vida".

Ele afirmou que vai se licenciar do mandato na Câmara para ficar nos EUA e se dedicar em tempo integral a convencer o governo Donald Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro no Brasil e para obter sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do processo sobre golpe de Estado no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi denunciado.

Eduardo não é oficialmente investigado nem foi denunciado ou indiciado em nenhum processo judicial até o momento.

A Procuradoria Geral da República (PGR) analisa um pedido de parlamentares petistas para que o deputado tivesse seu passaporte retido e fosse impedido de ir aos EUA. Eventual medida dependeria da anuência do STF.

"Não irei me acovardar, não irei me submeter ao regime de exceção e aos seus truques sujos", afirmou Eduardo, que chama Moraes de "psicopata", "homem de geleia" e o acusa de ser o chefe da "gestapo da Polícia Federal", em uma referência à polícia secreta da Alemanha nazista de Hitler.

Em pouco mais de um mês desde a posse de Trump, Eduardo foi aos EUA quatro vezes, em uma intensa campanha para que parlamentares americanos, empresários e integrantes da Casa Branca tomassem medidas públicas contra o governo brasileiro.

A campanha ocorre diante da possibilidade cada vez mais concreta que Bolsonaro, já inelegível até 2030, seja julgado pelo STF em breve. A Corte decidirá em 25 de março se o presidente se tornará réu após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Bolsonaro nega todas as acusações.

O trabalho de articulação de Eduardo resultou em uma nota recente do Departamento de Estado dos EUA acusando o Brasil de praticar censura pelas decisões do STF em relação a redes sociais como o X, do bilionário trumpista Elon Musk, e da Rumble, rede recentemente tirada do ar em território brasileiro e cujos advogados processam Moraes em parceria com a Trump Media, empresa do presidente americano que controla a rede Truth Social.

Eduardo Bolsonaro em pé enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump fala durante a Conferência de Ação Política Conservadora

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Trump citou Eduardo Bolsonaro durante discurso na Conferência de Ação Política Conservadora

Nos EUA, desde que voltou ao poder, Trump concedeu perdão presidencial a todos os envolvidos nos atos de 6 de janeiro e desmobilizou procuradores do Departamento de Justiça nas investigações dos atos.

Ele próprio era alvo das apurações por seu suposto papel de instigar a massa de trumpistas para tentar subverter o resultado da eleição de 2020, na qual foi derrotado. O caso foi encerrado depois de sua eleição ao menos até que Trump deixe a Casa Branca.

Ele não chegou a ser julgado e sempre negou as acusações. Trump acusa o Judiciário dos EUA de ter sido politicamente aparelhado e segue repetindo, sem provas, que a eleição de 2020 foi fraudada.

Diante da movimentação do deputado brasileiro nos EUA, parlamentares petistas pediram ao STF que sua atuação fosse investigada por estar supostamente prejudicando o Brasil e que seu passaporte fosse retido. Moraes, relator do caso, pediu que a PGR se posicione antes de tomar qualquer decisão.

À BBC News Brasil, Eduardo negou que pedisse sanções ou tarifas contra os brasileiros, mas admitiu que tampouco fazia gestões para aliviá-las, concentrando sua pauta na defesa ao pai. Algo que ele reafirma agora, em seu vídeo.

Eduardo diz que a oposição a ele vinha tentando usar seu mandato "como um cabresto".

"Seria mais confortável ficar quieto, recebendo um excelente salário e fingindo defender os paulistas e meus irmãos brasileiros, do que enfrentar esse sistema covarde e desumano. Mas eu não aceitei esse chamado para ter conforto ou comodidade", disse Eduardo, que pleiteava o posto de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

Eduardo viajou pela última vez aos EUA, com toda a família, durante o Carnaval. E não retornou mais ao Brasil. Seus aliados radicados no país, como o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo, que vive na Flórida e foi denunciado pela PGR no processo de tentativa de Golpe, vinham advogando que Eduardo não mais retornasse ao Brasil, porque haveria um risco de ele vir a ser preso. Não existe qualquer pedido de prisão público contra o deputado, que não é até o momento alvo da Justiça nas investigações referentes à tentativa de golpe de Estado que envolvem seu pai.

"Não é fácil saber que o meu pai pode ser injustamente preso e talvez eu jamais tenha a chance de reencontrá-lo pessoalmente de novo", diz Eduardo.

A BBC News Brasil entrou em contato com Eduardo Bolsonaro após a divulgação do vídeo, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.