Política

Após virar réu, Bolsonaro diz que acusação de golpe é 'infundada' e repete ataques a urnas

Por unanimidade, Primeira Turma da Corte aceitou denúncia da PGR contra ex-presidente e sete aliados. Com a decisão, será aberta uma ação penal e grupo vai a julgamento pelo STF

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 26/03/2025
Após virar réu, Bolsonaro diz que acusação de golpe é 'infundada' e repete ataques a urnas
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu aceitar a denúncia contra ele e outros sete ex-integrantes do seu governo | STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou nesta quarta-feira (26) que tenha participado de uma tentativa de golpe de Estado. Ele disse também que as acusações contra ele são "graves e infundadas".

Bolsonaro deu as declarações instantes depois de se tornar réu, no Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe. A Primeira Turma da Corte, por unanimidade, decidiu aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente e mais sete aliados, o chamado "núcleo crucial" da trama golpista.

"Eu espero hoje botar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim. A acusação é muito grave, e são infundadas. E não é da boca para fora", afirmou Bolsonaro.

Em declaração à imprensa, ele afirmou que, enquanto presidente, pediu a desmobilização de movimentos que pediam intervenção militar no país e que colaborou com a transição do governo dele para o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Golpe tem povo, mas tem tropa, tem armas e tem liderança. Um ano, dois anos de investigação, não descobriram quem porventura seria esse líder", declarou Bolsonaro.

O ex-presidente lembrou o pronunciamento que fez no Palácio da Alvorada no dia 2 de novembro, logo após ter sido derrotado por Lula na eleição presidencial de 2022.

Ele afirmou que, na ocasião, disse que manifestações pacíficas eram bem-vindas e que atos não podiam resultar em invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir.

"Ato contínuo, começamos a transição. Alguns dias depois desse pronunciamento, os caminhoneiros começaram a obstruir vias pelo Brasil. Eu fiz um vídeo pedindo que eles desmobilizassem. Não tinha intenção nenhuma em parar o Brasil, criar um caos ou estava pensando em outra coisa", disse.

Na sequência afirmou que, durante a transição governamental, reuniu-se com José Múcio Monteiro, que havia sido escolhido por Lula para assumir o Ministério da Defesa. E que Múcio pediu "um apoio" a ele.

"Ele [Múcio] foi pedir um apoio para mim, para que tivesse mais acesso aos respectivos ministérios. No dia seguinte, foi atendido em tudo. Voltou, depois, a entrar em contato conosco e pediu que eu nomeasse os comandantes militares indicados pelo presidente eleito, Lula da Silva. Foi o que eu fiz. Em dezembro, nomeamos dois comandantes. O outro saiu mais no final. Atendi ao presidente Lula. Se tivesse qualquer ideia de força, não deixaria os comandantes do Lula assumirem", afirmou.

No entanto, a acusação da PGR aponta que Bolsonaro não tomou ações para tirar acampamentos golpistas da frente dos quartéis do Exército país afora.

A acusação também diz que, durante o período da transição para o governo Lula, Bolsonaro manteve reuniões com assessores e militares para tramar o golpe de Estado.

Bolsonaro dá entrevista após virar réu no STF — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Bolsonaro dá entrevista após virar réu no STF — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Bolsonaro afirmou que não compareceu ao STF nesta quarta porque "sabia o que ia acontecer" e disse que parece que há algo "pessoal" contra ele. Ele acompanhou a transmissão no gabinete do filho senador, Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Na terça, primeiro dia de julgamento, ele foi à reunião da Primeira Turma.

"Ontem [terça], eu fui ao Supremo. A decisão foi na última hora, vocês se surpreenderam. Hoje [quarta], resolvi não ir. Motivo: obviamente, eu sabia o que ia acontecer", disse.

No pronunciamento que fez nesta quarta, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas infundadas e a fazer acusações já desmentidas contra as urnas eletrônicas.

"Não sou obrigado a confiar, a acreditar no programador [das urnas]. Confio na máquina, não sou obrigado a confiar no programador", disse.

Minuta do golpe

Na declaração que fez à imprensa, Bolsonaro comentou sobre a "minuta do golpe", um documento encontrado durante as investigações que previa intervenção das Forças Armadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O ex-presidente disse que não assinou a minuta e que teria que convocar os conselhos da República e da Defesa para dar andamento à ideia.

"Aí seria o primeiro passo. Não adianta botar um decreto na frente do presidente, de estado de Defesa e assinar que está resolvido. Não convoquei os conselhos da República e da Defesa. Nem atos preparatórios houve pra isso. Se é que você trabalhar com um dispositivo constitucional é sinal de golpe. Golpe não tem lei, não tem norma", afirmou.

"Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do Judiciário, setores da economia, fora do Brasil, Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe. Nada disso houve", acrescentou.

Próximos passos

Agora, os acusados passarão a responder a um processo penal — que, após a coleta de provas e tomada de depoimentos, pode levar a condenações com penas de prisão.

Ainda não há uma data para o julgamento que pode condenar ou absolver Bolsonaro e os aliados, mas a expectativa no Judiciário é de que ocorra ainda neste ano, de forma a evitar que o tema contamine o processo eleitoral de 2026.

Com o recebimento da denúncia da PGR pelo STF, tornaram-se réus nesta quarta-feira:

  1. Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
  2. Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
  3. Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  4. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  5. General Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
  6. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
  7. Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  8. Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro.

Esses oito nomes compõem o chamado "núcleo crucial" da tentativa de ruptura democrática, segundo a PGR.