Política
Itamaraty ignora esforços de Israel para nomear novo embaixador no Brasil
Atual representante israelense deve deixar Brasília na semana que vem sem sucessor aprovado

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil teria ignorado os últimos esforços da chancelaria israelense para manter um representante de Israel no Brasil, a poucos dias da partida do embaixador Daniel Zonshine.
A CNN apurou que representantes da embaixada de Israel se reuniram com o setor do Itamaraty responsável pelo Oriente Médio para apresentar uma lista de medidas que poderiam convencer o Brasil a destravar a nomeação de um novo embaixador israelense em Brasília.
Durante as reuniões, teriam sido mencionadas algumas possibilidades, com o objetivo de entender que tipo de gesto seria suficiente ou esperado pelo Itamaraty em meio à tensão diplomática entre os dois países. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores não respondeu.
Para uma fonte próxima à chancelaria israelense, o silêncio do Itamaraty gerou o entendimento de que "não há interesse em resolver o impasse". A CNN entrou em contato com o MRE, que disse que "não se manifesta sobre assuntos cobertos por sigilo".
O embaixador Daniel Zonshine deve deixar o Brasil na semana que vem, sem um sucessor aprovado pelo governo brasileiro. O nome indicado por Israel para substituir Zonshine é Gali Dagan, ex-embaixador israelense na Colômbia.
Dagan deixou a Colômbia em meados de 2024 após atritos com o governo de Gustavo Petro. O presidente colombiano é um crítico aberto das ações de Israel na Faixa de Gaza e já chamou a ofensiva de "genocídio", desencadeando trocas de farpas com o então embaixador israelense em Bogotá.
O chanceler da Colômbia, Álvaro Leyva, chegou a exigir que Dagan se desculpasse e deixasse o país após o embaixador acusar Petro de fazer declarações "hostis e antissemitas".
O pedido para que Gali Dagan seja nomeado como novo embaixador no Brasil foi feito em janeiro pela administração israelense, mas segue sem aprovação. O consentimento de um Estado para que um diplomata estrangeiro seja nomeado é conhecido como "agrément", e os pedidos raramente são negados.
Para o cientista político e pesquisador de Harvard Hussein Kalout, ex-Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, a postura do Itamaraty sobre a guerra que já deixou mais de 60 mil mortos em Gaza é clara: "Enquanto a guerra continuar, será difícil o Brasil conceder agrément à indicação de um novo embaixador de Israel no Brasil".
A CNN apurou, em ocasiões anteriores, que o Brasil não teria interesse em voltar a ampliar as relações com Israel pelo menos até o fim de guerra em Gaza.
A tensão entre o Brasil e Israel tem escalado e atingiu o ápice no mês passado, quando o Brasil aderiu ao processo que acusa Israel de genocídio na Corte Internacional de Justiça, além de ter se retirado da Aliança Internacional de Memória do Holocausto.
Segundo o chanceler Mauro Vieira, o Brasil fez um "enorme esforço" para promover negociações para encerrar o conflito, mas decidiu oficializar o apoio à ação da África do Sul diante dos "últimos desenvolvimentos da guerra". Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou a decisão do Brasil de "demonstração do profundo fracasso moral".
No ano passado, o presidente Lula foi declarado "persona non grata" por Israel após relacionar a ofensiva israelense em Gaza ao Holocausto. A fala de Lula também levou Israel a convocar o então embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma visita de reprimenda ao Museu do Holocausto. O gesto foi interpretado como um constrangimento pelo governo do Brasil, que retirou o embaixador de Israel.