Polícia

Magnata da toga: gastos milionários expõem desembargador de MT investigado por corrupção

João Ferreira Filho, do TJMT, torrou R$ 1,3 milhão no cartão em um ano, comprou relógio de R$ 500 mil e é acusado de vender sentenças

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNJ/COM ESTADÃO 09/08/2025
Magnata da toga: gastos milionários expõem desembargador de MT investigado por corrupção
Uma investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou que o desembargador João Ferreira Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), gastou R$ 1,36 milhão no cartão de crédito | Arquivo Página 12

Luxo, ostentação e suspeita de corrupção. Uma investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou que o desembargador João Ferreira Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), gastou R$ 1,36 milhão no cartão de crédito ao longo de 2023 — uma média mensal de R$ 113 mil, valor que superou o próprio salário anual, de R$ 1,19 milhão.

A farra financeira, exposta pelo ministro Mauro Campbell Marques durante sessão do CNJ, não foi um detalhe isolado: coincidiu com o período em que Ferreira é acusado de integrar um esquema milionário de venda de sentenças, supostamente negociadas com a intermediação do advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023.

Segundo a investigação, o salto nos gastos é chocante: de uma média mensal de R$ 41 mil nos anos anteriores, o desembargador passou a gastar quase o triplo. A defesa alegou que os valores foram cobertos por “economias acumuladas ao longo da carreira”. Mas Campbell desmontou a versão, apontando falta de comprovação de saldo bancário e indícios de que parte dos boletos do magistrado foi paga por terceiros, inclusive com dinheiro vivo.

Os gastos no cartão foram apenas a ponta do iceberg. O CNJ identificou também a compra de imóveis e bens de alto valor, como um relógio de luxo avaliado em quase R$ 500 mil. Para o relator, o padrão de vida de Ferreira é incompatível com a renda declarada e constitui prova robusta para manter o afastamento cautelar do cargo.

Com o processo administrativo disciplinar aberto, o desembargador agora enfrenta não apenas o risco de punições severas na esfera administrativa, mas também desdobramentos criminais que podem colocá-lo no centro de um dos maiores escândalos do Judiciário mato-grossense.