Política

O que se sabe sobre as acusações contra Lulinha na CPMI do INSS

O requerimento foi protocolado pelo partido Novo, que alegou haver indícios financeiros de uma possível conexão entre operadores da fraude

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 04/12/2025
O que se sabe sobre as acusações contra Lulinha na CPMI do INSS
Lulinha (ao centro, de blusa preta) é o filho mais velho de Lula | AFP via Getty Images

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no sistema do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) rejeitou, nesta quinta-feira (4/12), a convocação do filho mais velho do presidente Lula (PT), Fábio Luís Lula da Silva, para prestar esclarecimentos sobre sua relação com pessoas investigadas no esquema.

O requerimento foi protocolado pelo partido Novo, que alegou haver indícios financeiros de uma possível conexão entre operadores da fraude e pessoas próximas ao presidente da República, entre eles Lulinha.

O pedido de convocação já estava em pauta nesta quinta, mas foi reforçado após membros da CPMI terem acesso ao depoimento de uma testemunha que acusa Lulinha de receber "mesada" do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS.

Antônio Carlos é apontado pela Polícia Federal como o operador do esquema de fraudes na previdência. Ele foi preso em setembro.

Segundo investigações, o "careca do INSS" agia como um intermediário dos sindicatos e associações, recebendo os recursos que eram debitados indevidamente dos aposentados e pensionistas, e repassando parte deles a servidores do instituto ou a familiares e empresas ligadas a eles.

Apesar da mobilização, a base do governo conseguiu se articular para derrubar o pedido de convocação do filho de Lula. Foram 19 votos contra e 12 a favor.

O ex-ministro da Secretaria de Comunicação, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), afirmou que o pedido de convocação estava "fora de propósito" e que não havia provas sobre a suposta ligação entre Lulinha e Antônio Carlos Camilo Antunes.

Em outubro, a CPMI já havia rejeitado a convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula.

Ele foi vice-presidente do Sindnapi, entidade investigada no esquema bilionário de fraudes, mas não é alvo das apurações da Polícia Federal.

Lulinha também não é investigado pela PF no esquema de descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões.

Ao Poder 360, o ex-advogado e amigo de Lulinha, Marco Aurélio Carvalho, disse que não conseguiu falar com ele, mas que a acusação "é absolutamente pirotécnica e improvável. É mais uma tentativa de desgastar a imagem de Fábio Luís".

Acusação

Na terça-feira (2/12), o presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG) anunciou, em uma publicação nas redes sociais, que colocaria em votação um requerimento para convocar Lulinha.

Ele afirmou: "Quem não deve, não teme. O Brasil quer respostas".

O pedido, assinado pelos deputados Marcel van Hattem (Novo-RS), Eduardo Girão (Novo-CE), Adriana Ventura (Novo-SP) e Luiz Lima (Novo-RJ), alegava que ouvir Lulinha era essencial para esclarecer "eventual uso de sua estrutura contábil ou possível ligação indireta com o esquema".

Segundo o jornal O Globo, o gatilho para o pedido foi a revelação de que Ricardo Bimbo, dirigente nacional do PT, teria recebido dinheiro de uma das empresas investigadas.

No mesmo período, ele teria quitado um boleto do contador João Muniz Leite, responsável pelas contas de Lulinha.

A pressão para convocar o filho de Lula aumentou após a CPMI tomar conhecimento do depoimento de Edson Claro, ex-funcionário do INSS, à Polícia Federal.

Segundo o portal Poder360, que teve acesso ao depoimento, Claro acusa Lulinha de manter uma relação de proximidade e até uma sociedade empresarial com Antônio Carlos.

Ele teria dito que o filho de Lula recebeu uma cifra de 25 milhões (sem especificar em qual moeda) do "careca do INSS", além de uma "mesada" de R$ 300 mil.

Ainda, de acordo com o depoimento de Claro, Lulinha atuava como uma espécie de lobista para Antônio Carlos e eles teriam viajado juntos várias vezes para Portugal.

Edson Claro é um dos alvos da investigação da Polícia Federal. Ele prestou depoimento em 29 de outubro de 2025.

De acordo com o Poder360, não fica claro o tipo de sociedade que Lulinha tem ou pode ter mantido com o Careca do INSS com base no que diz Edson Claro.

Apesar disso, o veículo pontua que as citações ao filho de Lula na investigação são fartas. Ele é citado em conversas de WhatsApp em situações que poderia ajudar, de alguma forma, os acusados de fraudar o INSS.

Quem é Lulinha

Fábio Luis, mais conhecido como Lulinha, é o filho mais velho de Lula com Marisa Letícia. Ele é formado em biologia e chegou a trabalhar como estagiário em um zoológico em São Paulo. Hoje ele tem empresas no ramo de tecnologia.

Nos anos 2000, o filho de Lula se tornou sócio da empresa Gamecorp, que atuava no ramo de jogos eletrônicos, e viu seu nome envolvido em investigações.

Em 2019, o Ministério Público Federal denunciou Lulinha e outras 10 pessoas por suposto recebimento de vantagens indevidas da Oi/Telemar, entre 2004 e 2016.

Em 2020, ele foi alvo da Operação Lava Jato, investigado por suspeita de receber repasses de mais de R$ 100 milhões do grupo Oi/Telemar para suas empresas, em troca de decisões favoráveis do governo durante as gestões petistas.

O caso foi arquivado.

Em julho, o portal Metrópoles divulgou que Lulinha se mudou para a Espanha e só voltaria ao Brasil após o fim do mandado de Lula. Ele teria sido contratado para trabalhar para uma empresa em Madri.

Fraude no INSS

Em abril, uma investigação conjunta da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF) revelou uma fraude bilionária no INSS, que roubou centenas de milhares de aposentados por meio de descontos não autorizados em seus benefícios.

Segundo a polícia, sindicatos e associações de aposentados conseguiam, por meio de convênios com o INSS, descontar mensalidades de aposentados e pensionistas sem autorização.

Estima-se que o esquema envolva R$ 6,3 bilhões em descontos, entre valores legais e ilegais, no período de 2019 a 2024.

Entre os investigados na primeira fase da Operação estavam seis servidores públicos, incluindo o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Ele foi demitido do cargo após a operação e preso em novembro.

Em setembro, novas prisões foram feitas, entre elas do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS.

Ele é apontado pelas investigações como facilitador do esquema que desviou recursos de aposentados e pensionistas.

Segundo a Polícia Federal, empresas ligadas a ele teriam operado como intermediárias financeiras das associações investigadas na fraude.