Política
Jair Bolsonaro escolhe o filho Flávio para disputar a Presidência - a quem decisão agrada e desagrada?
A escolha foi confirmada em nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!"
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou nesta sexta-feira (5) que foi escolhido por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para disputar a Presidência da República na próxima eleição, em 2026.
"É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação", disse Flavio no X (antigo Twitter).
A escolha foi confirmada em nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!"
O anúncio ocorre após semanas de desentendimentos entre membros da família Bolsonaro e da oposição em torno de articulações para a próxima eleição e de quem deve liderar a direita agora que o ex-presidente está preso.
Na semana passada, num dos momentos em que esses desentendimentos ficaram mais evidentes, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou a negociação de uma aliança entre seu partido, o PL, com o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) para disputar o governo do Ceará no ano que vem.
Em evento em Fortaleza no domingo (30/11), Michelle fez ataques diretos a dirigentes do PL, incluindo o presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, e o presidente estadual, deputado federal André Fernandes — algo que abriu uma crise com os filhos do ex-presidente e o comando do partido.
Segundo Flávio Bolsonaro, porém, o ex-presidente deu aval ao PL do Ceará para negociar o apoio do partido a Ciro.
Após o anúncio da candidatura do filho de Jair, Michelle postou em suas redes sociais nesta sexta-feira um texto desejando "sabedoria, força e graça" para Flávio.
"Que Deus te abençoe, @flaviobolsonaro, nesta nova missão pelo nosso amado Brasil. Que o senhor te dê sabedoria, força e graça em cada passo, e que a mão d'Ele conduza o teu caminho para o bem da nossa nação", escreveu a ex-primeira-dama.
Em pesquisa AtlasIntel realizada em novembro, um dos cenário eleitorais projetados pelo instituto mostrou que, no primeiro turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria 47,3% das intenções de voto e Flávio viria em segundo lugar, com 23,1% — seguido pelos governadores de direita Ronaldo Caiado (10,2%), Ratinho Jr. (7,1% ) e Romeu Zema (5%).
O nome do filho de Jair Bolsonaro não foi incluído nas projeções de segundo turno.
Considerando diferentes características da população, Flávio só ganha de Lula na faixa etária de 16 a 24 anos (31,3% contra 23,6%); e entre os evangélicos (34,9% contra 27,1%).
Em todas as categorias de gênero, nível educacional, região do Brasil e renda familiar, Lula está à frente de Flávio.
Vigília e prisão
O anúncio da pré-candidatura de Flávio ocorre duas semanas após o senador convocar uma vigília em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente.
A vigília foi apontada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como um dos motivos para a decretação da prisão de Bolsonaro (até então, ele estava em prisão domiciliar).
Outro motivo, segundo Moraes, foi a violação da tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente.
Em resposta, Flávio disse que decisão do ministro do STF "criminaliza o livre exercício da crença".
"O que está escrito aqui nessa sentença é que eu não posso orar pelo meu pai, que eu não posso orar pelo meu país, que eu não posso pedir a um padre para rezar um pai nosso em cima de um carro de som, porque isso seria um subterfúgio e uma fuga do Bolsonaro", disse Flávio na ocasião.

Crédito,Reuters
Reações divergentes
A escolha de Flávio foi elogiada por alguns apoiadores do ex-presidente.
O influenciador Paulo Figueiredo classificou o anúncio como uma "excelente notícia".
"E, na minha opinião, deve contar com enorme entusiasmo da base bolsonarista", afirmou no X.
O ator Mario Frias, que foi secretário da Cultura no governo Bolsonaro, também exaltou a escolha.
"Flávio sempre esteve na linha de frente, defendendo o Brasil, enfrentando perseguições, ataques, injustiças e distorções simplesmente por carregar um sobrenome que incomoda quem vive do sistema", o ator afirmou no X.
Mas, de acordo com apuração do jornal O Globo, alguns integrantes do chamado Centrão (grupo de partidos de direita e centro-direita que costumam apoiar diferentes governos em troca de verbas e espaço na máquina pública) ficaram insatisfeitos com a escolha de Jair Bolsonaro.
Isso porque a aposta do grupo era no nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — que, agora, consideram improvável seguir com os planos de concorrer ao Planalto, pois isso iria de encontro à decisão de Jair Bolsonaro, de quem o governador é próximo.
Fontes do Centrão ouvidas pelo jornal carioca afirmaram que partidos como União Brasil, PP, Republicanos e PSD não apoiarão Flávio e podem optar pela neutralidade.
Sem citar o nome do senador, Antonio Rueda, presidente do União Brasil, postou em suas redes um texto após o anúncio sobre Flávio Bolsonaro.
Rueda afirmou que ele e Ciro Nogueira, presidente dos Progressistas com quem compartilha a presidência da Federação União Progressista, têm um "compromisso com o Brasil que precisa avançar".
Algo enigmático, o texto diz que "em 2026, não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério, responsável e voltado para os reais interesses do povo brasileiro".
"Nosso caminho não é o do confronto estéril, mas o da construção. Vamos focar no Brasil, nas pautas das nossas bancadas estaduais, no diálogo maduro entre diferentes visões e na agenda que de fato transforme a vida das pessoas", escreveu Rueda.
Alguns analistas avaliaram que a escolha também foi mal recebida pelo mercado financeiro — o que explicaria uma valorização do dólar e queda da bolsa ocorridas após o anúncio.
O dólar fechou em alta de 2,3% e o Ibovespa (principal índice da bolsa de valores de São Paulo) em queda de 4,3%.
Para o economista André Perfeito, a decisão de Jair Bolsonaro "implode possíveis alianças entre centro e direita para o ano que vem".
Segundo Perfeito, o mercado financeiro apoiava a candidatura de Tarcísio Freitas (Republicanos) "para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026".
"Mas agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político", afirmou o economista em análise enviada à imprensa.