Política

Jair Bolsonaro escolhe o filho Flávio para disputar a Presidência - a quem decisão agrada e desagrada?

A escolha foi confirmada em nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!"

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 05/12/2025
Jair Bolsonaro escolhe o filho Flávio para disputar a Presidência - a quem decisão agrada e desagrada?
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro | Getty Imagens

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou nesta sexta-feira (5) que foi escolhido por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para disputar a Presidência da República na próxima eleição, em 2026.

"É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação", disse Flavio no X (antigo Twitter).

A escolha foi confirmada em nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!"

O anúncio ocorre após semanas de desentendimentos entre membros da família Bolsonaro e da oposição em torno de articulações para a próxima eleição e de quem deve liderar a direita agora que o ex-presidente está preso.

Na semana passada, num dos momentos em que esses desentendimentos ficaram mais evidentes, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou a negociação de uma aliança entre seu partido, o PL, com o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) para disputar o governo do Ceará no ano que vem.

Em evento em Fortaleza no domingo (30/11), Michelle fez ataques diretos a dirigentes do PL, incluindo o presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, e o presidente estadual, deputado federal André Fernandes — algo que abriu uma crise com os filhos do ex-presidente e o comando do partido.

Segundo Flávio Bolsonaro, porém, o ex-presidente deu aval ao PL do Ceará para negociar o apoio do partido a Ciro.

Após o anúncio da candidatura do filho de Jair, Michelle postou em suas redes sociais nesta sexta-feira um texto desejando "sabedoria, força e graça" para Flávio.

"Que Deus te abençoe, @flaviobolsonaro, nesta nova missão pelo nosso amado Brasil. Que o senhor te dê sabedoria, força e graça em cada passo, e que a mão d'Ele conduza o teu caminho para o bem da nossa nação", escreveu a ex-primeira-dama.

Em pesquisa AtlasIntel realizada em novembro, um dos cenário eleitorais projetados pelo instituto mostrou que, no primeiro turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria 47,3% das intenções de voto e Flávio viria em segundo lugar, com 23,1% — seguido pelos governadores de direita Ronaldo Caiado (10,2%), Ratinho Jr. (7,1% ) e Romeu Zema (5%).

O nome do filho de Jair Bolsonaro não foi incluído nas projeções de segundo turno.

Considerando diferentes características da população, Flávio só ganha de Lula na faixa etária de 16 a 24 anos (31,3% contra 23,6%); e entre os evangélicos (34,9% contra 27,1%).

Em todas as categorias de gênero, nível educacional, região do Brasil e renda familiar, Lula está à frente de Flávio.

Vigília e prisão

O anúncio da pré-candidatura de Flávio ocorre duas semanas após o senador convocar uma vigília em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente.

A vigília foi apontada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como um dos motivos para a decretação da prisão de Bolsonaro (até então, ele estava em prisão domiciliar).

Outro motivo, segundo Moraes, foi a violação da tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente.

Em resposta, Flávio disse que decisão do ministro do STF "criminaliza o livre exercício da crença".

"O que está escrito aqui nessa sentença é que eu não posso orar pelo meu pai, que eu não posso orar pelo meu país, que eu não posso pedir a um padre para rezar um pai nosso em cima de um carro de som, porque isso seria um subterfúgio e uma fuga do Bolsonaro", disse Flávio na ocasião.

Flavio Bolsonaro discursa ao microfone, com imagem do seu pai atrás, em papelão

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Vigília convocada por Flávio Bolsonaro foi realizada em 22 de novembro mesmo após decretação da prisão de Jair

Reações divergentes

A escolha de Flávio foi elogiada por alguns apoiadores do ex-presidente.

O influenciador Paulo Figueiredo classificou o anúncio como uma "excelente notícia".

"E, na minha opinião, deve contar com enorme entusiasmo da base bolsonarista", afirmou no X.

O ator Mario Frias, que foi secretário da Cultura no governo Bolsonaro, também exaltou a escolha.

"Flávio sempre esteve na linha de frente, defendendo o Brasil, enfrentando perseguições, ataques, injustiças e distorções simplesmente por carregar um sobrenome que incomoda quem vive do sistema", o ator afirmou no X.

Mas, de acordo com apuração do jornal O Globo, alguns integrantes do chamado Centrão (grupo de partidos de direita e centro-direita que costumam apoiar diferentes governos em troca de verbas e espaço na máquina pública) ficaram insatisfeitos com a escolha de Jair Bolsonaro.

Isso porque a aposta do grupo era no nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — que, agora, consideram improvável seguir com os planos de concorrer ao Planalto, pois isso iria de encontro à decisão de Jair Bolsonaro, de quem o governador é próximo.

Fontes do Centrão ouvidas pelo jornal carioca afirmaram que partidos como União Brasil, PP, Republicanos e PSD não apoiarão Flávio e podem optar pela neutralidade.

Sem citar o nome do senador, Antonio Rueda, presidente do União Brasil, postou em suas redes um texto após o anúncio sobre Flávio Bolsonaro.

Rueda afirmou que ele e Ciro Nogueira, presidente dos Progressistas com quem compartilha a presidência da Federação União Progressista, têm um "compromisso com o Brasil que precisa avançar".

Algo enigmático, o texto diz que "em 2026, não será a polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério, responsável e voltado para os reais interesses do povo brasileiro".

"Nosso caminho não é o do confronto estéril, mas o da construção. Vamos focar no Brasil, nas pautas das nossas bancadas estaduais, no diálogo maduro entre diferentes visões e na agenda que de fato transforme a vida das pessoas", escreveu Rueda.

Alguns analistas avaliaram que a escolha também foi mal recebida pelo mercado financeiro — o que explicaria uma valorização do dólar e queda da bolsa ocorridas após o anúncio.

O dólar fechou em alta de 2,3% e o Ibovespa (principal índice da bolsa de valores de São Paulo) em queda de 4,3%.

Para o economista André Perfeito, a decisão de Jair Bolsonaro "implode possíveis alianças entre centro e direita para o ano que vem".

Segundo Perfeito, o mercado financeiro apoiava a candidatura de Tarcísio Freitas (Republicanos) "para construir essas alianças e pavimentar a vitória da direita em 2026".

"Mas agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro político", afirmou o economista em análise enviada à imprensa.