Brasil
Navio com minério encalhado no Maranhão ameaça envolver a Vale em nova tragédia ambiental
Até o momento não há um plano de contenção definido: segundo a Agência Brasil foi criado um gabinete de crise em Belém e no Rio de Janeiro nesta quinta-feira para monitorar a situação. Em nota divulgada na manhã desta quinta-feira a Marinha afirmou que pretende “apresentar tão logo possível o Plano de Salvatagem (procedimento de resgate após o desastre) desta embarcação”. A Vale informou ter solicitado à Petrobras a cessão de “navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV, ou navios de recuperação para vazamentos de óleo) para contenção de eventual vazamento”, e disse ter contratado “especialistas em salvatagem para acelerar o plano de retirada do óleo da embarcação". Já a empresa sul-coreana disse que a situação está “sob controle”.
Além do potencial vazamento de combustível, que teria impacto devastador na fauna e flora da região que ainda lida com as consequências de milhares de manchas de petróleo que apareceram no litoral no final de 2019, o minério de ferro também representa um risco. “Este metal induz o crescimento acelerado do fitoplâncton, uma vez que acelera seu metabolismo, e com isso há um maior consumo de oxigênio, e consequentemente uma redução de sua disponibilidade para outras espécies”, explica o professor Marcelo Jannini, diretor da faculdade de Química da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Soma-se a isso o fato de que o minério de ferro exportado não costuma ser 100% puro. “É comum haver também a presença de metais pesados, como manganês, arsênio, chumbo, cromo e alumínio”, diz Jannini. Estes materiais tendem a ficar depositados no leito do mar, mas dependendo da agitação da água podem ficar em suspensão e contaminar peixes e outras espécies.
Esse pode ser tornar o terceiro acidente ambiental envolvendo a Vale nos últimos cinco anos. Em seu balanço oficial divulgado no dia 20, a empresa anunciou perdas de 6,6 bilhões de reais em 2019 por causa do desastre de Brumadinho, que matou 270 pessoas em janeiro do ano passado após o rompimento de uma barragem em Minas Gerais. Parte da cúpula da companhia é acusada por homicídio doloso. Em 2015 outra tragédia marcou a história da mineradora: o rompimento de uma barragem em Mariana, também em Minas, deixou 18 mortos.
A Marinha informou que as causas do acidente ainda não foram identificadas e que já “instaurou um inquérito administrativo para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do incidente”. Em nota, a Vale informou que a tripulação de 20 pessoas foi retirada em segurança, e que o capitão da embarcação a encalhou propositalmente em um banco de areia para evitar um naufrágio completo.
A empresa também enviou navios rebocadores ao local para prestar auxílio técnico. A Polaris afirmou que os porões de carga estão intactos e que as avarias que levaram ao adernamento ocorreram em um tanque vazio. O MV Stellar Banner tem pouco mais de 340 metros de comprimento e pode transportar até 300.000 toneladas de minério. A Vale não informou qual a carga total no momento do acidente.