Brasil
Clima extremo: seca severa causou morte de botos e transformou rio em lama no Amazonas
A estiagem na Amazônia já está em média cinco semanas mais longa que nos anos de 1980
O Globo Repórter desta sexta-feira (10) mostrou como as mudanças climáticas extremas estão afetando o Brasil. Na Amazônia, as imagens da mortandade de mais de 200 botos no Lago Tefé chocaram o Brasil e assustaram o mundo em 2023, um ano de calor extremo na década mais quente da história.
A bióloga Miriam Marmontel, que há 30 anos estuda os mamíferos da região, relembra esse momento.
"Pavor... era uma coisa totalmente inédita", relata.
Miriam explica o teria afetado esses animais:
"Nós suspeitamos que eles foram afetados pelo calor. Uma espécie de hipertermia que desorientou esses animais. Inclusive nós tivemos episódios e foram assim, cenas muito dramáticas. Quem vivenciou nunca vai esquecer", diz emocionada.
O Globo Repórter acompanhou Miriam durante um percurso no Lago Tefé. Ainda hoje, os pesquisadores continuam testemunhando a morte de botos no local, especialmente por interação com pesca: um dos flagrantes foi um boto vermelho já em avançado estado de decomposição, que foi recolhido para análise (veja na imagem abaixo).
Seca extrema no Norte causou morte de 200 botos em 2023 — Foto: Reprodução/TV Globo
Ayan Fleischmann é um dos maiores especialistas do país no estudo das águas. Ele destaca como o episódio na Amazônia alerta que vivemos um período muito preocupante com o aquecimento generalizado.
"A temperatura naquele período estava 40°. É um valor que ninguém nunca mediu em águas amazônicas. É algo realmente sem precedentes. O que alerta para esse aquecimento generalizado que a gente está vivenciando [...] vivemos um período muito preocupante", destaca o engenheiro ambiental.
Rio transformado em lama
Clima extremo: seca severa causou morte de botos e transformou rio em lama no Amazonas
O Globo Repórter também mostrou o impacto das secas extremas e prolongadas para as comunidades ribeirinhas. Na comunidade Bacuri, a equipe conheceu a Maria do Socorro. Ela morava em outro lado da mata, na beira da praia da Lagoa e precisou se mudar com o marido e os filhos. A mesma quentura que afetou os botos transformou ás aguas do rio em lama.
"Quando você pisa na lama, ela não tem estrutura, você atola. A gente deita, a gente vai se puxando , como se estivesse nadando, só que na lama. A gente não consegue andar", conta.
Clima extremo: seca severa causou morte de botos e transformou rio em lama no Amazonas — Foto: Reprodução/TV Globo
A estiagem na Amazônia já está em média cinco semanas mais longa que nos anos de 1980.
"Quando eu era menina, os antigos diziam assim: esse mês é seca. Aí secava. Esse mês vai encher e enchia. Agora, não. Cada ano que passa, está ficando mais difícil", afirma a parteira Maria do Socorro Rodrigues.
Clima extremo: seca severa causou morte de botos e transformou rio em lama no Amazonas — Foto: Reprodução/TV Globo
"Amazônia é a grande bacia hidrográfica do mundo. Mas quando a gente vê tanta água disponível e pessoas passando sede, a gente tem um paradoxo. Então, o que a gente viu nesse seca extrema de 2023? Comunidades passando sede às margens do maior rio do mundo", ressalta o engenheiro ambiental Ayan.
Clima extremo: seca severa causou morte de botos e transformou rio em lama no Amazonas — Foto: Reprodução/TV Globo