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O que se sabe sobre ação da PF para investigar lavagem de dinheiro do tráfico que levou à prisão de influencer Buzeira

A Polícia Federal prendeu na terça-feira (14) o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, durante a Operação Narco Bet

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 15/10/2025
O que se sabe sobre ação da PF para investigar lavagem de dinheiro do tráfico que levou à prisão de influencer Buzeira
Reprodução/Instagram @buzeira_oficial | Imagens do Instagram do influenciador 'Buzeira'

A Polícia Federal prendeu na terça-feira (14) o influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, durante a Operação Narco Bet, que apura um esquema internacional de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico de drogas.

A ação contou com o apoio da Polícia Criminal Federal da Alemanha (BKA), que cumpriu um mandado de prisão contra um dos investigados no país europeu.

Buzeira é conhecido nas redes sociais por exibir uma vida de luxo, com carros importados, festas e apostas esportivas, e acumula milhões de seguidores no Instagram e em outras plataformas. Ele se apresentava como empreendedor e apostador profissional, e ganhou popularidade entre jovens interessados em apostas e sorteios online.

O influenciador também promovia rifas e desafios pagos, nos quais costumava oferecer prêmios como veículos e quantias em dinheiro.

Segundo nota oficial da PF, a operação é um desdobramento da Narco Vela, que teve como foco o combate ao tráfico de entorpecentes por via marítima a partir do litoral brasileiro.

As investigações indicam que o grupo usava técnicas sofisticadas de movimentação financeira, incluindo criptomoedas e remessas internacionais, para ocultar a origem ilícita dos valores e dissimular patrimônio. Parte do dinheiro teria sido injetada em empresas do setor de apostas eletrônicas — as chamadas bets.

Ao todo, foram cumpridas 11 ordens de prisão e 19 mandados de busca e apreensão nos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A Justiça determinou também o bloqueio de bens e valores que somam mais de R$ 630 milhões, com o objetivo de descapitalizar o grupo criminoso e reparar prejuízos causados pelas atividades ilegais.

De acordo com o portal G1, além de Buzeira, também foi preso o empresário Rodrigo Morgado, que ganhou notoriedade nas redes sociais após sortear um carro em uma festa de sua empresa e, em seguida, tomar o veículo da funcionária sorteada.

Os investigados poderão responder por lavagem de dinheiro e associação criminosa, crimes que, segundo a PF, têm caráter transnacional.

O início

Segundo informações da Agência Brasil, a Operação Narco Bet surgiu como desdobramento da apreensão de um veleiro brasileiro pela Marinha dos Estados Unidos, em fevereiro de 2023.

A investigação revelou uma rota de tráfico marítimo entre a América do Sul e a Europa, abrangendo tanto a logística do transporte de drogas quanto as estratégias usadas para lavagem e nacionalização dos recursos obtidos de forma ilícita.

A operação anterior, chamada Narco Vela, mobilizou mais de 300 policiais federais e 50 policiais militares do Estado de São Paulo.

Na ocasião, foram cumpridos 35 mandados de prisão e 62 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 5ª Vara Federal de Santos, em endereços localizados nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e Santa Catarina. As medidas incluíram bloqueio e apreensão de bens avaliados em cerca de R$ 1,32 bilhão.

A Operação Narco Bet

A Operação Narco Bet mira uma organização criminosa suspeita de movimentar grandes quantias oriundas do tráfico internacional de drogas por meio de apostas esportivas e criptomoedas.

De acordo com a Polícia Federal, o grupo investigado teria criado uma rede de empresas de fachada e usado nomes de terceiros para movimentar valores oriundos do tráfico internacional de drogas. As estruturas empresariais incluíam holdings familiares e contas abertas em nome de laranjas, o que permitia mascarar o destino e a origem do dinheiro.

A investigação teve início após a identificação de transações financeiras incompatíveis com a renda declarada dos investigados e o uso de empresas aparentemente legítimas para mascarar a origem do dinheiro. As apostas online funcionavam como um canal para integrar valores ilícitos ao sistema financeiro, dificultando o rastreamento do fluxo de capital.

Segundo o G1, o delegado Marcelo Maceiras, responsável pela apuração, afirmou que o principal objetivo é interromper o ciclo de lavagem de dinheiro, bloqueando o patrimônio acumulado com atividades ilegais. Entre as medidas determinadas pela Justiça estão o bloqueio de mais de R$ 630 milhões e a apreensão de bens de alto valor, como veículos, imóveis e embarcações.

As autoridades brasileiras destacam que parte das plataformas investigadas operava com autorização do governo, mas que há indícios de uso de recursos ilícitos na constituição e manutenção dessas empresas. Outras, com sede no exterior, permanecem sob investigação em cooperação internacional.

Carros de luxo estacionados em garagem

Crédito,Polícia Federal/Divulgação

Legenda da foto,Imagem de carros de luxo compartilhada em nota da PF sobre a investigação

Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificaram movimentações milionárias entre os investigados, incluindo transferências de Rodrigo Morgado para Buzeira, além de valores associados à compra de uma mansão de interesse do influenciador.

Rodrigo de Paula Morgado, contador e empresário, é apontado pela PF como um dos principais operadores financeiros do esquema.

Ele se apresenta nas redes sociais como especialista em redução de impostos e costumava exibir uma rotina marcada por carros esportivos, viagens internacionais e contato com celebridades do futebol, como Neymar e Ronaldo Fenômeno. Segundo os investigadores, Morgado teria usado empresas ligadas ao ramo de apostas para lavar parte dos recursos do tráfico.