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Banco Master: quem é o banqueiro preso Daniel Vorcaro e por que BC resolveu liquidar o banco
O Banco Central decretou nesta terça-feira (18) a liquidação do Banco Master — mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca em diferentes endereços e após a prisão do dono do banco, Daniel Vorcaro.
O Banco Central decretou nesta terça-feira (18) a liquidação do Banco Master — mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca em diferentes endereços e após a prisão do dono do banco, Daniel Vorcaro.
A Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, que tem como objetivo "combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional".
Policiais federais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva, dois mandados de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal, segundo nota da instituição.
"Estão sendo investigados os crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros", afirma nota da polícia.
A Agência Brasil noticiou que Vorcaro foi preso no aeroporto de Guarulhos na noite de segunda-feira, quando tentava embarcar para Malta em um avião particular. Ele está detido na Superintendência da PF, em São Paulo.
Nesta terça-feira, o Banco Central publicou atos do presidente Gabriel Galípolo decretando a liquidação extrajudicial do Banco Master (entenda mais abaixo o que significa a liquidação de um banco).
O Banco Central nomeou uma empresa — a EFB Regimes Especiais de Empresas — como responsável para liquidar a instituição.
E tornou indisponíveis os bens de controladores e ex-administradores do Banco Master: Daniel Bueno Vorcaro, Armando Miguel Gallo Neto, Felipe Wallace Simonsen, Luiz Antonio Bull e Angelo Antonio Ribeiro da Silva.
O Banco Master surgiu no final da década passada e ficou famoso no mercado financeiro por oferecer papéis com juros altos — e investir em empresas em situação financeira precária.
A estratégia fez que a instituição tivesse forte crescimento — mas também despertou críticas e desconfiança no mercado.
Também neste ano, o Banco Master ganhou as manchetes ao ser alvo de aquisição por outros grupos financeiros — em meio a notícias de que o banco apresentava problemas para honrar seus CDBs.
No começo deste ano, o BRB anunciou intenção de comprar o Banco Master, em um acordo estimado em R$ 2 bilhões.
A compra foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Também foi aprovada uma lei na Câmara Legislativa do Distrito Federal que autorizava a compra, que era defendida pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
No entanto, ela foi barrada pelo Banco Central, que analisou o negócio e concluiu que havia dúvidas sobre a "viabilidade econômico-financeira do empreendimento".
Na segunda-feira, foi anunciado que o grupo Fictor Holding Financeira — que investe em áreas como alimentos, energia e serviços financeiros — havia feito uma proposta para comprar o Master, em conjunto com investidores dos Emirados Árabes.
Nesta terça-feira, a Justiça decretou o afastamento temporário do presidente do Banco BRB, Paulo Henrique Costa, e do diretor de Finanças e Controladoria da instituição, Dario Oswaldo Garcia Júnior.
As sentenças foram expedidas no âmbito da Operação Compliance Zero, que levou à prisão de Daniel Vorcaro. Em nota, o BRB confirmou que Costa e Júnior se afastarão de seus cargos por ao menos 60 dias.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que seu ministério está à disposição do Banco Central para ajudar com o caso.
"O Banco Central é órgão regulador do sistema financeiro e eu tenho certeza que, para ter chegado a esse ponto, todo esse processo deve estar muito robusto", disse Haddad, segundo a Agência Brasil.
Quem é Daniel Vorcaro?
Natural de Belo Horizonte, o banqueiro de 42 anos vem de uma família de classe média alta do setor da construção civil.
No final da década passada, ele assumiu o controle do banco Maxima — que havia sido fundado nos anos 1970 — e rebatizou a instituição como Banco Master.
Vorcaro chamou atenção na Faria Lima — a região de São Paulo que concentra o mercado financeiro brasileiro — por uma estratégia de negócios considerada ousada: ao invés de captar a maior parte de seu dinheiro com correntistas e emprestando dinheiro, o Banco Master se concentrou em oferecer CDBs com taxas de juros muito acima das praticadas no mercado.
Os CDBs do Banco Master ofereciam juros perto dos 140% do CDI — muito acima dos cerca de 120% normais para bancos desse porte.
Com os recursos captados via CDB, o banco investia em empresas consideradas de alto risco — como Light e Oi — uma estratégia que era considerada perigosa demais para muitos analistas de mercado.
Em entrevista à revista Piauí, em outubro do ano passado, Vorcaro atacou os críticos de seu modelo, e disse ser vítima de preconceito por suas origens empresariais serem fora do mercado financeiro.
"Isso acontece por eu ser um outsider. E não é só preconceito. São pessoas que querem nos frear e ficam usando coisas ruins contra nós. É um ataque desnecessário."
Vorcaro também ficou famoso por grandes gastos e por ostentar uma vida de luxo.
Em 2003, junto com outros sócios, ele comprou o hotel de luxo Fasano Itaim — que foi posteriormente vendido.
Também em 2023, segundo notícias da imprensa, ele teria gasto R$ 15 milhões na festa de debutante de sua filha, com apresentação dos DJs The Chainsmokers e Alok.
Este ano, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que Vorcaro adquiriu 27% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do clube Atlético Mineiro.
Por que Banco Master está sendo liquidado?
As investigações da PF sobre o banco tiveram início em 2024, após pedido do Ministério Público Federal. A investigação estava concentrada na possível emissão de carteiras de crédito falsas.
Essas carteiras teriam sido vendidas a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídas por outros ativos sem avaliação técnica adequada, segundo a Polícia Federal.
O Banco Central tomou a decisão de liquidar o Banco Master com base em uma lei de 1974 que prevê essa medida quando uma instituição financeira apresenta riscos relevantes — como inadimplência, violação grave de normas e prejuízos que exponham credores a risco considerado anormal.
As autoridades monetárias poderiam ter optado por uma intervenção judicial, em que um interventor é nomeado para assumir a administração do banco com intenção de fazê-lo voltar a operar.
No entanto, a opção escolhida foi a liquidação do Banco Master e da Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários.
O objetivo da liquidação é encerrar as operações das instituições. Um liquidante é nomeado para levantar os bens das instituições e realizar o pagamento de todos os seus credores.
Além disso, com a liquidação, é acionado o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma associação mantida pelos bancos que protege correntistas, poupadores e investidores de instituições financeiras em situação de risco.
No caso do Banco Master, muitos investidores possuíam CDB, que é um tipo de título emitido pelo banco, com pagamento de juros.
O FGC protege investimentos de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição financeira. Qualquer valor acima desse limite não é coberto pelo FGC — e só poderá ser recuperado a partir do processo de liquidação e venda dos bens do banco.
Outra parte do conglomerado, o Master Múltiplo, foi colocado em regime de administração especial temporária, em que as autoridades ainda tentam recuperar a instituição.