Economia e Negócios

Ibovespa fecha acima dos 136 mil pontos e bate novo recorde histórico

Principal índice de ações da bolsa de valores chegou aos 136.330 pontos na máxima do dia. O dólar avançou 1,35%, cotado a R$ 5,4846

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 20/08/2024
Ibovespa fecha acima dos 136 mil pontos e bate novo recorde histórico
Painel na sede da B3, em São Paulo, Ibovespa, bolsa, Bovespa | Nacho Doce/Reuters

Ibovespa principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, operou em baixa na manhã desta terça-feira (20), mas passou a subir e, no fechamento, atingiu um novo recorde: 136.087 pontos. Na máxima do dia, chegou a 136.330 pontos.

Investidores continuam atentos e otimistas com o cenário de juros nos Estados Unidos. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) comece a cortes a taxa de juros americana, o que beneficia os investimentos em bolsa.

Nas últimas semanas, os mercados em todo o mundo estão animados. Ontem, o Ibovespa, registrou seu recorde histórico de fechamento, aos 135.778 pontos, e zerou as perdas acumuladas em 2024.

O clima continua positivo enquanto dois acontecimentos dos próximos dias podem trazer ainda mais clareza sobre quais serão os próximos passos do Fed em relação aos juros nos Estados Unidos. Na quarta-feira, a instituição divulga a ata de sua última reunião, que traz mais informações sobre o que os dirigentes estão observando e pensando sobre a economia — e se devem realmente cortar as taxas.

Na sexta, os investidores estarão atentos ao discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, no Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole. Lá, ele deve compartilhar uma visão mais detalhada que o Fed tem sobre os dados da economia dos EUA, que também influenciam na decisão de juros prevista para setembro.

No cenário interno, investidores repercutem falas de autoridades. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, discursaram em uma convenção do banco BTG Pactual. As declarações de Campos Neto, em especial, colaboraram com o avanço do dólar.

"Ele disse que a elevação da Selic em setembro é uma possibilidade, mas não um compromisso do Copom com a alta dos juros, que já estava na conta do mercado", destaca Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

    Dólar

    O dólar subiu 1,35%, cotado a R$ 5,4846. Veja mais cotações.

    Com o resultado, acumulou:

    • alta de 0,31% na semana;
    • recuo de 3% no mês;
    • alta de 13,03% no ano.

    No dia anterior, a moeda americana teve queda de 1,03%, cotada em R$ 5,4114.

    Ibovespa

    O Ibovespa subiu 0,23%, aos 136.087 pontos, novo recorde histórico de pontuação.

    Com o resultado, o índice acumulou:

    • alta de 1,59% na semana;
    • avanço de 6,61% no mês;
    • perdas de 1,42% no ano.

    Na véspera, o índice fechou em alta de 1,36%, aos 135.778 pontos.

    O que está mexendo com os mercados?

    Os agentes do mercado financeiro no mundo inteiro estão animados com a perspectiva de corte das taxas de juros nos Estados Unidos e esse é o principal fator de atenção ao longo de toda esta semana, principalmente com a ata do Fed e o Simpósio de Jackson Hole.

    Uma queda nos juros dos EUA reduz os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (as Treasuries) e força os investidores a tomarem mais risco para terem rentabilidades melhores. Isso beneficia o mercado de ações como um todo.

    "O mercado também aguarda a definição sobre a magnitude do corte de juros. Essa decisão impacta não só a cotação do real, mas as taxas de juros de todos os países", diz Isabela Bessa, especialista em investimentos internacionais da Warren Investimentos.

    Na quarta-feira, o Fed deve divulgar a ata de sua última reunião, em julho. O BC americano manteve as taxas de juros americanas inalteradas entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas sinalizou que cortes podem começar no próximo encontro, marcado para setembro.

    A inflação, principal dado observado pelo Fed para tomar suas decisões, continua acima da meta de 2% ao ano, mas mostra uma desaceleração. Em julho, o acumulado em 12 meses foi de 3,2%, mas os preços que traziam preocupação ao Fed mostraram um bom comportamento.

    Já os dados do mercado de trabalho americano, que também podem prejudicar a inflação por conta de um aumento do consumo, também foram mais fracos do que o mercado esperava no último mês. Tanto que analistas chegaram a temer que uma recessão econômica pudesse estar a caminho nos EUA. Esse medo se dissipou nos dias seguintes, já que dados de atividade econômica na semana passada não confirmaram o receio.

    O Fed se esforça para manter a inflação comportada, mas também quer evitar que a economia sofra uma paralisação brusca. Com isso, investidores e especialistas esperam que a instituição promova um corte nos juros de pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião — uma forma de não deixar a economia brecar, mas com parcimônia para não pressionar a inflação.

    Investidores atentos à inflação e contas públicas

    No Brasil, a questão fiscal segue no centro das atenções, enquanto o mercado tem dúvidas sobre a capacidade do governo arcar com suas contas em 2024.

    Para tranquilizar essas percepções, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães, afirmou nesta segunda-feira (19) que a área econômica do governo tem todas as ferramentas necessárias para cumprir a meta fiscal de 2024 de déficit zero (ou seja, quando o valor das despesas não supera o das receitas) e que vai propor "em breve" que todos os setores do governo revisem suas despesas com políticas públicas.

    "A gente está com todos os instrumentos para cumprir a meta. Obviamente que dentro de um cenário de risco que não tenha nenhum risco muito fora da curva ou inesperado", disse.

    O secretário citou as enchentes no Rio Grande do Sul e seus efeitos como um exemplo de choque imprevisível, mas disse que a pasta não enxerga riscos de mesma magnitude no cenário atual.

    Segundo Guimarães, o lado da receita ainda representa um desafio para a área econômica, mas disse ser possível que uma receita não recorrente entre no caixa no futuro, e dê ao governo mais espaço orçamentário.

    Ele disse também que não é possível afirmar se o governo precisará impor maior restrição fiscal este ano a partir da divulgação do próximo relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para 22 de setembro, e que o "tempo dirá se haverá novo congelamento" de gastos.

    Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que apresentou ao governo os cenários para a segunda etapa da reforma tributária, que trata sobre o imposto sobre a renda.

    O ministro explicou que sua equipe estudo diferentes cenários e levou ao presidente Lula aqueles que considerou mais consistentes e que podem fazer mais sentido para a realidade brasileira.

    O ministro também disse que "tudo leva a crer" que o projeto que propõe o fim da desoneração da folha de pagamento de 17 setores será aprovado. Esse projeto, que foi alvo de polêmica e posicionamentos contrários entre governo e Congresso, propõe, agora, um regime de transição para o fim do benefício.

    Haddad destacou que a aprovação da desoneração traria R$ 26 bilhões para o governo.