Economia e Negócios

Dólar fecha em R$ 5,58 e tem maior patamar em quase um mês, após alta da inflação brasileira; Ibovespa cai abaixo dos 130 mil pontos

A moeda norte-americana teve um avanço de 1% nesta quarta, cotada a R$ 5,5875. Já o principal índice de ações da bolsa encerrou em queda de 1,18%, aos 129.962 pontos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 09/10/2024
Dólar fecha em R$ 5,58 e tem maior patamar em quase um mês, após alta da inflação brasileira; Ibovespa cai abaixo dos 130 mil pontos
O dólar fechou a sessão desta quarta-feira (9) em alta, conforme investidores repercutiam os novos dados de inflação do Brasil | John Guccione/Pexels

O dólar fechou a sessão desta quarta-feira (9) em alta, conforme investidores repercutiam os novos dados de inflação do Brasil, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e seguiam atentos ao noticiário envolvendo a China.

Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, encerrou em queda, ficando abaixo dos 130 mil pontos pela primeira vez em dois meses.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,44% em setembro, levemente abaixo das expectativas do mercado financeiro, de alta de 0,46%. A alta foi puxada pela disparada da energia elétrica residencial.

A conta de luz ficou mais cara no mês passado por conta da mudança da bandeira tarifária, que passou de verde para vermelha patamar 1, adicionando uma cobrança a mais de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos pelas famílias.

A bandeira vermelha foi ativada como consequência das secas que atingem o país e encarecem a produção de energia pelas hidrelétricas. A estiagem também impactou na produção e nos preços dos alimentos, com destaque para as frutas cítricas e carnes.

No exterior, o foco fica com a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Investidores também seguem cautelosos com a guerra no Oriente Médio e com notícias vindas da China.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar

Ao final da sessão, o dólar subiu 1%, cotado a R$ 5,5875. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,5981. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 2,42% na semana;
  • avanço de 2,58% no mês;
  • ganho de 15,15% no ano.

No dia anterior, a moeda norte-americana subiu 0,86%, a R$ 5,5322.

Ibovespa

Já o ibovespa encerrou em queda de 1,185, aos 129.962 pontos, abaixo dos 130 mil pontos pela primeira vez desde 8 de agosto.

No dia anterior, o índice caiu 0,38%, aos 131.512 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • queda de 0,21% na semana;
  • perdas de 0,23% no mês;
  • recuo de 1,99% no ano.

O que está mexendo com os mercados

O destaque deste pregão ficou com os novos números da inflação brasileira, divulgados pelo IBGE.

Esse é o primeiro IPCA depois da mudança da bandeira tarifária de energia elétrica, por conta da grave seca que atinge o Brasil, e a conta de luz foi o item que mais pesou sobre a inflação, com alta de 5,36%.

Também, os preços dos alimentos voltaram a subir, reflexo da estiagem que atinge lavouras e pastagens de gado. As maiores altas dos alimentos em setembro vieram do limão (30,41%), mamão (10,34%) e tangerina (10,27%), além do preço das carnes, que subiu, em média, 2,97%, na maior alta desde dezembro de 2020.

"Questões climáticas, ausência de chuvas, clima mais seco, forte estiagem (que afetam a pastagem) contribuíram para essa alta das carnes no mês de setembro", disse André Almeida, gerente da pesquisa.

Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, avalia que o grupo ‘Alimentação no domicílio’ será uma “dor de cabeça” para o IPCA do final do ano, "principalmente por conta do grupo de ‘Carnes’, que já sobre mais de 6,00% no atacado, e tem um peso relevante no índice geral (2,35%). Até por isso, subimos a nossa projeção para o IPCA no final do ano de 4,40% para 4,60%, com viés de alta".

Os pesquisadores do IBGE destacaram que boa parte do avanço inflacionário do mês foi puxado pelos preços monitorados — ou seja, os preços de itens que são definidos pelo setor público ou por contratos, como energia elétrica.

Já a inflação de serviços, que é a que o Banco Central do Brasil (BC) consegue controlar com o aumento de juros, desacelerou em setembro, passando de uma alta mais acentuada, de 0,24%, em agosto para alta de 0,15% no mês passado.

Ainda assim, o mercado continua esperando novas altas da Selic, taxa básica de juros. Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) já elevou a taxa em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano.

Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, um ponto importante para a análise sobre os juros é o crescimento robusto da economia. "Embora esse crescimento seja positivo para a atividade doméstica, pode gerar pressões inflacionárias ou retardar o ritmo de desaceleração", afirmou.

"Diante de uma atividade econômica mais forte do que esperado, de uma inflação que deve terminar o ano próximo da banda superior da meta, de expectativas de inflação desancoradas e uma taxa de câmbio acima de R$ 5,50, o BC deve continuar o ciclo de ajuste da taxa de juros", disse Sung.

Cenário internacional

Já no exterior, os investidores passaram o dia repercutindo a divulgação da ata da última reunião do Fed. O documento apontou que uma "maioria substancial" das autoridades da instituição apoiaram o início da flexibilização da política monetária norte-americana na reunião de setembro.

Ainda assim, a ata informa que ainda existe uma preocupação com o mercado de trabalho dos EUA. Os dirigentes seguem observando os recentes aumentos na taxa de desemprego e as fracas leituras de emprego e inflação em julho e agosto.

Agora, a expectativa dos investidores segue para o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que deve ser divulgado amanhã. O indicador deve trazer mais clareza sobre a inflação norte-americana e, consequentemente, mais sinais sobre os próximos passos do Fed na condução dos juros do país.

Após os dados fortes do mercado de trabalho divulgados no país na última semana, a maior parte dos investidores já passou a prever uma redução no ritmo de cortes de juros pelo BC norte-americano.

Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, o mercado projeta uma chance de 88,7% de o Fed cortas as taxas em apenas 0,25 ponto percentual (p.p.). Há uma semana, a maioria dos investidores previa um corte de 0,50 p.p.. Atualmente, os juros dos EUA estão no intervalo entre 4,75% e 5%.

Ainda no exterior, a escalada dos conflitos no Oriente Médio segue na mira dos investidores. Nos últimos dias, o Líbano tem sido alvo de bombardeios aéreos de Israel, que mira alvos do grupo extremista Hezbollah.

Os ataques têm atingido também civis, e dois cidadãos brasileiros já morreram desde a intensificação dos combates, a partir do dia 20 de setembro.

Na madrugada do último sábado (5), as Forças de Defesa de Israel tentaram uma nova operação por terra. Hezbollah disse que militares israelenses tentaram se infiltrar em uma cidade do sul do Líbano, o que resultou em conflitos armados. Além disso, Beirute voltou a ser bombardeada.

Além disso, parte das atenções permaneceu voltada para a China. O governo chinês anunciou nesta quarta-feira que o Ministério das Finanças realizará uma entrevista coletiva no sábado para detalhar as medidas fiscais de estímulo para impulsionar a economia.

Na véspera, os investidores globais haviam demonstrado certa decepção com as medidas anunciadas.