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Patriotismo e nervos à flor da pele: a vida em Moscou após 18 meses de guerra na Ucrânia
O Kremlin tem estimulado mais ativamente eventos patrióticos como estes desde a invasão em grande escala da Ucrânia
O passado imperial da Rússia paira sobre Moscou. As muralhas e torres do Kremlin fazem os visitantes se sentirem como pequenos pontinhos na Praça Vermelha.
A 8 km de distância, tenho uma sensação semelhante quando vou ao Parque da Vitória. É um amplo complexo de museus e memoriais construídos para comemorar a vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista.
O ponto central é uma enorme praça com um obelisco de 141,8 m de altura — 10 cm para cada dia da "Grande Guerra Patriótica", como os soviéticos chamaram sua participação na Segunda Guerra Mundial após a invasão nazista.
Quando visito o parque, é o Dia Nacional da Bandeira Russa. Uma enorme bandeira tricolor — supostamente, a maior do país — está sendo desenrolada na praça.
Cercada por formações disciplinadas de soldados russos, a bandeira é estendida enquanto uma banda militar toca músicas patrióticas. O diretor de um museu faz um discurso, sublinhando que tais ocasiões “unem o nosso povo”.
O Kremlin tem estimulado mais ativamente eventos patrióticos como estes desde a invasão em grande escala da Ucrânia.
Dentro do próprio Museu da Vitória encontro uma exposição dedicada aos “heróis” da “operação militar especial”. Painéis informativos comparam as tropas russas que lutam na Ucrânia com os soldados soviéticos da Segunda Guerra Mundial.
Andrei Afanasiev, um blogueiro pró-Kremlin e professor universitário, topa se encontrar comigo. Ele me diz que o patriotismo é mais importante durante a guerra e que aquilo que ele chama de “guerra do Ocidente contra a Rússia” fez os russos perceberem que estão por conta própria.
"Você só pode confiar em si mesmo, no seu país e no seu exército. Definitivamente, o patriotismo é maior do que era antes. A guerra nos mobiliza e nos une", diz ele.
Eu pergunto a Andrei se ele acha que a guerra está indo mal para a Rússia.
“Eu não diria [isso]”, ele responde. "Acredito no sucesso da Rússia. Estamos prontos para a vitória."
Na TV estatal russa, fala-se também de “sucessos” e “progressos”, mas a realidade é diferente, diz-me um analista de questões militares que prefere não se identificar.
"Os militares russos entendem que estão numa situação grave. Eles perderam território... A moral não está muito alta".
"Eles não estão preparados para a guerra moderna. As perdas são grandes."
Pergunto se o presidente diz a verdade sobre a situação real no campo de batalha. Claro que não, o analista responde.
"As mentiras estão em toda a cadeia de comando. À medida que a informação sobe, ela se torna cada vez mais distorcida."
Para o analista, os oficiais russos na Ucrânia estão "nervosos" com a contraofensiva de Kiev, porque sabem que suas forças "estão apenas suportando".
Não são apenas os militares russos que estão ansiosos. A sensação que tenho em Moscou é de nervosismo geral. E, realmente, há muito com que se preocupar.
Em junho, Yevgeny Prigozhin lançou um motim e marchou para a capital. Dois meses depois, o líder do grupo mercenário Wagner foi registrado como um dos mortos em uma misteriosa queda de avião, levando a acusações de envolvimento do Kremlin.
No início deste mês, o valor do rublo despencou. Acrescente-se a isso os ataques de drones a Moscou, que se tornaram uma ocorrência quase diária.
Embora os russos não pareçam preocupar-se individualmente com estes acontecimentos, muitos admitem estar preocupados com o presente, bem como temerosos em relação ao futuro.
A cena no Parque Gorky — a versão moscovita do Hyde Park de Londres — é idílica, com famílias passeando na beira d'água e andando de patins. Em frente, porém, está o imponente edifício cinzento do Ministério da Defesa russo, no topo do qual está um sistema de defesa aérea.
É um contraste impressionante: um sistema de mísseis superfície-ar próximo a um parque com lindas imagens.
Uma mulher, Irina, diz que não se incomoda muito com a presença de mísseis no centro da capital da Rússia.
"Meu humor está estável, meu psicológico já se adaptou. O auge da minha preocupação já passou. Mas espero que tudo se resolva da melhor maneira."
Pavel está caminhando com sua esposa Olga. Eles discordam sobre a guerra na Ucrânia. Olga apoia o Kremlin e acredita que tudo é culpa da Ucrânia, enquanto o seu marido diz que a culpa é da Rússia.
“Preocupo-me com a possibilidade de os drones caírem sobre Moscou”, admite Pavel.
"Mas decidimos que não falaríamos sobre política, para não discutirmos e provocarmos um ao outro."
Muitas pessoas parecem relutantes em pensar no que está acontecendo nas cidades e vilas da Ucrânia — que estão a menos de um dia de carro.
Há poucos indícios da “febre de guerra” entre os moscovitas, apesar do que diz Andrei Afanasiev. Pouquíssimas pessoas andam pelas ruas com roupas que exibem a letra Z ou outros símbolos pró-Rússia. Entre a maioria, há indiferença, resignação ou aceitação mansa.
Este estado de espírito também prevalece entre muitos dos que estão nos corredores do poder, segundo uma fonte próxima do Kremlin que falou comigo sob condição de anonimato.
"Os funcionários da administração presidencial ou estão reprimidos ou deprimidos. Trabalham lá há tantos anos que não sabem mais nada. São pessimistas quanto ao futuro, mas apenas seguem o fluxo. Não há outra escolha", diz a fonte.
Ele me disse que as pessoas têm medo de se colocar: “Não há oposição a Putin no Kremlin”.
O medo é profundo em Moscou. Numa pequena sala escondida no topo de um centro comercial, está ocorrendo uma reunião de ativistas da oposição. Eles prepararam uma mesa com biscoitos, salgadinhos e bebidas.
Yulia Galyamina, uma política local que faz parte de um pequeno grupo de figuras da oposição que não foram presas ou forçadas a fugir da Rússia, lidera o encontro.
“Toda semana alguém é preso”, ela suspira. "Estou sempre pronta para alguém bater à porta. Sinto-me sozinha, mas penso que faço a coisa certa. O meu povo precisa de ter políticos no seu país."
Alguns dos ativistas relutam em revelar os seus nomes verdadeiros.
“Sou uma ativista antiguerra que tem sorte de ainda não estar na prisão”, diz uma delas, também chamada Yulia.
Ela deixou a universidade depois que vários professores expressaram apoio à operação militar do Kremlin. Pergunto-lhe que mensagem ela tem para as pessoas no Ocidente que pensam que todos os russos apoiam a guerra.
"Quero dizer que há muitas pessoas antiguerra aqui, ativistas antiguerra... a humanidade vencerá de qualquer maneira. Estamos lutando aqui e faremos o nosso melhor."