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Mais de 600 brasileiros são deportados do Reino Unido em voos secretos do governo, diz jornal

Segundo o 'The Guardian', país nunca deportou tantas pessoas de uma mesma nacionalidade em voos desse tipo. Governo diz que imigrantes viajaram de forma voluntária

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 01/12/2024
Mais de 600 brasileiros são deportados do Reino Unido em voos secretos do governo, diz jornal
Avião do Ministério do Interior do Reino Unido, após voo de imigrantes para Ruanda ser suspenso por liminar, em junho de 2024 | REUTERS/Hannah McKay

Mais de 600 brasileiros -- incluindo 109 crianças -- foram deportados do Reino Unido em três voos secretos do governo, entre agosto e setembro deste ano. A informação foi apurada e publicada pelo jornal britânico "The Guardian".

Segundo a publicação, o número é recorde: o país nunca deportou tantas pessoas de uma mesma nacionalidade em voos desse tipo. Organizações que protegem os direitos de imigrantes latino-americanos no Reino Unido expressaram preocupação com a medida, especialmente com o alto número de crianças retiradas do país.

Os três voos relatados pelo "Guardian" aconteceram em um período de menos de dois meses:

  • Em 9 de agosto, 205 pessoas foram deportadas, entre elas 43 crianças;
  • Em 23 de agosto, 206 foram deportadas, incluindo 30 crianças;
  • Em 27 de setembro, foram 218 deportados, 36 deles crianças.

O jornal menciona que todas as crianças retiradas do país faziam parte de unidades familiares. Muitas delas estavam matriculadas em escolas e passaram a maior parte -- ou toda a vida -- no Reino Unido.

O governo britânico diz que as deportações foram voluntárias e incluíram pessoas que ultrapassaram o prazo de permanência de seus vistos. O Ministério do Interior do Reino Unido, órgão responsável pelas políticas de migração, oferece incentivos de até 3.000 libras (cerca de R$ 22 mil) para imigrantes que aceitam ser deportados voluntariamente.

“Estamos preocupados com o aumento acentuado nos retornos voluntários de brasileiros no último ano", afirmou a organização Coalition of Latin Americans in the UK (Coalizão de Latino-Americanos no Reino Unido) em comunicado publicado pelo "Guardian". A entidade acrescentou:

"Como a maior comunidade latino-americana no Reino Unido, os brasileiros enfrentam barreiras significativas para acessar informações de alta qualidade e aconselhamento jurídico credenciado, especialmente em seu próprio idioma."

"Muitos chegaram por meio da migração de países da União Europeia. No entanto, as mudanças nas regras de imigração pós-Brexit deixaram centenas deles e seus familiares fora da UE, com risco de terem seus direitos negados devido à desinformação e aos rigorosos requisitos de elegibilidade.”

Com a saída dos britânicos da União Europeia, aprovada em um plebiscito em 2016, pessoas que planejavam se mudar entre países do bloco e o Reino Unido passaram a não ter mais permissão automática para a nova residência. A regra passou a valer em 2021, quando entrou em vigor um acordo para definir os termos do Brexit.

Ao "Guardian", um porta-voz do Ministério do Interior britânico disse que o governo está aumentando a deportação de imigrantes ilegais. “Isso reduzirá nossa dependência de hotéis e custos de acomodação, economizando cerca de 4 bilhões de libras nos próximos dois anos."

Em abril deste ano, o Parlamento do Reino Unido aprovou uma lei para permitir que o governo force imigrantes que chegaram de qualquer lugar do mundo e pediram asilo em solo britânico a entrar em um avião que os leve para Ruanda – mesmo que a pessoa nunca tenha pisado em Ruanda.

A medida era uma das principais bandeiras do governo do ex-primeiro-ministro, Rishi Sunak, que é filho de imigrantes indianos. Em junho, o primeiro voo para levar requerentes de asilo para Ruanda foi suspenso, depois que o tribunal europeu de direitos humanos emitiu liminares para impedir a deportação de imigrantes a bordo.