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Guerra entre Israel e Irã chega ao 5º dia com mais de 240 mortos; Trump deixa G7 mais cedo

A guerra entre Israel e Irã entrou no quinto dia, com lançamento de mísseis entre os dois países e mais de 240 mortos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 17/06/2025
Guerra entre Israel e Irã chega ao 5º dia com mais de 240 mortos; Trump deixa G7 mais cedo
Irã segue sendo alvo de ataques de Israel | REUTERS

A guerra entre Israel e Irã entrou no quinto dia, com lançamento de mísseis entre os dois países e mais de 240 mortos. Teerã foi alvo de novos ataques na madrugada desta terça-feira (17/06, em horário local), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendar que todos deixem a capital iraniana.

Trump encurtou sua visita à cúpula do G7, no Canadá, para voltar aos EUA e tratar da crise no Oriente Médio. Ele pediu que seu Conselho de Segurança Nacional se reúna.

Trump também deu declarações a jornalistas logo após a decolagem do Air Force One do Canadá. Ele afirmou que não estava retornando a Washington apenas para mediar um cessar-fogo entre Irã e Israel — ele queria mais do que isso. Segundo ele, buscava "algo melhor que um cessar-fogo".

Quando pressionado a explicar o que isso significava, manteve-se vago: disse querer "um fim real", que poderia incluir "uma rendição completa" por parte do Irã. Trump reiterou que o país persa precisaria abandonar totalmente seu programa nuclear.

Apesar disso, reconheceu que isso exigiria novas negociações — algo para o qual, segundo suas próprias palavras, ele "não está muito disposto no momento".

O republicano voltou a criticar Teerã por não ter aceitado o acordo que ele teria proposto antes dos ataques israelenses começarem. Ele reforçou esse ponto em uma nova publicação na Truth Social, pouco depois de pousar em Washington.

Em sua rede social, a Truth Social, o presidente americano escreveu na noite de segunda-feira (16): "Todos devem evacuar Teerã imediatamente!"

Ghoncheh Habibiazad, repórter da BBC que está no Irã, relata que "mais e mais pessoas" estão tentando deixar a capital iraniana, mas há muito congestionamento — e as pessoas estão exaustas.

"Muitos com quem conversei, que conseguiram escapar de Teerã, estão preocupados com amigos e familiares que não conseguiram fazer as malas e partir", relata Habibiazad.

Até o momento, o conflito entre Israel e Irã deixou pelo menos 248 pessoas mortas: 224 no Irã e 24 em Israel, segundo dados oficiais dos dois governos.

Entre os feridos, são cerca de 1.200 no Irã e 154 hospitalizados em Israel, conforme informações dos Ministérios da Saúde de ambos os países.

Nesta segunda-feira, um porta-voz das Forças Armadas israelenses afirmou que o país "assumiu controle aéreo total sobre Teerã".

Trump subindo escadas de avião

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Trump deixou o encontro do G7 no Canadá

"Destruímos um terço dos lançadores de mísseis superfície-superfície do regime iraniano", disse o brigadeiro-general Effie Defrin em uma coletiva de imprensa.

"Estamos a caminho de alcançar nossos dois objetivos: eliminar a ameaça nuclear e eliminar a ameaça dos mísseis", afirmou, em seguida, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O embaixador iraniano nas Nações Unidas (ONU), Amir Saeid Iravani, afirmou por sua vez que o Irã tem o direito à autodefesa e conduziu "operações defensivas proporcionais" aos ataques israelenses.

Fogo e fumaça em fábrica

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Indústria atingida por ataque com mísseis iraniano em Haifa, Israel

Mais cedo, Netanyahu tentou diferenciar os ataques israelenses dos iranianos, afirmando que Israel tinha como alvo ameaças nucleares e armamento com mísseis, enquanto o Irã teria como alvo civis.

Iravani rebateu.

"O Irã, em conformidade com o princípio da proporcionalidade, tomou medidas adicionais visando infraestruturas específicas em Israel como alvos legítimos que materialmente apoiaram sua ofensiva em andamento", afirmou ele em carta ao Conselho de Segurança da ONU.

O embaixador também acusou Israel de atacar civis e infraestrutura civil.

As hostilidades começaram na sexta-feira (13/06, em horário local) com um amplo ataque israelense contra alvos nucleares e comandantes militares do Irã.

Na ocasião, autoridades israelenses argumentaram que o Irã estava avançando com seu plano de transformar urânio enriquecido em arma nuclear, o que seria um "perigo claro e presente para a própria sobrevivência de Israel".

Nas últimas horas:

  • A mídia estatal iraniana relatou explosões e intensos disparos de defesa aérea em Teerã nas primeiras horas da manhã de terça-feira (17/06, no horário local), de acordo com a Reuters.
  • As autoridades israelenses suspenderam um alerta anterior que cobria diversas regiões após a detecção de mísseis sendo lançados do Irã.
  • A embaixada da China instou seus cidadãos a deixarem Israel "o mais rápido possível", já que o conflito com o Irã "continua a se agravar"
  • A Rede de Notícias da República Islâmica do Irã (The Islamic Republic of Iran News Network, IRINN, em inglês), parte da emissora estatal iraniana, afirmou ter sido atacada por Israel. Em um vídeo, é possível ver o momento em que destroços caem no estúdio e uma apresentadora se retira. Isso ocorreu após ameaças feitas pelo ministro da Defesa israelense, que disse que a emissora estatal estava "prestes a desaparecer".
  • Mais cedo, explosões atingiram grandes cidades israelenses, incluindo Tel Aviv e a cidade portuária de Haifa.
  • Os ataques iranianos ocorreram logo após Israel lançar ataques contra bases de mísseis superfície-superfície no Irã e matar o chefe de inteligência das forças armadas iranianas, Mohammad Kazemi.
  • A embaixada americana em Tel Aviv sofreu "danos leves" durante os ataques noturnos do Irã. Nenhum funcionário americano foi ferido, disse o embaixador Mike Huckabee. A embaixada dos EUA em Jerusalém permanecerá fechada.

O papel dos EUA

Fumaça sobre prédios

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Fumaça após o que o Irã disse ter sido um ataque israelense a depósito de petróleo em Teerã

O presidente dos EUA, Donald Trump, abreviou sua presença na cúpula do G7 por conta da crise.

"Devido ao que está acontecendo no Oriente Médio, o presidente Trump partirá hoje à noite, após o jantar com os chefes de Estado", escreveu a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, na rede social X.

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que, durante o encontro no Canadá, o americano disse que estão acontecendo conversas para um cessar-fogo entre Israel e Irã.

Trump, escreveu horas antes, em suas redes sociais, que o Irã deveria ter assinado um acordo nuclear apresentado na rodada mais recente de negociações entre EUA e Irã.

Uma nova rodada de negociação estava prevista para o domingo (15) — mas, em meio aos ataques, foi cancelada.

"Em poucas palavras, o IRÃ NÃO PODE TER UMA ARMA NUCLEAR", escreveu Trump em sua rede social, a Truth Social.

Na sua plataforma Truth Social, Trump postou que não entrou em contato com o Irã sobre negociações de cessar-fogo "de nenhuma forma, maneira ou tipo".

Ele acrescentou que o Irã deveria ter assinado um acordo que ele propôs durante as negociações mais recentes sobre o programa nuclear iraniano.

"Isso é só mais uma NOTÍCIA ALTAMENTE FABRICADA E FALSA! Se eles quiserem conversar, sabem como me encontrar. Deveriam ter aceitado o acordo que estava na mesa – teria salvado muitas vidas!!!", diz o post.

Mais cedo, o presidente dos EUA disse esperar que Israel e Irã cheguem a um acordo, mas ponderou que às vezes os países precisam "lutar até o fim".

A mídia americana noticiou que Trump rejeitou um plano israelense para assassinar o aiatolá Ali Khamenei.

Trump teria dito a Netanyahu que assassinar Khamenei "não é uma boa ideia", segundo uma autoridade citada pela rede americana CBS.

O presidente não comentou publicamente a notícia. Netanyahu não confirmou, nem negou.

Trump posando para foto, em pé, com feição séria

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Presença de Trump na cúpula do G7 no Canadá foi encurtada por crise no Oriente Médio

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghai, afirmou que, após o cancelamento das negociações nucleares entre EUA e Irã, os americanos precisam "condenar" os ataques israelenses contra o Irã para que as negociações continuem.

Baghai disse que as negociações são "sem sentido" na situação atual e acusou os EUA de serem "cúmplices" dos ataques israelenses.

O conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) fez uma sessão de emergência nesta segunda-feira para discutir as repercussões dos ataques militares israelenses às instalações nucleares iranianas.

Na reunião, a AIEA afirmou que está acompanhando a situação atentamente e em tempo integral.

"Pela segunda vez em três anos, estamos testemunhando um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual instalações nucleares estão sendo atacadas e a segurança nuclear está sendo comprometida", afirmou Rafael Mariano Grossi, diretor da agência.

A AIEA "não ficará de braços cruzados durante este conflito", acrescentou Grossi, pedindo por uma saída diplomática.

"Continuarei minha comunicação constante com as partes em conflito para buscar a maneira mais adequada de fazer isso acontecer", colocou.

A sessão de emergência ocorreu em meio a negociações militares em andamento entre Irã e Israel, incluindo sobre ataques israelenses contra as instalações nucleares iranianas em Natanz e Fordow, afirma a repórter da BBC em Viena, Shabnam Shabani.

"A ação militar nunca foi um meio aceito para abordar as preocupações nucleares no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). O Irã insiste que a comunidade internacional e o Conselho de Governadores da AIEA devem condenar os ataques. No entanto, dado o atual clima geopolítico, uma condenação assim parece improvável", diz a repórter da BBC.

A China fez um apelo a Israel e Irã para que tomem medidas para reduzir a tensão, enquanto os ataques de ambos os lados continuam.

"Instamos todas as partes a tomarem medidas imediatas para acalmar as tensões, evitar que a região mergulhe em uma turbulência ainda maior e criar condições para retornar ao caminho certo de resolução de problemas por meio do diálogo e das negociações", disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, nesta segunda-feira.

Os comentários foram feitos após outro porta-voz do governo chinês ter afirmado no domingo que "a China está disposta a desempenhar um papel construtivo no processo" de redução da tensão.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou ter dito ao premiê israelense no domingo que a diplomacia seria, em última análise, a melhor opção para lidar com o Irã, mas não chegou a pedir um cessar-fogo imediato.

Von der Leyen afirmou concordar com Netanyahu, em um telefonema, que "o Irã não deveria ter uma arma nuclear".

Von der Leyen já havia criticado as ações de Israel em Gaza, mas afirmou que o descumprimento do Irã de tratados nucleares faz com que Israel tenha "o direito de se defender".

"O Irã é a principal fonte de instabilidade regional", disse a líder europeia.

Von der Leyen está atualmente no Canadá participando da cúpula do G7, onde afirmou que o conflito entre Israel e o Irã seria abordado, juntamente com a invasão russa da Ucrânia.

"O mesmo tipo de drones e mísseis balísticos projetados e fabricados pelo Irã estão atingindo indiscriminadamente cidades na Ucrânia e em Israel. Portanto, essas ameaças precisam ser enfrentadas em conjunto", disse ela.

Os preços globais do petróleo subiram na segunda-feira, após a escalada do conflito entre os dois países.

No início do pregão na Ásia, os contratos futuros do petróleo Brent subiram mais de US$ 2, ou cerca de 2,8%, para US$ 76,37 o barril. O petróleo bruto dos EUA também subiu cerca de US$ 2, para US$ 75,01.

Os ganhos se somaram à alta de 7% registrada na sexta-feira.

Os negociadores no mercado estão preocupados com a possibilidade de o conflito entre Irã e Israel interromper o fornecimento da região.

O custo do petróleo afeta diversos outros preços na economia, como gasolina e alimentos.

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