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Netanyahu comemora a adesão de Trump à ofensiva contra o Irã: "Primeiro vem a força, depois vem a paz."
Teerã afirma que os Estados Unidos agora também são seu alvo e lança duas ondas de mísseis em direção a Israel, enquanto as autoridades alertam a população para limitar suas atividades

"Primeiro vem a força, depois a paz." O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, resumiu com essa frase a direção que a guerra no Oriente Médio tomou logo após os Estados Unidos bombardearem o Irã em uma operação coordenada com Israel. Esta é a crônica de um ataque anunciado. No Estado judeu, presumia-se que Washington se juntaria à ofensiva contra o Irã lançada em 13 de junho. A única questão que restava era quando.
O regime iraniano respondeu lançando duas ondas de mísseis contra território israelense na manhã de domingo. O ataque causou mais de 80 feridos de gravidade variada após atingir diferentes áreas de Haifa e Tel Aviv. Teerã também acusa os EUA de violar o direito internacional, nega danos irreparáveis ao principal local atacado, Fordow (uma das três instalações nucleares atacadas e um componente-chave do programa nuclear iraniano, localizada na província de Qom), e agora lista cidadãos e interesses americanos entre seus alvos.
Além dos ataques, o Irã tem sido rápido em responder verbalmente. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, acredita que Trump veio em socorro de Netanyahu diante da "impotência" israelense. O Ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, por sua vez, acredita que os EUA "cometeram uma grave violação da Carta das Nações Unidas, do direito internacional e do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) ao atacar as instalações nucleares pacíficas do Irã". Araghchi promete, como publicou nas redes sociais, "consequências duradouras".
Washington afirma ter causado sérios danos ao programa nuclear, enquanto a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a agência nuclear da ONU, ainda não detectou nenhum aumento na radiação.


O exército israelense já solicitou à população, que vive em alerta há dez dias com o país a meia velocidade, que limite suas atividades às atividades essenciais. As autoridades fecharam o espaço aéreo por várias horas antes de retomar os voos de repatriação para cidadãos retidos pelo conflito fora de Israel. Eles entendem que a República Islâmica pode intensificar seus disparos de foguetes nas próximas horas ou dias. Bombas americanas começaram a cair em território iraniano 24 horas após a última onda de mísseis do regime contra Israel.
O domingo no Estado Judeu, o primeiro dia da semana, começou com alarmes e dois disparos de mísseis do Irã pouco depois das 7h30. Em Tel Aviv, ouviram-se várias explosões de grandes proporções e as sirenes de veículos de emergência. Pouco depois, foi confirmado que houve impactos, em alguns casos com graves danos materiais, e mais de 80 pessoas feridas. O número total de deslocados internos devido aos ataques chega a aproximadamente 9.000.
O primeiro- ministro Netanyahu enviou uma mensagem de vídeo gravada parabenizando o líder americano Donald Trump por "sua ousada decisão de atacar as instalações nucleares do Irã". É algo, acrescentou o presidente, que "mudará a história". Mantendo sua retórica belicosa baseada no Irã como inimigo número um, ele acrescentou que "a história registrará que o presidente Trump agiu para negar ao regime mais perigoso do mundo a arma mais perigosa do mundo".
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O regime iraniano já anunciou, por meio de sua mídia oficial, que cidadãos americanos e seus interesses na região também serão alvos da resposta do regime. Isso já havia sido insinuado nos últimos dias, em meio à ambiguidade do presidente Donald Trump sobre se seu país atacaria. Resta saber se Teerã passará das palavras à ação, e com que força, pois confrontar apenas Israel não é o mesmo que confrontar também a principal potência mundial.
"Ao contrário do que afirma o presidente americano mentiroso, as instalações nucleares de Fordow não sofreram danos graves, e a maior parte dos danos está apenas no solo, podendo ser reparada", disse uma autoridade da província onde Fordow está localizada à Tasnim. "Não há perigo para a população de Qom ou seus arredores", garantiram autoridades da província, segundo um comunicado da IRNA, divulgado pela Al Jazeera.
Os primeiros aliados de Teerã a reagir ao ataque foram os houthis do Iêmen e o Hamas de Gaza. Enquanto isso, o exército israelense não descarta algum tipo de ataque do partido miliciano xiita Hezbollah, do Líbano, em solidariedade a Teerã.
"Washington deve arcar com as consequências", disseram os guerrilheiros iemenitas em um comunicado, segundo a emissora catariana Al Jazeera. Os houthis controlam uma parcela significativa do território iemenita e sistematicamente ameaçam, agridem e atacam navios que cruzam o Canal de Suez.
O Movimento de Resistência Islâmica (como o Hamas é conhecido), por sua vez, descreveu a mais recente ação de Washington em um comunicado como uma "agressão flagrante dos EUA contra o território e a soberania iraniana", pela qual também culpou Israel, ao mesmo tempo em que confiava na capacidade do regime dos aiatolás de se defender.
Embora o orgulho israelense o tenha impedido de exigir publicamente ajuda de seu principal aliado, e o Estado judeu tenha insistido em sua autossuficiência, era um fruto maduro pronto para cair, e assim aconteceu. Vinte e quatro horas se passaram desde a última onda de mísseis lançada pelo regime dos aiatolás contra várias regiões israelenses, quando aeronaves americanas começaram a lançar suas armas sobre as instalações nucleares da República Islâmica. O Estado judeu alertou que está enfrentando a campanha mais complexa de sua história, como reconheceu o chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, neste fim de semana.
De qualquer forma, analistas da imprensa israelense assumem que o envolvimento de Washington na ofensiva servirá para acelerar o progresso em direção aos dois pilares fundamentais da ofensiva, como Netanyahu apontou: acabar com o programa nuclear e a produção de mísseis que representam uma ameaça direta a Israel.