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Trump diz que gostou de Lula e fala em encontro na semana que vem

Não ficou claro para o governo brasileiro se a conversa ocorrerá pessoalmente ou por telefone, de acordo com a mesma fonte. Não houve ainda um convite formal para essa reunião

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 23/09/2025
Trump diz que gostou de Lula e fala em encontro na semana que vem
O encontro ocorreu logo após o discurso de Lula, que abriu a Assembleia Geral da ONU, falando antes de Trump | REUTERS

O presidente americano Donald Trump afirmou em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (23) que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é "um cara legal" e disse que os dois mandatários devem se encontrar na semana que vem.

O breve encontro entre os dois presidentes foi confirmado pela assessoria de Lula em seguida.

Segundo a BBC News Brasil apurou com fonte do governo brasileiro, Trump assistiu ao discurso de Lula pelo telão, e, após a fala de Lula, os dois se encontraram, se cumprimentaram e conversaram brevemente.

Não ficou claro para o governo brasileiro se a conversa ocorrerá pessoalmente ou por telefone, de acordo com a mesma fonte. Não houve ainda um convite formal para essa reunião.

"Nós o vimos, eu o vi. Ele me viu e nos abraçamos. E então eu disse: 'Você acredita que vou falar em apenas dois minutos?' Na verdade, combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns vinte segundos e pouco, pensando bem", afirmou Trump.

"Tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem, se isso for do interesse dele. Mas ele parece um homem muito legal. Na verdade, ele... Ele gostou de mim, eu gostei dele, mas... E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto, eu não faço [negócios] quando não gosto da pessoa. Quando não gosto, eu não gosto."

Trump afirmou que eles estiveram juntos por "30 segundos". "Tivemos uma química excelente."

O encontro ocorreu logo após o discurso de Lula, que abriu a Assembleia Geral da ONU, falando antes de Trump.

Esse foi o primeiro encontro entre os dois presidentes desde que ambos voltaram ao poder, Lula em 2023, e Trump, em 2025.

A fala sobre Lula, a primeira de Trump se referindo textualmente ao brasileiro, ocorreu enquanto o republicano falava sobre o tema das tarifas.

"O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades de cidadãos americanos e de outros países, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos", afirmou Trump.

Lula está 'pronto para conversar'

A poucos dias de embarcar para os Estados Unidos para a Assembleia Geral da ONU, Lula afirmou em entrevista à BBC News Brasil que estava "pronto para conversar" caso o governo americano estivesse aberto a dialogar sobre a tarifa de 50% imposta em julho sobre produtos brasileiros.

Leia a entrevista completa.

Lula afirmou não ter "problema pessoal com o presidente Donald Trump" e declarou que, caso cruzasse com o republicano nos corredores das Nações Unidas, iria cumprimentá-lo.

"Porque eu sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo."

Questionado pela reportagem sobre o tarifaço dos EUA contra o Brasil, o presidente disse que a melhor alternativa "para qualquer conflito" é "sentar em torno de uma mesa e negociar".

"Se é do ponto de vista comercial, tem negociação, se é do ponto de vista econômico, tem negociação, tanto do ponto de vista de tributação, tem negociação. O que não tem negociação é a questão da soberania nacional", pontuou Lula.

A expectativa de uma conversa entre os dois presidentes ocorre desde o início de julho, quando Trump anunciou as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

Até então, Lula dizia que não havia conversado ainda com Trump "porque eles não querem conversar". O americano, que impôs as tarifas devido ao julgamento de Bolsonaro no STF por golpe de Estado, dizia que poderia falar com Lula "em algum momento".

Lula.

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Lula assistiu ao discurso de Trump, que ocorreu imediatamente após a fala do presidente brasileiro

Em seu discurso na ONU, Lula falou sobre "sanções arbitrárias e intervenções unilaterais", sem mencionar Trump ou os Estados Unidos.

"Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra."

O presidente brasileiro afirmou também que "atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra".

"Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis", afirmou Lula. "Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela."

Os discursos ocorreram um dia depois de uma nova rodada de sanções dos Estados Unidos contra o Brasil.

Na segunda-feira (22/09), o Departamento de Estado americano incluiu a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, na Lei Magnitsky.

Moraes, relator da ação penal que condenou por golpe de Estado e outros crimes o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — alinhado ideologicamente a Trump —, já havia sido submetido à Magnitsky no fim do julho.

A aplicação dessa lei é umas das punições mais severas disponíveis contra estrangeiros considerados pelos EUA autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

Além de Viviane, também foi punida sob a Lei Magnitsky a empresa Lex - Instituto de Estudos Jurídicos, mantida por ela e pelos três filhos do casal: Gabriela, Alexandre e Giuliana Barci de Moraes.

Segundo o Departamento de Estado, a medida visa sancionar a "rede de apoio" a Moraes.

"Aqueles que protegem e permitem que atores estrangeiros malignos como Moraes ameaçam os interesses dos EUA e também serão responsabilizados", diz uma nota do órgão americano.

Também na segunda, o governo Trump revogou o visto do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e de outros seis membros do Judiciário brasileiro, além de seus familiares diretos.