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EUA dizem que vão revogar visto do presidente da Colômbia após falas em ato pró-Palestina

Departamento de Estado disse que decisão é resposta a falas “incendiárias” de Gustavo Petro em protesto em Nova York

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 27/09/2025
EUA dizem que vão revogar visto do presidente da Colômbia após falas em ato pró-Palestina
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, participou de uma manifestação pró-Palestina em Nova York | Bing Guan/Reuters

O governo dos Estados Unidos informou nesta sexta-feira (26) que vai revogar o visto do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, após o político ter participado de uma manifestação pró-Palestina em Nova York. Na ocasião, ele pediu que soldados norte-americanos desobedecessem às ordens do presidente Donald Trump.

“Vamos revogar o visto de Petro devido às suas ações imprudentes e incendiárias”, publicou o Departamento de Estado em sua conta no X (antigo Twitter).

Durante o protesto, em frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Petro defendeu a criação de uma força armada global com a prioridade de libertar os palestinos. “Essa força precisa ser maior do que a dos Estados Unidos”, disse.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, participou de uma manifestação pró-Palestina em Nova York — Foto: Bing Guan/Reuters

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, participou de uma manifestação pró-Palestina em Nova York — Foto: Bing Guan/Reuters

O presidente colombiano também afirmou:8

“É por isso que, daqui de Nova York, peço a todos os soldados do exército dos Estados Unidos que não apontem suas armas para o povo. Desobedeçam às ordens de Trump. Obedeçam às ordens da humanidade.”

A agência Reuters não conseguiu confirmar se Petro ainda permanecia em Nova York. Nem o gabinete da Presidência da Colômbia, nem o Ministério das Relações Exteriores responderam aos pedidos de comentário.

Conflito em Gaza na ONU

Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia e crítico da ofensiva de Israel em Gaza, já havia atacado Trump em discurso na Assembleia Geral da ONU na última terça-feira (23). Na ocasião, ele:8

  • acusou o líder norte-americano de ser “cúmplice de genocídio”
  • e defendeu a abertura de processos criminais contra os EUA por ataques com mísseis a barcos suspeitos de tráfico de drogas no Caribe.

No mesmo evento, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou países ocidentais que reconheceram o Estado palestino — como França, Reino Unido, Austrália e Canadá. Segundo ele, esse gesto “passa a mensagem de que assassinar judeus compensa”.

Israel iniciou sua ofensiva em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou cerca de 1,2 mil mortos e 251 pessoas sequestradas. Desde então, mais de 65 mil palestinos foram mortos e toda a população do território foi deslocada, de acordo com autoridades de saúde locais.

Especialistas em direitos humanos afirmam que a situação caracteriza genocídio, acusação rejeitada por Israel, que afirma agir em legítima defesa.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, não conseguiu viajar a Nova York porque os EUA negaram seu visto. Ele discursou por vídeo e alegou que a proibição viola o acordo de 1947, que obriga Washington a garantir acesso de diplomatas estrangeiros à sede da ONU. O governo norte-americano alega que pode barrar vistos por razões de segurança, extremismo ou política externa.

Relação difícil entre Petro e Trump

Os EUA são o principal parceiro comercial da Colômbia e aliado estratégico no combate ao narcotráfico. Mas a relação entre os dois países ficou estremecida após o retorno de Trump à Casa Branca, em janeiro.

Logo no início do novo mandato, Petro se recusou a aceitar voos militares com deportados colombianos, parte da política de imigração de Trump. Ele afirmou que seus cidadãos estavam sendo tratados como criminosos, mas voltou atrás após pressões: os dois governos ameaçaram impor tarifas e os EUA cancelaram agendamentos de vistos para colombianos.

Neste mês, Trump incluiu a Colômbia na lista de países que, segundo Washington, não cumprem acordos de combate às drogas — responsabilizando a liderança política colombiana.

Petro assumiu a presidência em 2022 prometendo acordos com grupos armados, mas no ano passado anunciou uma estratégia de intervenção social e militar em regiões produtoras de coca. Até agora, a iniciativa não teve resultados expressivos.