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Terra está se partindo: cientistas registram, pela primeira vez, uma placa tectônica se rompendo sob o oceano

Imagens de alta resolução captadas na costa do Canadá revelam o momento em que uma zona de subducção está se fragmentando — fenômeno raro que ajuda a explicar o futuro dos terremotos e vulcões

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 31/10/2025
Terra está se partindo: cientistas registram, pela primeira vez, uma placa tectônica se rompendo sob o oceano
Pesquisadores registraram uma zona de subducção em pleno processo de extinção, enquanto as placas tectônicas sob a região de Cascadia se rompem, pedaço por pedaço | AI/ScienceDaily.com

Na costa da Ilha de Vancouver, no Canadá, o fundo do oceano está literalmente se partindo. Pela primeira vez, cientistas conseguiram flagrar uma placa tectônica se rompendo ativamente, em um processo que marca o início do fim de uma zona de subducção — a região onde uma placa mergulha sob a outra e alimenta cadeias de vulcões e terremotos.

A descoberta, publicada na revista Science Advances, mostra imagens sísmicas inéditas da região de Cascadia, no Pacífico Norte, onde as placas Juan de Fuca e Explorer estão se fragmentando sob a placa norte-americana.

“Esta é a primeira vez que temos uma imagem clara de uma zona de subducção em vias de extinção”, afirma o geólogo Brandon Shuck, da Universidade Estadual da Louisiana (EUA), autor principal do estudo.

Pesquisadores registraram uma zona de subducção em pleno processo de extinção, enquanto as placas tectônicas sob a região de Cascadia se rompem, pedaço por pedaço. — Foto: AI/ScienceDaily.com

Pesquisadores registraram uma zona de subducção em pleno processo de extinção, enquanto as placas tectônicas sob a região de Cascadia se rompem, pedaço por pedaço. — Foto: AI/ScienceDaily.com

O que é uma zona de subducção

As zonas de subducção são regiões profundas do planeta onde as placas oceânicas mergulham em direção ao interior da Terra, empurradas por forças tectônicas.

É nesses limites que se concentram alguns dos maiores terremotos e vulcões do planeta, como o do Japão e o do Chile.

Com o tempo, no entanto, essas regiões podem enfraquecer e se romper — fenômeno que muda a arquitetura do planeta e influencia a formação de novos continentes.

‘Ultrassom’ do fundo do mar

Para registrar o processo, os pesquisadores enviaram ondas sonoras do navio Marcus G. Langseth em direção ao fundo do mar. Os ecos retornaram a um cabo de escuta de 15 quilômetros de comprimento, revelando uma estrutura complexa sob o solo oceânico.

O método, conhecido como reflexão sísmica, funciona como um ultrassom do subsolo da Terra.

As imagens revelaram falhas, fendas e deslocamentos cortando as placas de Cascadia — algumas com dezenas de quilômetros de extensão, indício de que o processo de ruptura está em curso há cerca de 4 milhões de anos.

Uma ‘fratura viva’ no planeta

De acordo com o estudo, o rompimento está ocorrendo no ponto de encontro entre três placas tectônicas, uma região conhecida como junção tripla, onde os movimentos se tornam mais instáveis.

As análises indicam que a microplaca Explorer, uma pequena fração da antiga placa oceânica de Farallon, está se desprendendo da litosfera adjacente.

Isso significa que a subducção ali pode estar chegando ao fim, e a região tende a se transformar em uma falha transformante — onde as placas deslizam lateralmente uma sobre a outra, como ocorre na Califórnia.

“Estamos vendo o planeta se reorganizar em tempo real”, explica Shuck. “Essas falhas transformantes atuam como tesouras que cortam a crosta e criam novas fronteiras entre placas.”

E agora?

Compreender como e por que as zonas de subducção terminam ajuda a prever mudanças na atividade sísmica e vulcânica global.

Quando uma placa se desprende, as forças internas da Terra se redistribuem, o que pode alterar padrões de terremotos, vulcanismo e até a topografia da superfície.

O modelo proposto pelos cientistas mostra que a ruptura pode abrir uma “janela” no manto, permitindo a ascensão de magma quente — o que explicaria novos vulcões observados no oeste do Canadá.