Polícia
A ganância que mata: o assassinato de Renato Nery e a face sombria do poder econômico de um casal milionário
O assassinato do advogado Renato Nery, de 72 anos, foi um ato planejado com frieza, segundo a Polícia Civil, e motivado por algo ainda mais perigoso que a raiva: a ganância

Não foi por ódio pessoal. Não foi um impulso. Não foi descontrole. O assassinato do advogado Renato Nery, de 72 anos, foi um ato planejado com frieza, segundo a Polícia Civil, e motivado por algo ainda mais perigoso que a raiva: a ganância.
Na manhã de sexta-feira,09, o casal de empresários Cesar Jorge Sechi e Julinere Goulart Bastos foi preso em Primavera do Leste (243,3 KM de Cuiabá), acusado de serem os mandantes do crime. Eles são, segundo as investigações, os cérebros por trás de uma execução encomendada para remover um “obstáculo jurídico” em uma disputa por terras.
Ou seja: Renato foi morto por fazer seu trabalho. Por defender interesses que contrariavam os de gente com dinheiro, influência e ambição desmedida.
Negócios acima da vida
O caso escancara um retrato perturbador do Brasil profundo: onde o poder econômico compra tudo — inclusive sangue. A suspeita é de que o casal tenha financiado uma estrutura criminosa, que envolvia intermediários, policiais militares e um executor, para silenciar um advogado que, com sua trajetória respeitável, se recusava a ceder à pressão.
É a perversão completa da justiça: os que têm dinheiro para comprar armas e mentes matam os que usam a palavra, a lei e a razão como instrumentos de defesa.
Renato não era um desconhecido. Ex-presidente da OAB-MT, conselheiro federal da Ordem, referência no meio jurídico, ele representava exatamente aquilo que tantos tentam destruir: a resistência à barbárie, ao abuso, à ilegalidade disfarçada de “interesse empresarial”.
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Essa é a terceira vez que Cesar e Julinere são alvos das investigações — mas agora, diferentemente das tornozeleiras eletrônicas do passado, há prisão temporária e novas provas. É mais um capítulo da Operação Office Crimes – A Outra Face, que já prendeu sete suspeitos, incluindo cinco policiais militares.
A Polícia Civil afirma que o inquérito está em fase final. A expectativa é que a Justiça vá além da punição aos executores e alcance com firmeza os mandantes, os que realmente decidiram tirar uma vida para proteger hectares.
Porque não se trata apenas de resolver um crime. Trata-se de enviar um recado claro: riqueza não pode ser escudo para assassinato, e ambição não pode justificar brutalidade.

O silêncio de Renato não pode ser definitivo
Renato Nery caiu na porta do próprio escritório, alvejado covardemente. Mas sua morte não pode servir ao silêncio. Ao contrário: deve levantar perguntas duras e incômodas sobre como interesses fundiários e econômicos seguem fazendo vítimas no Brasil, especialmente quando colidem com quem insiste em defender a legalidade.
A prisão do casal é um passo importante. Mas justiça, para ser plena, precisa de resposta exemplar. Porque, se a ganância continuar sendo mais poderosa que a lei, ninguém estará seguro.