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China diz à UE que não aceita derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia

Segundo chanceler chinês, a vitória de Kiev permitiria que os EUA voltassem as atenções a Pequim

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 04/07/2025
China diz à UE que não aceita derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia
China diz à União Europeia que não aceita derrota da Rússia contra a Ucrânia | REUTERS

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse ao principal diplomata da UE (União Europeia) que Pequim não pode aceitar que a Rússia perca a guerra contra a Ucrânia, pois isso permitiria que os Estados Unidos voltassem toda a sua atenção para a China, segundo uma autoridade com conhecimento das conversas — contradizendo a posição pública de neutralidade de Pequim no conflito.

A declaração foi feita durante o que essa autoridade descreveu como uma reunião de quatro horas com a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, realizada na quarta-feira (2), em Bruxelas. O encontro “teve trocas difíceis, mas respeitosas, abordando uma ampla gama de temas, de cibersegurança e terras raras a desequilíbrios comerciais, Taiwan e Oriente Médio”.

Segundo essa autoridade, os comentários privados de Wang sugerem que Pequim talvez prefira uma guerra prolongada na Ucrânia, que impeça os Estados Unidos de se concentrarem na rivalidade com a China. Eles reforçam as preocupações de críticos da política chinesa, que afirmam que Pequim tem muito mais em jogo geopoliticamente no conflito ucraniano do que admite ao afirmar uma posição de neutralidade.

Na sexta-feira (4), durante uma coletiva regular do Ministério das Relações Exteriores da China, a porta-voz Mao Ning foi questionada sobre a conversa — que foi primeiramente noticiada pelo South China Morning Post — e reafirmou a posição de longa data de Pequim sobre a guerra que já dura três anos.

“A China não é parte envolvida na questão da Ucrânia”, disse Mao. “A posição da China sobre a crise na Ucrânia é objetiva e consistente, ou seja, negociação, cessar-fogo e paz. Uma crise prolongada na Ucrânia não serve aos interesses de ninguém.”

Ela acrescentou que a China deseja uma solução política o mais rápido possível: “Junto com a comunidade internacional e de acordo com a vontade das partes envolvidas, continuaremos desempenhando um papel construtivo nesse sentido.”

As declarações públicas da China sobre a guerra na Ucrânia, no entanto, escondem um cenário mais complexo.

Poucas semanas antes de a Rússia lançar sua invasão em grande escala da Ucrânia, o líder chinês Xi Jinping declarou uma parceria “sem limites” com Moscou e, desde então, os laços políticos e econômicos entre os dois países só se fortaleceram.

A China tem se apresentado como possível mediadora de paz, mas, como a CNN já reportou anteriormente, os riscos são altos para Pequim — especialmente o de perder um parceiro estratégico importante como a Rússia.

A China também tem rejeitado as crescentes acusações de que estaria oferecendo apoio quase militar à Rússia. A Ucrânia sancionou várias empresas chinesas por fornecerem componentes de drones e tecnologia utilizados pela Rússia na produção de mísseis.

Após um ataque recorde à capital ucraniana, Kiev, na sexta-feira, o vice-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, publicou imagens que ele afirmou serem fragmentos de um drone de combate Geran 2 lançado pela Rússia. Uma das fotos mostrava parte da suposta fuselagem do drone, com a inscrição de que o dispositivo foi fabricado na China em 20 de junho.

Sybiha acrescentou que, naquela noite, “o edifício do Consulado-Geral da China em Odesa sofreu danos leves como resultado dos ataques russos à cidade. Não há metáfora melhor para mostrar como Putin continua a escalar sua guerra e seu terror, envolvendo outros, incluindo tropas norte-coreanas, armas iranianas e alguns fabricantes chineses. A segurança na Europa, no Oriente Médio e na região Indo-Pacífica está inextricavelmente conectada.”

Neste ano, também surgiram acusações de que cidadãos chineses estariam lutando ao lado da Rússia na Ucrânia. Pequim negou qualquer envolvimento e repetiu apelos anteriores para que seus cidadãos “se abstenham de participar de ações militares de qualquer das partes.”