Política

Operação Fraude: Justiça derruba prefeito de Brasnorte por esquema criminoso de compra de votos com frangos e dinheiro

Eles foram apontados como beneficiários diretos de um esquema articulado para comprar votos de indígenas da etnia Enawenê-Nawê

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA 02/07/2025
Operação Fraude: Justiça derruba prefeito de Brasnorte por esquema criminoso de compra de votos com frangos e dinheiro
A Justiça Eleitoral de Mato Grosso cassou os mandatos do prefeito de Brasnorte, a 587 km de Cuiabá, Edelo Ferrari (União Brasil), da vice-prefeita Roseli Gonçalves e do vereador Gilmar Celso Gonçalves | Divulgação

Uma investigação digna de operação policial desmantelou o que a Justiça Eleitoral classificou como “organização criminosa voltada à corrupção eleitoral em larga escala”, que contaminou o resultado das eleições de 2024 em Brasnorte(587,7 KM de Cuiabá).

O juiz Romeu da Cunha Gomes determinou, na terça-feira,02, a cassação imediata dos mandatos do prefeito Edelo Marcelo Ferrari (União Brasil), da vice-prefeita Roseli Borges de Araújo Gonçalves e do vereador Gilmar Celso Gonçalves.

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Eles foram apontados como beneficiários diretos de um esquema articulado para comprar votos de indígenas da etnia Enawenê-Nawê com dinheiro vivo, promessas de favores, transporte ilegal e até distribuição de carne congelada.

As provas reunidas na ação judicial revelam práticas típicas de quadrilha organizada, incluindo:

Transferências bancárias suspeitas superiores a R$ 200 mil feitas por Rogério Gonçalves, servidor municipal ligado ao grupo político.

Financiamento clandestino de ônibus e carros para transportar cerca de 100 eleitores indígenas, apesar de expressa proibição da Justiça.

Entrega de frangos congelados e abastecimento de combustível como moeda de troca pelo voto.

Pressão psicológica e coação sobre comunidades indígenas vulneráveis.

Segundo o processo, parte do transporte foi interceptada pelo Exército Brasileiro na véspera da votação. Ainda assim, veículos particulares foram usados clandestinamente para garantir que os indígenas comparecessem às urnas.

A chapa venceu com uma margem apertada de 155 votos, enquanto a abstenção nas seções indígenas foi menos da metade da média geral. “Não há dúvida de que o abuso de poder econômico foi decisivo para corromper a normalidade democrática”, afirmou o magistrado.

Apesar de não terem sido flagrados pessoalmente distribuindo dinheiro ou frangos, Edelo e Roseli foram considerados beneficiários do crime eleitoral, o que levou à cassação dos diplomas. No entanto, eles não foram declarados inelegíveis por ausência de provas de participação dolosa direta.

Por outro lado, Gilmar Gonçalves, Rogério Gonçalves, Alexandre Augusto Gonçalves, Junior Gonçalves e João Gomes da Silva Júnior foram declarados inelegíveis por oito anos e receberam a multa máxima de R$ 53.205 cada por captação ilícita de sufrágio.

O juiz classificou as ações como “violação grave ao regime democrático e atentado à legitimidade do voto popular”.

Em nota nas redes sociais, o prefeito cassado afirmou que vai recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral e negou participação no esquema, apesar das evidências bancárias e testemunhais.

O TRE-MT deverá convocar novas eleições para prefeito e vice-prefeito de Brasnorte e recontar os votos para vereador, já que os sufrágios recebidos por Gilmar foram anulados.