O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública evidenciou novamente a situação crítica da violência em Mato Grosso. De acordo com o estudo, o estado registrou 47 feminicídios em 2024 – uma taxa de 2,5 crimes por 100 mil habitantes – e manteve-se, pelo segundo ano consecutivo, na liderança nacional desse indicador.

O número absoluto de vítimas, embora pareça pequeno comparado à população, coloca Mato Grosso à frente de todas as demais unidades federativas num crime que retrata a violência de gênero.

O cenário atual permanece alarmante. Levantamento do Observatório Caliandra, ligado ao Ministério Público estadual, revela que entre janeiro e julho de 2025 o estado já contabilizava 30 feminicídios, equivalentes a 63,8 % de todo o ano passado. Os dados mostram também que, em 2024, oito crimes terminaram com o suicídio do agressor. Em contrapartida, houve redução nas mortes de mulheres que tinham medidas protetivas: de oito casos em 2023 para apenas um em 2024.

Além dos feminicídios, Mato Grosso aparece na sétima posição entre os estados mais letais do país. Em 2024, foram 1 142 Mortes Violentas Intencionais (MVIs), o que equivale a uma taxa de 29,8 ocorrências por 100 mil habitantes. O Anuário destaca que 902 dessas mortes foram homicídios dolosos e outras 214 resultaram de intervenções policiais da estatística elevada, a taxa representou leve diminuição em relação a 2023.

Em contraste com o alto índice estadual, a capital Cuiabá figura entre as capitais com menor letalidade. Em 2024, a cidade registrou 14,5 mortes violentas por 100 mil habitantes, atrás apenas de São Paulo, Distrito Federal e Florianópolis. No ranking nacional de cidades com mais de 100 mil habitantes, no entanto, um município mato‑grossense chama atenção negativamente: Sorriso, no norte do estado. A cidade aparece em 13º lugar, com 59,7 mortes violentas por 100 mil habitantes. O relatório atribui parte da alta letalidade à disputa de facções e destaca que os dez municípios mais violentos são dominados por cidades do Nordeste, mas Sorriso destoa da média nacional.

Sorriso também apresenta uma das maiores taxas de crimes sexuais do país. O Anuário indica que o município ocupa a segunda posição nacional em casos de estupro e estupro de vulnerável por 100 mil habitantes, evidenciando que a violência de gênero vai além dos feminicídios.

Os dados apontam a necessidade de políticas públicas integradas, tanto para prevenir assassinatos de mulheres quanto para reduzir a violência letal geral. Organizações de direitos humanos reforçam que, embora a taxa de MVI do Brasil tenha recuado para 20,8 por 100 mil habitantes, menor nível desde 2012, a violência de gênero bateu novo recorde nacional com 1 492 feminicídios. Em Mato Grosso, a repetição no topo do ranking e a presença de Sorriso entre as cidades mais violentas mostram que a criminalidade não está distribuída de forma homogênea e exigem ações específicas em diferentes níveis de governo.