Política

Veja Documentos: Ligações perigosas na Unimed; os pagamentos, as denúncias e os amigos...

O abismo entre a retórica e a prática na gestão de um modo geral é constante

DA REPORTAGEM 09/06/2024
Veja Documentos: Ligações perigosas na Unimed; os pagamentos, as denúncias e os amigos...
‘Rombo’ de R$ 400,7 milhões. Essa é a conta que os cooperados terão que pagar | Unimed Cuiabá

A inversão de valores, os apadrinhamentos políticos e as más escolhas de amigos próximos e assessores são práticas arraigadas à política, órgãos públicos e entidades, embora em todas as campanhas os novos mandatários jurem que, se eleitos, formarão as equipes de auxiliares pelo perfil estritamente técnicos e sem nenhuma mácula e/ou denúncias.

Pura ilusão. 

O presidente eleito da Unimed Cuiabá, Carlos Bouret, por exemplo, em pleno curso da campanha para presidir a Cooperativa dos Médicos de Cuiabá, cunhou expressões relacionadas à fórmula ‘empresarial’ ou ao potencial produtivo de técnicos na composição do seu ‘staff’. 

E alardeava que exigiria que esse princípio fosse seguido de cima para baixo, porque a incompetência, despreparo, máculas e inaptidão são propriedades que nada têm a ver com política administrativa de bons resultados.

O abismo entre a retórica e a prática na gestão de um modo geral é constante.

Por aqui, isso ficou muito visível no dia 20 de Dezembro de 2007 e curiosamente interessante e que vem incomodando a atual diretoria da Unimed Cuiabá, deve render ainda muito barulho e, quem sabe, fazer o presidente da Unimed voltar atrás de um ato que, no mínimo, está sendo considerado como “um grande equívoco” pelos cooperados: manter na atual coordenadoria financeira da Unimed o financista Paulo Ricardo Brustolin da Silva.

Uma denúncia feita por Cleber Fernando de Figueiredo Dias, ao qual o Página 12 teve acesso através de documentos públicos, mostra que Paulo Ricardo não se ateve a ética e retidão e procurou em 2007 o escritório de advocacia Spadoni e Jaudy para que os mesmos emitissem duas notas fiscais em favor da Unimed Cuiabá.

Uma no valor de R$ 112.777,72 mil e outra no valor de R$ 226.0006,54 mil.

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As duas notas fiscais, que na época eram físicas, e cujo os números eram 29 e 30 foram emitidas como serviços prestados pelo escritório de advocacia, em Cuiabá, e que segundo o Cleber, nunca foram realizados.

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Brustolin, na época era o coordenador financeiro da Unimed e – ainda conforme a denúncia de Cleber - reuniu-se, no escritório dos advogados, Joaquim Felipe Spadoni e Jorge Luiz Miraglia Jaudy. A reunião foi presenciada pelo denunciante, Cleber Fernando de Figueiredo Dias e que, na época, era o financeiro do escritório.

Midia News
Brustolin teria mandado pagar duas notas. Uma no valor de R$ 112.777,72 mil e outra no valor de R$ 226.0006,54 mil/Midia News

Cleber teria recebido a ordem para que fosse confeccionados notas fiscais, mesmo sem o escritório de advocacia ter prestado serviços profissionais.

Além dessas duas notas, o escritório teria recebido, conforme Cleber, outro valor ‘estratosférico’ no valor de R$ 100 mil, e emitida no dia 31/07/2010, de número 236.

Tais acusações contra os advogados e o atual coordenador financeiro da Unimed, consta em uma escritura pública outorgada pelo próprio Cleber no cartório do 6º ofício de Cuiabá.

Na escritura Cleber – confirma – que tais valores nunca foram recebidos pelo escritório e que seriam destinadas a uma terceira pessoa que receberia na própria Unimed.

De acordo com Cleber, todos os serviços realizados pelo escritório eram feitos em transferência bancária.

Ele disse ainda que os verdadeiros proprietários do escritório eram os advogados Margarete da Graça Blanck Miguel Spadoni e Mário Eduardo Marquardt.

O Página 12 teve acesso aos outros documentos e, em 2023, Cleber fez uma outra escritura pública em que desmente - totalmente - as referidas denúncias feitas, anteriormente, através de procuração pública.

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Ele diz que trabalhou por sete anos para o escritório Spadoni Jaudy e Joaquim Felipe Spadoni, e que só tinha feito as denúncias – anteriormente - por desentendimento trabalhista com os advogados.

Além de que, em Nota de Esclarecimento, e juntada aos autos, o escritório Spadoni Jaudy Advogados diz que prestou serviços para a cooperativa, nega qualquer ilícito cometido e diz que a denúncia foi integralmente elaborada pela advogada Jaqueline Larréa, que trabalhou na assessoria jurídica da Unimed na gestão do ex-presidente, Rubens Carlos de Oliveira Júnior.

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Ex-presidente Rubens de Oliveira, teria mandado pagar R$ 30 mil para o denunciante, Cleber Figueiredo

Na Nota, os advogados acusam ainda a gestão do ex-presidente Rubens de Oliveira, de ter pago R$ 30 mil para o denunciante, Cleber Figueiredo. E o fato estranho, segundo os advogados, e que a denúncia foi feita no mesmo período do pagamento, na cooperativa.

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Eles – afirmam – também que Cléber nunca prestou qualquer serviço e recebeu R$ 30 mil da cooperativa.

Eles acusaram ainda a então advogada da Unimed de Cuiabá, Jaqueline Larrea, de ameaça.

Já Cleber, afirmou na segunda procuração, que a advogada Jaqueline Larea teria – conjuntamente – com um homem que se dizia coronel, ter lhe forçado a assinar uma declaração reconhecendo como verdadeiras, os recebimentos e as notas ficais feitas pelo ex-secretário de advocacia Spadoni Jaudy, na qual trabalhava.

O ex-presidente da Unimed, Rubens de Oliveira - citado da denúncia - e a ex-diretora administrativa-financeira na sua gestão, a médica, Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma, foram expulsos da cooperativa. A decisão ocorreu – em assembleia geral dos cooperados – ocorrida o último dia 19 de maio.

Rubens e acusado pelos cooperados de ‘maquiar’ o balanço contábil da Unimed. Ele diz que deixou em caixa, um resultado líquido positivo de R$ 371 milhões. O que é rechaçado pelos cooperados.

Segundo os cooperados, a inconsistência no balanço contábil do ano de 2022 e a apresentação do resultado da auditoria independente PP&C Auditores Independentes, apontou um ‘rombo’ de R$ 400,7 milhões. Conta que os cooperados terão que pagar.

Acusada formalmente por Cléber, a advogada, Jaqueline Larrea, interpelou criminal e civilmente o denunciante.

A reportagem teve acesso a todos os documentos e aos processos do imbróglio jurídico.

Mesmo protocolizado na justiça, a advogada Jaqueline Larrea, desistiu da ação civil e a criminal terá audiência ainda no mês de junho.

O financeiro Brustolin atua há mais de 15 anos na Unimed, nas áreas de administração e financeira. Ele estava – desde 2021 – fora dos quadros da Cooperativa.

Até ai tudo bem!

Se não fosse o fato que ele foi denunciado pelo financista, Cleber Figueiredo Dias, por fazer ações nadas republicanas na Unimed.

Ele é um sujeito de muitos talentos.

Foi secretário de Fazenda de Mato Grosso, na gestão do ex-governador Pedro Taques, e diretor nacional do Plano de saúde Sulamérica.

Na Sefaz surgiu escândalo tão logo ele assumiu a gestão.

Ele foi denunciado pelo empresário Alan Malouf, que apontou suposta participação dele em ‘esquema’ de recebimento de propina.

Malouf acusou Brustolin de ser beneficiário de complementação salarial, supostamente espúria, paga pelo grupo de amigos e empresários (Alan Malouf, Marcelo Maluf, Erivelton Gasques e Juliano Haddad).

Eles teriam resolvido assumir essas despesas com o aval de Taques, a título de empréstimo.

Brustolin teria recebido R$ 500 mil para assumir o cargo e R$ 80 mil mensais no período de janeiro a dezembro de 2015.

Ele sempre negou e conseguiu em maio do ano passado ‘trancar’ o inquérito contra ele. A decisão foi determinada pelo juiz da 51ª Zona eleitoral de Cuiabá, Francisco Alexandre Ferreira Mendes Neto.

Brustolin diz que não compactou com nenhum ilícito do passado, apesar de ser sido acusado por Cléber de ter ligações irrestritas com os advogados citados alhures.

Na verdade, de tão estranhas ou mal contadas, existem histórias que, aparentemente, só eles são capazes de produzir - e que, de tão singulares, eles também se complicam muito na hora de explicar. Então como justificar as notas com valores estratosféricos de mais R$ 333 mil para a Unimed Cuiabá e que a cooperativa não explicou até hoje.