Política

À PF, Cid nega ter criado perfil e troca de mensagens com advogado de réu

A oitiva ocorreu na terça-feira (24), na sede da PF, em Brasília, no âmbito do inquérito que apura obstrução das investigações no STF

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 26/06/2025
À PF, Cid nega ter criado perfil e troca de mensagens com advogado de réu
O tenente-coronel Mauro Cid negou, em novo depoimento à PF (Polícia Federal), ter trocado mensagens com o advogado Eduardo Kuntz nos primeiros meses de 2024 | CNN

O tenente-coronel Mauro Cid negou, em novo depoimento à PF (Polícia Federal), ter trocado mensagens com o advogado Eduardo Kuntz nos primeiros meses de 2024. O militar prestou esclarecimentos no âmbito de inquérito de obstrução de investigação no STF (Supremo Tribunal Federal).

Cid disse, na terça-feira (24), ao delegado responsável por conduzir a apuração, que não criou o perfil "Gabrielar702" no Instagram, que não sabe quem teria criado a conta e que não realizou contato com Kuntz no período em que o advogado afirmou ter mantido conversas com o militar.

O ex-ajudante de ordens também negou ter encaminhado uma foto sua para o advogado por meio do perfil de Instagram. A foto foi enviada, segundo Kuntz argumentou ao STF, como prova de que ele conversava com Cid pela rede social.

O tenente-coronel afirmou ainda que não conversou com o advogado sobre o conteúdo e nem sobre a legalidade do seu acordo de colaboração por nenhum meio. De acordo com Cid, em nenhum momento ele conversou com Kuntz sobre a possibilidade de trocar sua defesa técnica no STF.

Cid explicou ao delegado da PF que não possui relação de amizade com o advogado e que conheceu Kuntz no primeiro semestre de 2023, quando ele ainda era advogado do ex-presidente.

O militar disse que o advogado e Fábio Wajngarten, que integrou a defesa do ex-presidente, o visitaram na prisão em maio de 2023 e que se recorda de um encontro “fortuito” com Kuntz na hípica de Brasília em fevereiro do ano passado.

Cid afirmou que, ao analisar o telefone celular de sua filha mais nova, identificou que Kuntz e Wajngarten estavam mantendo contato constante com ela por meio do WhatsApp e do Instagram. As conversas, de acordo com Cid, duraram de agosto de 2023 até o primeiro semestre de 2024.

O celular da filha do militar foi entregue à PF para que os dados sejam extraídos e o aparelho, periciado.

“Que ao analisar o conteúdo das conversas percebeu que os dois advogados estavam tentando se aproximar do declarante [Cid], por meio de sua filha menor”, diz o depoimento de Cid. "Que Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz utilizou como artifício para se aproximar de sua filha assuntos relacionados a atividade de hipismo, pelo fato de ser atleta de tal modalidade."

O militar confirmou à PF que Kuntz procurou sua mãe e sua filha mais nova para tratar de assuntos da investigação. Segundo Cid, as tentativas de contato foram constantes desde o segundo semestre de 2023 até o início de 2024.

“Que as iniciativas dos contatos partiram sempre do advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz. Que os contatos com a filha do declarante foram feitos sempre por meio dos aplicativos WhatsApp e Instagram”, diz o depoimento.Cid contou que o contato com sua mãe foi feito pessoalmente, em pelo menos três oportunidades, na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo, quando a avó acompanhava a neta em competição.

Segundo o militar, em uma das abordagens estava também presente o advogado Paulo Bueno, que integra a equipe de defesa de Bolsonaro no STF. A informação foi confirmada pela mãe do militar em declaração apresentada por escrito à PF.

Cid disse que tomou ciência dos constantes contatos de Kuntz com sua filha somente quando a revista Veja publicou a matéria envolvendo o perfil do Instagram no dia 17 de junho. O militar afirmou não ver motivos para que o advogado, com quem não tem relação próxima, mantenha contato constante com sua filha.

"Que acredita que Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz estabeleceu esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado pelo declarante [Cid] e com isso, obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade", mostra o depoimento.

O militar afirmou à PF que Wajngarten realizou contatos com sua esposa e com sua filha menor. Cid diz que os contatos de Wajngarten com sua esposa e sua filha foram realizados por meio do WhatsApp entre agosto e setembro de 2023, período em que a delação com a PF foi firmada.

O ex-ajudante de ordens disse que Fábio Wajngarten tentou convencer sua esposa a trocar os advogados que o defendiam por meio de "várias ligações”. A esposa de Cid atestou a veracidade do depoimento do marido por meio de uma declaração escrita apresentada à PF em que descreve as abordagens.

“Que, assim como Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz, acredita que Fábio Wajngarten realizou esses contatos para obter informações do acordo de colaboração firmado pelo declarante [Cid], como forma de interferir nas investigações em andamento”, diz.

À PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro justificou que os áudios que constam na mensagem podem ter sido gravados sem seu conhecimento e autorizado e repassado ao advogado Eduardo Kuntz. Cid disse ainda que os áudios divulgados pela revista "Veja" estão "editados e recortados".

Ao negar que tenha mandado uma foto a Kuntz, o tenente-coronel disse acreditar que "tenha sido algum arquivo vazado e que foi usado para compor a imagem apresentada pelo advogado de Marcelo Câmara”.

Cid declarou à PF que jamais foi procurado diretamente pelo coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, para saber sobre a delação - e que não sabe dizer se outras pessoas, no caso advogados, o fizeram por pedido de Câmara.

Ex-assessor volta à prisão

Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva de Marcelo Câmara por tentativa de obstruir a investigação sobre o golpe de Estado, depois de seu advogado Eduardo Kuntz ter afirmado ao STF ter sido o interlocutor de Cid nas supostas mensagens.

Moraes também decidiu instaurar um inquérito contra Câmara e seu advogado que informou ter conversado com o tenente-coronel Mauro Cid sobre o seu acordo de delação. O ministro também terminou que Kuntz seja ouvido pela PF.

Na quarta-feira (25), em nova decisão, Moraes disse haver possíveis indícios de que advogados de Jair Bolsonaro (PL) também tenham tentado obstruir a investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado.

Ele determinou que Fábio Wajngarten, que deixou a defesa em julho do ano passado, e Paulo Cunha Bueno sejam ouvidos pela Polícia Federal (PF) em até cinco dias.

A medida foi tomada depois que a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do esquema, entregou uma série de documentos à PF.