Brasil
Polícia Federal vai investigar caso de pacientes que receberam órgãos com HIV, diz governo
Pacientes, que acabaram infectados pelo vírus, estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Caso é considerado inédito por especialistas no país
A Polícia Federal vai investigar o caso de seis pacientes no Rio de Janeiro que receberam transplante de órgãos contaminados com o vírus do HIV. A informação da investigação da PF é do Ministério da Justiça.
Esses pacientes estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). Os órgãos infectados pelo HIV partiram de de 2 doadores. Agora, os seis pacientes testaram positivo para o vírus.
A notícia foi dada pela BandNews FM nesta sexta-feira (11). À TV Globo e ao g1, a Secretaria confirmou as informações e que investiga o caso. O incidente também é apurado por Ministério da Saúde, Ministério Público do RJ (MPRJ), Polícia Civil e Conselho Regional de Medicina (Cremerj).
O caso é considerado inédito por especialistas no país.
Diretor diz que gestão da Central de Transplantes não foi consultada sobre contratação de laboratório investigado após testes positivos de HIV
O Sistema Nacional de Transplante tem critérios rigorosos para o rastreio de doadores de órgãos, que seguem portarias estabelecidas em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Todos os órgãos doadores devem passar por testes de sorologia para HIV, hepatite B, hepatite C, HTLV e outras infecções.
Além disso, o rastreio leva em conta o contexto geográfico. Por exemplo, a doença de Chagas é investigada na América Latina, mas não na Europa ou nos Estados Unidos. Já os testes para HIV, hepatite B e hepatite C são obrigatórios, e no Brasil, não se aceita um doador HIV positivo para transplante.
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, classificou de "situação gravíssima" o transplante com órgão contaminados.
"Situação gravíssima que põe em risco a confiança de quem já está numa condição de saúde tão delicada, precisando de um transplante, o que por si só já é uma grande preocupação. Agora, esse evento só aumenta ainda mais a aflição do paciente", afirmou Barra Torres.
Laboratório investigado
O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), investigado como o responsável pela infecção por HIV de seis pacientes transplantados, tem como um dos sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira. Ele é primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados.
Outro sócio do laboratório é Walter Vieira, casado com a tia de Luizinho. Os dois chegaram fazer campanha para Doutor Luizinho em eleições passadas.
Embora tenha deixado o cargo, Doutor Luizinho era secretário durante o processo de contratação e manteve sua influência na pasta, segundo fontes do governo. A irmã dele, Débora Lúcia Teixeira, trabalha na Fundação Saúde, empresa pública do estado que assina o contrato com o laboratório.
O deputado foi secretário de Saúde de janeiro a setembro de 2023. Entre 2022 e 2024, o laboratório recebeu quase R$ 20 milhões em pagamentos, de acordo com dados do Portal da Transparência.
- 2022: R$ 296.895,46
- 2023: R$ 3.261.726,89
- 2024: R$ 16.114.183,89
Total: R$ 19,6 milhões
Os primeiros pagamentos foram feitos em agosto de 2022, para análises laboratoriais em UPAs, como Bangu, Campo Grande e Realengo. Na época, não havia um contrato sequer. A empresa recebia da Fundação Saúde por meio de termos de ajuste de contas, ou TACs.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), o TAC é um instrumento pelo qual a administração pública reconhece a prestação de serviços sem o devido contrato. A modalidade tem caráter excepcionalíssimo e a utilização não pode ser banalizada.